Nelson Rodrigues durante a década de 50 começou a escrever colunas para o jornal “A Última Hora” contando histórias banais com elementos da vida real. Essas histórias causavam espanto e surpresa pelos seus desfechos dramáticos. As crônicas fizeram tanto sucesso que inspiraram filmes e até uma série no Fantástico durante a década de 90.
O Botafogo de 2023 flertou com toda forma de se entregar ao pecado nesse 2º semestre. Um campeonato que na rodada 1 era sonho, na 20 se tornou obrigação. E o clube não soube lidar com suas obrigações. Fez de tudo e mais um pouco para se envolver com o(a) ex: o amadorismo. Como um personagem de Nelson Rodrigues, se perdeu lidando com as situações que foram aparecendo no caminho.
O Campeonato Brasileiro é de negociação de pontos. Aqui 75pts sempre foram suficientes para o título, e serão de novo. No brasileirão a troca de pontos é constante, os últimos ganham do 1º em toda santa edição. O que o Botafogo fez no 1º turno foi o suficiente para no 2º fazer uma campanha de meio de tabela, como o São Paulo que não tem mais nada para fazer esse ano e ganha uma, perde outra, empata duas e depois vence de novo. Isso seria mais que o suficiente para já estarmos encomendando faixas. Porém, estamos fazendo uma campanha de rebaixados durante 2º turno. Uma série de vexames que nem Nelson em seus dias mais criativos iria imaginar.
O Botafogo com a faca e o queijo na mão se rendeu ao desejo, não a razão. Quando tudo conspirava a favor, se autossabotava: troca de técnicos, apagões, fantasma do passado voltando a ser solução, falta de blindagem e amadorismo. Amadorismo! A SAF teve alguns avanços importantes esse ano e continua sendo a melhor solução para quem estava no leito de morte. Porém, entretanto, todavia, o 2º semestre deixa o gosto de amadorismo em muitas decisões tomadas, ao contrário de como finalizou 2022. Precisa ter uma avaliação interna rígida do porque de quem precisava de tão pouco até agora não conseguiu nada. E essa avaliação precisa vir de cima para baixo, pois faltou comando, força e discernimento de todos que estão na cúpula das decisões. A torcida tem todo o direito de sugerir arroz com feijão, bife com fritas, filé a cavalo, feijoada, o prato que for… Viramos SAF para termos os “masterchef” e eles saberem e decidirem qual o prato precisa ser servido em cada ocasião. O Botafogo precisava só ir colocando pontos no bolso e naturalmente chegar no objetivo que se tornou o título. Não houve um jogo em que a obrigação de vitória não fosse do adversário, a vantagem era nossa – o problema deles. Um time resiliente que não tomava gols acabou derretendo tática e mentalmente.
Como as crônicas de Nelson Rodrigues, o Botafogo continua sendo dono do seu próprio destino após flertar com todo o tipo de adultério. Como as crônicas de Nelson Rodrigues, o personagem principal perdeu toda a confiança em si, mesmo com a faca e o queijo na mão. Hoje contra o Bragantino, nem a esposa fiel que acredita em toda a história contada pelo marido cafajeste consegue ter 100% de confiança. Confiança no nosso caso se ganha em campo.
A vida como ela é…