Em 1889, ao escrever sobre a proclamação da República, Aristides Lobo contou que “o povo assistiu àquilo bestializado”. Ou seja: surpreso, atônito, querendo entender o que estava acontecendo. Nesta segunda-feira, foi isso que ocorreu às 19h nos arredores do Nilton Santos ao sair a escalação do Botafogo sem Tiquinho Soares, craque do campeonato.
Ontem, como de costume, cheguei mais cedo e fui rever amigos alvinegros ali pela Oeste, onde sempre nos encontramos. As pessoas foram chegando e por volta de 18h30 vem o primeiro sinal:
– Tão falando que o Lage vai tirar o Tiquinho e colocar o Diego Costa.
– Impossível! – todos exclamaram.
Ninguém acreditava no que ouvia. Até porque não é praxe vazar escalação. O assunto era tão delicado que todos ficaram atentos ao celular quando o relógio apontou 19h, momento que o Botafogo divulga a escalação antes do jogo. E, meus amigos, não deu outra: o homem estava no banco. Todos sem saber o que falar, já criando todas as teorias possíveis. E, para piorar, como um filme de orçamento baixo em Hollywood, começou a chover torrencialmente no mesmo momento. Um roteiro tão ruim que parecia “pegadinha”. E não era.
Ao barrar Tiquinho, Bruno Lage conseguiu tirar também o 12º jogador: a torcida. Uma hora antes do jogo conseguiram fazer a torcida do Botafogo ficar sem rumo. E como um cão perdido, a sensação de que todos queriam apenas se escorar em algum canto para ver o que aconteceria durante a partida. Não faltou apoio, não faltou sangue nos olhos de quem estava na arquibancada, mas faltou Tiquinho na hora do hino. Faltou a alma do time. E a torcida sente, não é boba. Era um clima de tensão que lembrou o jogo contra o Magallanes, saída do Castro. A situação foi estranha até para Diego Costa, que é excelente jogador, mas não é o craque do campeonato.
“Só banca par de dois quem tem cacife”. Bruno Lage não tinha cacife para bancar essa aposta. Mesmo que o Tiquinho não estivesse bem ainda, 100%, etc… O campo precisava “gritar” como, por exemplo, o antecessor deixava o campo falando que o Tchê Tchê não estava bem de primeiro homem do meio. E quando ele não fez isso contra a Portuguesa da Ilha em que inventou na escalação após uma sequência péssima, houve um choque de gestão para arrumar a casa. Certas coisas precisam ser feitas às claras. Mesmo que o Tiquinho não estivesse em suas melhores condições, isso não poderia ser feito de supetão uma hora antes do jogo.
Ontem o povo alvinegro assistiu àquilo “bestializado”.