O primeiro clássico do ano reservou emoções distintas para o torcedor alvinegro. Com um sistema tático diferente, o Botafogo saiu na frente no Nilton Santos, mas viu o Fluminense crescer no jogo e virar a partida no segundo tempo. A derrota por 2 a 1 foi a primeira da temporada e jogou luz nas muitas carências técnicas do elenco alvinegro.
O Botafogo voltou a campo apenas três dias depois da partida contra o Nova Iguaçu, quando venceu sem apresentar um bom futebol. Atento ao desempenho da equipe e em busca de soluções dentro do elenco, Enderson Moreira mexeu na estrutura do time e trocou o 4-2-3-1 pelo 4-4-2 para enfrentar o Tricolor. E foram muitas alterações na escalação. O capitão Joel Carli voltou à zaga depois de cumprir suspensão. Hugo substituiu Jonathan Silva na lateral-esquerda. O volante Barreto estreou como titular na temporada, entrando no lugar de Breno. Na meia-direita, mais uma vez Luiz Fernando teve a oportunidade de mostrar serviço e ganhar sequência. E no ataque, talvez, a mudança mais aguardada, com a entrada de Erison para formar uma dupla com Matheus Nascimento.
As saídas de jogadores mais baixos e franzinos, como Jonathan, Ronald e Raí, indicou o desejo do treinador por um time fisicamente mais forte para ser competitivo diante do rival. A opção por uma dupla de ataque, com o constante apoio de Diego Gonçalves, também foi ajuste para enfrentar um adversário com três zagueiros e evitar o isolamento de Matheus Nascimento, como ocorreu em jogos anteriores. Na direita, Luiz Fernando e Daniel Borges apoiaram bastante, explorando o espaço às costas do ala tricolor.
Para um dos principais problemas da equipe neste começo de temporada, a criação e o controle do jogo no setor de meio-campo, Enderson parece não ter opções no elenco para corrigir. A entrada de Barreto não solucionou a falta de apoio dos volantes na construção ofensiva do Glorioso. Fabinho subiu ao ataque com consistência, mas, por suas características, contribuiu com ultrapassagens e presença na área para finalizar. Falta na composição do grupo alvinegro um volante com visão de jogo e qualidade de passe para apoiar o ataque.
O Fluminense teve mais posse de bola (66% no primeiro tempo), mas encontrou muita dificuldade para encontrar espaços no campo ofensivo na primeira meia hora de jogo. Compacto atrás, o Botafogo encontrou em Erison e Matheus Nascimento duas boas peças para começar os contra-ataques. Com força e capacidade de girar sobre a marcação, a dupla de ataque foi fundamental para o funcionamento do jogo direto que permitiu a saída da equipe em transição rápida. Em um contra-ataque, Diego Gonçalves teve a primeira chance de gol aos seis minutos de jogo. O adversário teve em Luis Henrique a única alternativa de velocidade capaz de desequilibrar o sistema defensivo alvinegro. Os principais ataques tricolores surgiram de cruzamentos e da insegurança que a defesa do Botafogo vem apresentando nesse tipo de jogada.
O Glorioso abriu o placar após o retorno da parada técnica, aos 21 minutos. Cruzamento de Daniel Borges e cabeçada de Kanu para vencer o goleiro Marcos Felipe. Quarta assistência do lateral em 2022, líder na estatística do campeonato. O zagueiro tomou gosto pelo gol e marcou o seu segundo no Cariocão. Só depois de sofrer o gol o Fluminense aumentou a pressão e obrigou Gatito a trabalhar com frequência. O Botafogo perdeu o encaixe e a pressão no sistema defensivo e passou a permitir as chegadas perigosas do adversário. O time terminou o primeiro tempo com apenas duas finalizações e 71 passes trocados, contra apenas seis finalizações e 246 passes tricolores. Apesar de jogar a maior parte do tempo se defendendo, o Alvinegro não conseguiu um número significativo de desarmes (7) devido à queda de intensidade na metade final da primeira etapa.
No retorno do intervalo, Enderson não promoveu qualquer mudança na equipe, enquanto Abel Braga mexeu duas vezes pensando em dar mais mobilidade e velocidade ao seu ataque. O Fluminense cresceu no jogo e passou a dominar a partida. O Botafogo, que teve um aproveitamento de 84% nos passes no primeiro tempo, viu esse número cair para 79% nos primeiros 20 minutos do segundo tempo. Sem acertar passes, com Luiz Fernando e Diego Gonçalves mais comprometidos com a defesa que com o ataque, a equipe não conseguiu articular nenhuma jogada ofensiva.
E os erros de posicionamento no sistema defensivo em jogadas de bola cruzadas na área voltaram a cobrar o seu preço. Aos oito minutos, em jogada de escanteio, Willian aproveitou bate-rebate na área e, livre na pequena área, empatou o jogo. Dez minutos depois, novo escanteio e Luccas Claro subiu sem marcação para virar o jogo. A dificuldade da defesa alvinegra nos cruzamentos vem sendo apontada com frequência neste início de temporada e prejudicou muito o time no primeiro duelo do ano contra um adversário mais qualificado.
Só depois de sofrer os dois gols, Enderson Moreira mexeu no time. A escolha pelas entradas de Jonathan, Vitinho e Raí para mudar o jogo evidenciam a necessidade dos tão aguardados reforços. O treinador colocou o time novamente no 4-2-3-1 buscando amplitude para voltar a conseguir jogar pelas laterais. Entraram também Breno e Gabriel Conceição. Com o adversário retraído, procurando jogar em contra-ataque, o Botafogo teve muita posse de bola nos minutos finais de jogo, mas não houve ideias, movimentações ou capacidade técnica para transformar a posse em jogadas de gol. Sem criar qualquer oportunidade de gol no segundo tempo, a equipe não incomodou o goleiro adversário e terminou com uma única finalização na etapa final.
O primeiro clássico do ano foi o segundo de uma sequência cansativa de cinco jogos em 16 dias na qual o Botafogo vai enfrentar todos os rivais, contando ainda com uma viagem longa nesse período. Já no próximo domingo, às 20h, o Glorioso enfrenta o Vasco no Castelão, em São Luís (MA).
Números do jogo: (Footstats)
Posse de bola – BOT 42% x 58% FLU
Passes certos – BOT 211 (87%) x 377 (89%) FLU
Finalizações – BOT 3 (1 no gol) x 17 (7) FLU
Assistências para finalização – BOT 1 x 12 FLU
Desarmes – BOT 11 x 13 FLU
Interceptações – BOT 7 x 0 FLU
Cruzamentos – BOT 3/17 (18%) x 6/28 (21%) FLU
Lançamentos – BOT 14/41 (34%) x 6/21 (29%) FLU
Viradas de jogo – BOT 1 x 4 FLU
Dribles – BOT 8/10 (80%) x 3/3 (100%) FLU
Perdas de posse de bola – BOT 27 x 18 FLU
Faltas – BOT 13 x 17 FLU