Análise: de zero a cem, Botafogo mostra o que tem de pior e de melhor na vitória sobre o Audax

Análise: de zero a cem, Botafogo mostra o que tem de pior e de melhor na vitória sobre o Audax
Vitor Silva/Botafogo

Neste início de temporada, o Botafogo é capaz de sair de uma total desorganização para um controle absoluto em questão de minutos. Foi assim na vitória por 2 a 1 sobre o Audax no Raulino de Oliveira. O passaporte da apatia à euforia foi o gol de empate marcado aos 24 minutos do segundo tempo, quando o adversário parecia mais perto de ampliar a vantagem. O desempenho alvinegro mais uma vez levanta inúmeros questionamentos sobre as escolhas do treinador Luís Castro, mas também joga luz sobre o preparo emocional do grupo. Mesmo com todos os problemas apresentados, a vitória levanta o ânimo dos jogadores no início de um mês decisivo para o restante da temporada.

Ainda sem Danilo Barbosa, Castro seguiu em busca de encontrar equilíbrio no meio-campo. Para garantir força e maior poder de marcação no setor, Marlon Freitas foi o escolhido do treinador para começar o jogo, enquanto Lucas Fernandes foi para o banco. O volante, que se destacou como o motor do Atlético Goianiense na última temporada, está entre os jogadores do Botafogo com mais jogos no Carioca, mas ainda procura adaptação ao estilo de jogo da equipe. Marlon não tem sido o elemento surpresa, o jogador vertical que se espera dela.

A indefinição nas pontas também continuou. Depois de boas atuações saindo do banco nos últimos jogos, Raí ganhou sua segunda oportunidade como titular no ano, mais uma vez contra o Audax. Com mais confiança e vontade de mostrar serviço, o meia canhoto de 20 anos é esperança para cumprir a mesma função de ponta-construtor supostamente executada por Piazon. Carlos Alberto, que vinha atuando mais pelo lado direito, começou como titular na esquerda. Os dois foram as vítimas da vez do jogo desorganizado e pouco apoiado do time e deixaram o campo depois de atuação apagada. Trocam-se os nomes sem ninguém ganhar sequência nas beiradas do ataque.

Análise Audax x Botafogo

O cenário do jogo se desenhou logo nos primeiros segundos. O Botafogo com a posse de bola longe da área do adversário, concentrada em troca de passes entre Adryelson, Cuesta, Tchê Tchê e Marlon, com o Audax postado na defesa, mirando saídas rápidas em contra-ataque. E logo aos oito minutos, em três trocas de passes, o time de Angra dos Reis explorou a debilidade alvinegra na transição defensiva e Emerson Urso abriu o placar. Di Placido falhou no lance ao recuar e dar condições para o atacante no momento do lançamento. O lateral também foi inseguro na defesa em outros momentos, errando tempo de bola e quase anotando um gol contra.

Depois do gol, o nervosismo, a afobação e a desatenção deram o tom da atuação do Glorioso. Acumularam-se erros de fundamentos técnicos básicos e escolhas ruins de jogadas nos 65% de posse de bola que o time teve no primeiro tempo. Enfrentando um adversário organizado em uma linha de cinco e outra de quatro dentro da própria intermediária, não se viu qualquer mecanismo coletivo para balançar a defesa e abrir frestas para alguma movimentação. No modo aleatório, com uma troca de passes lenta e horizontal, apostando em individualidades, ficou mais difícil para o Alvinegro criar chances de gol e fazer o goleiro Leandro trabalhar.

