Depois das derrotas nos clássicos e do empate dramático na estreia na Copa do Brasil-2023, o Botafogo precisava não apenas vencer o lanterna do Campeonato Carioca, mas também convencer com um desempenho dominante. Não foi exatamente o que aconteceu no Estádio Kleber Andrade, no Espírito Santo. A vitória por 2 a 0 sobre o Resende provocou sentimentos conflitantes no torcedor; da aflição pela atuação terrível do primeiro tempo ao alívio de ver a equipe voltar a apresentar alguma organização coletiva na etapa final.
Sem Marçal e Tiquinho suspensos, Hugo e Matheus Nascimento ganharam mais uma oportunidade de mostrar serviço. O lateral-esquerdo tem aproveitado as chances no estadual para mostrar evolução e se consolidar como uma peça de reposição no elenco. Já o atacante, embora tenha desenvolvido sua forma física, mostrando-se mais preparado para disputar as jogadas com os zagueiros, ainda aprimora seu jogo de costas para o gol como referência do ataque. Nos altos e baixos naturais no desempenho de um jogador de 19 anos recém completados, hoje foi dia de “alto”. Matheus fez bons pivôs, distribuiu uma assistência e encerrou a incômoda seca de gols que já durava quase dez meses.
Mas a grande novidade na escalação inicial do Glorioso foi JP Galvão na lateral-direita. A presença do jovem lateral indica a falta de confiança de Luís Castro em Daniel Borges pelas suas atuações recentes. JP, de 21 anos, pode atuar como lateral ou volante e foi contratado junto ao Vasco para reforçar o Botafogo B em 2022. Outra opção do treinador foi a entrada de Marlon Freitas no lugar de Lucas Fernandes, que, após perder a pré-temporada, ainda busca a melhor forma para assumir o lugar de titular.

O Botafogo começou o jogo com tudo! No primeiro ataque, com menos de 30 segundos, Gabriel Pires teve a chance de abrir o placar. No minuto seguinte, foi Carlos Alberto quem chegou com perigo e parou no goleiro Jefferson. A equipe explorou bastante o lado direito com as descidas de JP e a profundidade de Carlos Alberto. A pressão inicial mostrou que o time estava consciente da necessidade do resultado e da importância de sair na frente para ter tranquilidade no confronto. No entanto, o forte calor na tarde de Cariacica logo freou o ritmo alvinegro e diminuiu o ímpeto ofensivo do time.
A partir dos 15 minutos do primeiro tempo, o Resende começou a encontrar espaços no sistema defensivo alvinegro, explorando a lentidão e a desorganização na transição defensiva, um dos principais problemas do Botafogo em 2023. Castro ainda não conseguiu encontrar o melhor acerto no meio-campo para pressionar o homem da bola e proteger a última linha de defesa. Quando o adversário escapa da pressão alta e a defesa é forçada a correr para trás, ficam evidentes os erros de posicionamento e de abordagem defensiva. Em teoria, a presença de Marlon Freitas ao lado de Tchê Tchê deveria melhorar a ocupação dos espaços à frente da defesa, mas os erros recorrentes contra adversários diferentes mostram que o problema é coletivo.
Aos 20, Lucas Perri, o principal jogador do time, voltou a salvar e evitou que o Resende saísse na frente. O início promissor logo se transformou em mais uma exibição frustrante, sem padrão ofensivo para construir o jogo e sem um pingo de criatividade para fugir do óbvio e tirar uma jogada diferente da manga. Conforme o nervosismo foi tomando conta dos jogadores, o acúmulo de erros de passe, decisões ruins e hesitações minaram a paciência da torcida no Kleber Andrade.
Quando todos já esperavam as vaias ao apito final do primeiro tempo, o Resende mostrou porque é o último colocado do campeonato. Aos 47 minutos, a defesa saiu mal e a bola sobrou para Matheus Nascimento dentro da área. O atacante mostrou técnica e leitura de jogo para driblar a defesa e encontrar Carlos Alberto chegando de trás. O ponta, que inverteu o posicionamento com Victor Sá durante a primeira etapa, dominou e bateu cruzado para marcar o gol. Vantagem importante para aliviar a pressão sobre o time, mas que não apaga o desempenho fraco da equipe nos primeiros 45 minutos.
Atorcida escolheu Gabriel Pires como alvo principal dos protestos. Lento, desconectado do jogo e transparecendo certa displicência, o meia foi vaiado nos minutos finais do primeiro tempo. Sem clima para seguir em campo, foi substituído no intervalo por Lucas Fernandes. Mais dinâmico e participativo, Lucas conseguiu ser o elo de conexão entre as peças em campo, proporcionando um jogo de mais aproximação que potencializou as individualidades dos companheiros.. Com três minutos em campo, já participou do segundo gol alvinegro. O meia levantou bola na área e, na sobra, Matheus Nascimento acertou belo chute de primeira para dar adeus à seca de gols. Nono gol do atacante em 71 jogos como profissional.
Não foi apenas a entrada de Lucas Fernandes que melhorou o Botafogo. Menos tenso com a vantagem alcançada, o time conseguiu voltar a construir coletivamente jogadas de ataque aproveitando os muitos espaços que a frágil defesa do Resende oferecia. A preocupação com o lado mental dos jogadores diz respeito não apenas às expulsões nos últimos clássicos, mas também à capacidade dos atletas suportarem a pressão, sem inibição ou medo de errar.

O Botafogo enfrentará a Portuguesa na última rodada da Taça Guanabara valendo a classificação para as semifinais do Campeonato Carioca. O jogo será em Volta Redonda na próxima quinta-feira (9), às 19h30.
Números do jogo: (Footstats)
Posse de bola – RES 47% x 53% BOT
Passes certos – RES 268 (87%) x 371 (88%) BOT
Finalizações – RES 8 (1 no gol) x 16 (8) BOT
Cruzamentos – RES 3/15 (20%) x 7/17 (41%) BOT
Lançamentos – RES 7/28 (25%) x 5/14 (36%) BOT
Desarmes – RES 11 x 6 BOT
Interceptações – RES 2 x 0 BOT
Rebatidas – RES 39 x 16 BOT
Dribles – RES 4 x 5 BOT
Perdas de posse de bola – RES 26 x 25 BOT
Faltas – RES 14 x 20 BOT
Cartões amarelos – RES 2 x 1 BOT