Análise: sem ideia do que fazer com a bola, Botafogo não sai do 0 a 0 com o Cruzeiro e despenca do G4

Torcedor com cartaz para John Textor em Botafogo x Cruzeiro | Campeonato Brasileiro 2023
Reprodução/Premiere

O Botafogo jogou sua última partida do ano no Nilton Santos e completou oito jogos – e três meses – sem vencer como mandante. O empate em 0 a 0 com o Cruzeiro foi apenas o sexto ponto conquistado nos últimos 30 pontos disputados no Brasileirão. A falta de organização ofensiva e ideias de como chegar ao gol foi refletida em apenas dois chutes certos em todo o jogo. O Glorioso terminou a penúltima rodada do campeonato fora do G4 e vai decidir os rumos da próxima temporada fora de casa contra o Internacional.

Diante do título virtual do Palmeiras, garantir a classificação direta para a fase de grupos da Libertadores virou a meta alvinegra. Para tentar se segurar no G4 diante da iminente aproximação do Grêmio, Tiago Nunes manteve o sistema com três zagueiros utilizado nas últimas duas partidas. Sem contar com Eduardo, o treinador optou pela entrada de Luis Henrique como um terceiro atacante. Depois de cumprir suspensão, Danilo Barbosa retomou seu lugar na defesa.

Primeiro tempo

O ambiente no Nilton Santos estava tenso. Desde a divulgação da escalação, os jogadores do Botafogo estiveram sob um misto de vaias e aplausos. A impaciência das arquibancadas se refletiu no campo em decisões precipitadas que produziram uma construção de jogadas pouco coletivas e uma postura defensiva desatenta. Os primeiros minutos foram de muitos erros individuais em lances forçados. O Cruzeiro de Paulo Autuori pareceu jogar com o nervosismo e a instabilidade alvinegra desde os primeiros minutos, gerindo a velocidade do jogo com a posse de bola e apostando em escapadas pelas beiradas do campo.

Depois de dez minutos ruins do Glorioso, o time conseguiu encaixar a marcação para pressionar a posse adversária e colocar a bola no chão, trocar passes em progressão para avançar no campo com alguma mínima organização. Aos 17, Tiquinho lembrou seus melhores momentos no campeonato ao dominar um balão para a grande área na ponta da chuteira e girar sobre o marcador. Rafael Cabral defendeu a finalização cruzada e rasteira para evitar o gol.

A reorganização defensiva do Cruzeiro logo esfriou a partida novamente. Se entre os minutos dez e 22 o Botafogo finalizou seis vezes – cinco delas para fora -, o time só voltaria a chutar aos 39. Após boa virada de jogo de Gabriel Pires, Tchê Tchê lançou Júnior Santos em profundidade, mas o atacante, de cabeça baixa, demorou a finalizar e foi travado. Júnior fez seu jogo habitual de muita vontade, sem omissão, mas perdeu todas as cinco disputas de bola em que esteve envolvido na primeira etapa. 

Victor Sá na ala esquerda foi o jogador mais lúcido e agudo do ataque alvinegro. O ala/ponta teve 36 ações com a bola no primeiro tempo, ganhou cinco de seis duelos individuais e distribuiu dois passes para finalização. Gabriel Pires se movimentou, teve bom aproveitamento nos passes longos (75%) e apareceu em diferentes partes do campo. O meia tentou ser o articulador de jogadas que o Botafogo precisava, mas não foi capaz de assumir a função de distribuir o jogo.

Os três jogadores de ataque tiveram o menor número de ações com a bola do time – todos com menos de 20. O trio esteve pouco envolvido com o restante da equipe. Nitidamente incomodado, Tiquinho finalizou duas vezes de fora da área para longe do gol.

Segundo tempo

Tiago Nunes voltou com Carlos Alberto no lugar de Marlon Freitas. A mudança trouxe Júnior Santos para a ala direita e Tchê Tchê para o meio-campo. O treinador quis ter mais um jogador na distribuição do jogo e mais volume pelas beiradas do campo. Carlos Alberto criou boa jogada em contra-ataque aos seis minutos, tocou na medida para Luis Henrique, mas o ponta foi displicente, não finalizou e se enrolou com a bola. O lance aumentou ainda mais a insatisfação nas arquibancadas.

O Botafogo encontrou dificuldade para criar novas chances de gol, enquanto o Cruzeiro teve chances claras de gol no retorno do intervalo. Diego Costa era um pedido dos torcedores para mudar a dinâmica do ataque e dar uma nova alma competitiva ao time. O atacante entrou aos 16 minutos na vaga do apagado Tiquinho Soares. Hugo substituiu Luis Henrique, deslocando Victor Sá para o ataque.

Com a notícia da vitória parcial do Grêmio, a cada minuto a ansiedade aumentava e a urgência pelo resultado foi alimentando a precipitação na criação de lances de ataque. Erros técnicos e escolhas ruins de jogadas mantiveram o Glorioso longe de gerar riscos ao goleiro adversário. Aos 28, Gabriel Pires colocou a bola na cabeça de Carlos Alberto, livre, dentro da área. Faltou fundamento ao atacante para executar o gesto técnico correto e direcionar a bola para o gol.

Aos 37, Tiago trocou Gabriel Pires, cansado, pelo meia Newton, de 23 anos, contratado junto ao Jacuipense para a equipe sub-23 em 2022. Lucas Fernandes era opção no banco, mas foi preterido pelo treinador. A última mudança foi a entrada de Janderson no lugar de Júnior Santos. Tiago foi para o “tudo ou nada”, com Carlos Alberto e Victor Sá de pontas e dois centroavantes na área. 

Bem fechado na defesa para valorizar o ponto que livrou o time do rebaixamento, o Cruzeiro conseguiu frustrar qualquer iniciativa de ataque alvinegra. O Botafogo não conseguiu jogadas de linha de fundo e teve os cruzamentos a partir da intermediária como única alternativa ofensiva.

O Botafogo vai encerrar sua participação no Campeonato Brasileiro contra o Internacional, quarta-feira (6), às 21:30h, no Beira-Rio. Somente uma vitória classifica o time para a fase de grupos da Libertadores da América. Suspensos, Adryelson, Gabriel Pires e Diego Costa estão fora da rodada final.

Números do jogo: (Sofascore)

Posse de bola – BOT 61% x 39% CRU

Passes certos – BOT 456 (87%) x 268 (77%) CRU

Finalizações – BOT 16 (2 no gol) x 7 (3) CRU

Gols esperados (xG) – BOT 0.69 x 0.85 CRU

Finalizações dentro da área – BOT 6 x 4 CRU

Grandes chances de gol – BOT 2 x 2 CRU

Grandes chances perdidas – BOT 2 x 2 CRU

Defesas do goleiro – BOT 3 x 2 CRU

Cruzamentos – BOT 6/21 (29%) x 0/10 (0%) CRU

Bolas longas – BOT 43/59 (73%) x 24/68 (35%) CRU

Desarmes – BOT 9 x 18 CRU

Interceptações – BOT 12 x 10 CRU

Cortes – BOT 9 x 18 CRU

Disputas de bola vencidas – BOT 41 x 50 CRU

Disputas aéreas vencidas – BOT 14 x 11 CRU

Dribles – BOT 5/14 (36%) x 4/7 (57%) CRU

Faltas – BOT 17 x 13 CRU

Cartões amarelos – BOT 4 x 3 CRU

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