A volta do Botafogo à Série A não saiu como o torcedor alvinegro sonhava. Em um Nilton Santos lotado e com grande festa nas arquibancadas, o time foi derrotado pelo Corinthians por 3 a 1. A falta de entrosamento e entendimento coletivo do Glorioso fez a diferença a favor dos paulistas no primeiro tempo. O esboço das mudanças no estilo de jogo propostas por Luís Castro puderam ser observados, mas precisam de tempo para seu desenvolvimento.
Com a estreia dos reforços e depois de uma semana intensa de treinos para a assimilação da nova metodologia de trabalho, o Botafogo entrou em campo de cara nova. Saravia, Patrick de Paula, Lucas Piazon e Victor Sá estrearam com a camisa alvinegra. Outra novidade foi Oyama, que reestreou pelo clube. Artilheiro do time na temporada com oito gols e média de uma bola na rede a cada 74 minutos, Erison começou como titular no comando do ataque.
Enquanto Luís Castro e os portugueses da comissão técnica aguardam a emissão de seus vistos de trabalho, o preparador físico Betinho foi quem comandou a equipe na beira do campo. O novo treinador acompanhou a partida em uma cabine do estádio transmitindo orientações para o banco de reservas. Embalado pela energia das arquibancadas, o Botafogo começou em alta intensidade, ditando o ritmo do jogo, mas mostrou dificuldade para escapar da pressão do adversário e criar linhas de passe para progredir no campo. Problemas naturais para uma equipe no começo de um processo de formação.
Pelo lado direito da defesa alvinegra, Willian foi quem mais incomodou. O ex-jogador da seleção brasileira encontrou muito espaço na transição defensiva e usou muita velocidade para ferir a marcação do Glorioso. O Botafogo de Castro apresentou uma formação defensiva diferente das duas linhas de quatro que o torcedor estava acostumado. Sem a bola, o time organizou-se em um 4-1-4-1 com Patrick de Paula entre as linhas e Erison responsável pelo primeiro combate. Na linha de quatro do meio-campo, os jogadores tinham liberdade para desgarrar e subir a pressão. Em diversos momentos, ficou nítida a falta de entrosamento da equipe para fazer a pressão alta de forma coordenada. Mais uma vez, natural para um time em fase de montagem, carente ainda de gatilhos e movimentações automatizadas para o melhor entendimento coletivo.
Apesar da má fase recente, o Corinthians é um time repleto de jogadores talentosos dentro de um trabalho mais consolidado e maduro. Aos 17 minutos, o time foi rápido para aproveitar um erro de passe no meio-campo alvinegro e sair em velocidade com Maycon, Willian e Paulinho para chegar no gol de Gatito. No momento do gol, o Botafogo tinha mais de 60% da posse de bola, mas o adversário era quem parecia mais confortável em campo. A vantagem no placar conquistada nos minutos iniciais condicionou o restante do jogo a favor dos paulistas. Aos 27, após cobrança de escanteio, o segundo gol. Aos 44, o terceiro. Os gols em sequência transformaram a festa nas arquibancadas em cobrança e destruíram o psicológico da equipe, que passou a errar muito, com destaque negativo para Jonathan Silva.
O Botafogo teve uma boa chance de gol aos quatro minutos de jogo. Victor Sá conseguiu lindo drible pelo lado esquerdo e lançou Erison. Na tentativa de driblar o goleiro Cássio, o “Toro” adiantou demais a bola, permitindo a chegada da marcação. Também faltou o pé direito para arriscar uma finalização. Com a bola, Luís Castro manteve a saída de três, agora em um sistema de 3-1, apoiada por apenas um jogador no centro do campo. Ora Patrick, ora Oyama cumpriram essa função de apoio, liberando o outro para subir ao ataque, aumentando o número de peças no campo ofensivo. No entanto, o jogo do Glorioso não fluiu. Com Chay aberto pela direita e Piazon por dentro, o time não conseguiu encontrar espaços pelas laterais. Tampouco Saravia conseguiu ser uma alternativa ofensiva na direita.
O Botafogo terminou o primeiro tempo com 55% da posse de bola e 206 passes certos trocados (50 passes a mais que o adversário), a maior parte entre os quatro jogadores de defesa. Mas o número que chamou atenção foi o de desarmes: 12 a 5 para o Corinthians. O adversário foi muito mais eficaz em sua proposta de jogo de marcação forte, compactação e saídas em velocidade. Assim criou seis finalizações certas contra uma única do Alvinegro. Para apresentar algo diferente na segunda etapa, Castro voltou com Hugo, Diego Gonçalves e Matheus Nascimento nos lugares de Jonathan, Piazon e Erison.
E o Glorioso voltou melhor do intervalo. Novamente concentrado no jogo, o time voltou a ter mais de 60% da posse de bola, dessa vez ocupando o campo de ataque e empurrando o adversário para trás. Em 20 minutos, a equipe criou quatro finalizações, mesmo número de todo o primeiro tempo. A melhora do Botafogo passou pela atitude, mas também pelas saídas de Maycon, Paulinho e Willian no Corinthians. Com jogadores mais jovens em campo, os paulistas perderam o controle do jogo.
Como passou a trocar mais passes e encontrar espaços no campo de ataque, o Botafogo passou a ser mais perigoso. A torcida entendeu o momento e voltou a criar um ambiente favorável para os jogadores. O time chegou ao gol aos 20 minutos, depois de pênalti sofrido por Matheus e cobrado por Diego Gonçalves. Muito diferente do jovem que entrou como esperança de salvação na reta final do Brasileirão de 2020, Matheus Nascimento agora mostrou evolução em todas as dimensões de seu jogo para se tornar uma peça capaz de criar desequilíbrio no nível mais alto do futebol nacional.
Depois do gol e da pressão na primeira metade do segundo tempo, Vitor Pereira conseguiu recolocar o Corinthians no jogo, retendo a posse, baixando o ritmo, limitando as oportunidades do Botafogo e encontrando boas saídas de contra-ataque. Por duas vezes, Gatito salvou o que seria o quarto gol. Daniel Borges e Romildo entraram, mas tiveram pouca influência.
No apito final, os aplausos da maior parte dos 36898 presentes abafaram algumas vaias que ameaçaram surgir. A derrota não deve servir como um balde de água fria para o momento de alegria do torcedor alvinegro, mas é um alerta de que não existe mágica na formação de um time vencedor e derrotas fazem parte do processo.
O Botafogo volta a campo no próximo domingo (17), às 19h, para enfrentar o Ceará no Castelão. O Vozão surpreendeu na estreia e venceu o Palmeiras no Allianz Parque.
Números do jogo: (Footstats)
Posse de bola – BOT 57% x 43% COR
Passes certos – BOT 396 (90%) x 299 (91%) COR
Finalizações – BOT 10 (4 no gol) x 13 (8) COR
Assistências para finalização – BOT 7 x 8 COR
Desarmes – BOT 11 x 23 COR
Interceptações – BOT 10 x 5 COR
Cruzamentos – BOT 2/19 (11%) x 5/15 (33%) COR
Lançamentos – BOT 15/36 (42%) x 6/34 (18%) COR
Viradas de jogo – BOT 5 x 4 COR
Dribles – BOT 9 x 9 COR
Perdas de posse de bola – BOT 42 x 24 COR
Faltas – BOT 6 x 17 COR