Os números ilustram a dificuldade do Botafogo em finalizar no primeiro tempo, apesar do controle da posse de bola: 291 passes trocados e apenas três finalizações (todas para fora), uma finalização a cada 97 passes. Somente aos 43 minutos a equipe chegou perto de empatar o jogo em finalização de Marçal por cima do gol. Sem tabelas, triangulações ou inversões para criar espaços na defesa adversária, sobraram cruzamentos (16) da intermediária com um baixo aproveitamento de apenas 18%

Castro promoveu três alterações no intervalo: Lucas Fernandes, Gustavo Sauer e Luis Henrique entraram nos lugares de Marlon Freitas, Raí e Carlos Alberto. As mudanças conseguiram aumentar a sensação de desorganização e deixaram o Botafogo mais exposto no começo do segundo tempo. Lucas entrou mal, em outro ritmo, perdendo divididas e desarmado com facilidade. Afastado da área, o meia mostra dificuldades em ser vertical e tem ficado claro que não pode ser o “oito” que Castro procura para deixar o time mais criativo. Sauer, que parecia fora dos planos e não atuava no Carioca desde a oitava rodada, pareceu uma opção pela finalização de longa distância, mas não conseguiu impacto imediato em campo. Quem apareceu com destaque foi Lucas Perri, salvando o que seria o segundo gol do Audax.

Entre os substitutos, Luis Henrique foi quem entrou melhor. Dentro da desorganização da equipe, conseguiu lances individuais para dar sequência aos ataques e conectar Tiquinho no pivô. Hoje, o camisa 11 é o jogador de lado de campo mais produtivo do elenco e merece mais oportunidades como titular. O centroavante, muito isolado durante todo o jogo, recebeu poucas bolas no segundo tempo, quando Eduardo caiu de rendimento. Aos 24, Luis Henrique cruzou da esquerda e encontrou Tiquinho nas costas do zagueiro para testar e empatar o jogo. Sétimo gol do artilheiro alvinegro em 2023.

O gol de empate transformou o jogo. Foi uma verdadeira injeção de confiança que fez o Botafogo dominar a reta final de jogo. A mudança mostra como o problema, para além de técnico e tático, é mental. A equipe sente demais as dificuldades que aparecem durante o jogo, alimentando um turbilhão de nervosismo que suga qualquer organização. Por isso, o time é uma montanha russa, alternando dentro de um mesmo jogo momentos muito bons e muito ruins.

Análise Audax x Botafogo

Os 15 minutos finais foram de intensa pressão alvinegra. O Botafogo tinha finalizado sete vezes até o gol de empate e terminou o jogo com 15 finalizações. Confiante, o time cresceu, passou a jogar coletivamente e empurrou o adversário contra a própria área, encontrando espaço para criar situações de perigo. O cansaço do Audax, que não conseguiu manter a mesma dedicação defensiva na metade final do segundo tempo, também ajudou o Glorioso. Já nos acréscimos, Gustavo Sauer conseguiu boa jogada individual e marcou um gol importante para ele e para o Botafogo neste mês de abril que promete fortes emoções.

Agora, o Botafogo arruma as malas e viaja para o Chile, onde vai enfrentar o Magallanes na próxima quinta-feira (6), às 21h, pela rodada de abertura do Grupo A da Copa Sul-Americana. Na antepenúltima colocação do Campeonato Chileno, com duas vitórias, dois empates e cinco derrotas, os Albicelestes vêm de derrota por 3 a 2 para o Palestino neste fim de semana.

Números do jogo: (Footstats)

Posse de bola – AUD 37% x 63% BOT
Passes certos – AUD 241 (86%) x 515 (93%) BOT
Finalizações – AUD 5 (3 no gol) x 15 (5) BOT
Cruzamentos – AUD 0/3 (0%) x 7/36 (19%) BOT
Lançamentos – AUD 7/28 (25%) x 8/29 (28%) BOT
Desarmes – AUD 11 x 10 BOT
Interceptações – AUD 2 x 1 BOT
Rebatidas – AUD 53 x 9 BOT
Dribles – AUD 3 x 4 BOT
Perdas de posse de bola – AUD 23 x 30 BOT
Faltas – AUD 17 x 15 BOT
Cartões amarelos – AUD 2 x 2 BOT

Fonte: Redação FogãoNET

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