Botafogo desperta em segundo tempo elétrico no empate com Guarani e mostra a força que os números comprovam

Botafogo desperta em segundo tempo elétrico no empate com Guarani e mostra a força que os números comprovam
Reprodução/SporTV

Nos braços do seu povo, o Botafogo empatou em 2 a 2 com o Guarani e levantou a taça da Série B no Nilton Santos. Depois de um primeiro tempo de pouco futebol, Marco Antônio e Rafael Navarro marcaram os gols alvinegros da agitada segunda etapa. O Glorioso encerrou a campanha e deu adeus à Série B com 70 pontos, igualando a campanha de 2015 e sonhando em não retornar jamais para a segunda divisão.

O clima de festa que envolveu o Estádio Nilton Santos desde a manhã de domingo foi a coroação de uma campanha tão incrível quanto improvável. O primeiro terço do campeonato foi um verdadeiro pesadelo para o torcedor alvinegro. Ao final da 13ª rodada, com um jogo a menos, o Botafogo ocupava a 14ª posição na classificação, a dois pontos do Z4 e a dez do G4. A luta contra o rebaixamento para a Série C parecia a realidade do clube e era difícil olhar para o time e encontrar soluções para resolver a situação. Em uma única estatística o time aparecia com destaque: o péssimo aproveitamento na conversão de chances claras de gol (30,4%). Das 27 chances claras de gol que o time criou sob o comando de Marcelo Chamusca e Ricardo Resende, 19 foram desperdiçadas.

Standings provided by SofaScore LiveScore

Mas além dos gols perdidos, o Botafogo era muito frágil defensivamente. E essa foi a maior preocupação de Enderson Moreira desde que assumiu o time. O treinador organizou o sistema defensivo, reforçou o caráter coletivo da marcação e, dessa forma, potencializou o desempenho individual de jogadores antes criticados, como Daniel Borges e Barreto. O Glorioso entrou na última rodada como a equipe que menos sofreu finalizações certas na Série B (127, média de 3,4 por jogo). Consequentemente, os goleiros alvinegros, ponto de insegurança desde a lesão de Gatito, foram os terceiros que menos trabalharam no campeonato.

E o Botafogo chegou na rodada final não somente como a melhor defesa, mas também o melhor ataque da Série B. Outros números do FootStats mostram que o trabalho de Enderson deu uma cara, um plano de jogo, a um time, até então, desorganizado e sem confiança. O Alvinegro é o quarto time que mais finalizou no alvo (180, 4,8 por jogo), o terceiro que mais acertou cruzamentos (5,3 por jogo, aproveitamento de 23,6%) e o quinto que mais acertou lançamentos (12,5, aproveitamento de 37%). Outro dado interessante é que dos 61 gols marcados pelo Botafogo 43 (70,4%) foram consequência de uma assistência, o que reforça o caráter coletivo que o treinador conseguiu imprimir ao futebol da equipe.

Para o jogo final, duas mudanças em relação ao time que conquistou o título no último domingo, ambas provocadas por suspensões. Saíram Barreto e Diego Gonçalves para as entradas de Romildo e Chay. No entanto, a grande surpresa estava no banco. Recuperado de um edema ósseo no joelho direito, Gatito Fernández voltou a ser relacionado depois de 14 meses sem jogar pelo clube.

Análise Botafogo x Guarani

O jogo

Terminar o ano comemorando o título em casa também foi simbólico pelo papel fundamental que o Niltão teve na campanha vitoriosa. Mesmo quando esteve distante da torcida pelas limitações impostas pela pandemia, o Botafogo transformou seu estádio em uma fortaleza, com um aproveitamento fantástico de 85,1%. Mas o confronto contra o Guarani reservou um desafio adicional. Com 59 pontos, o Bugre ainda sonhava em chegar aos 62 e contar com uma combinação de resultados para conseguir o acesso à primeira divisão. Envolto em um ambiente de festa e descontração antes do apito inicial, o Glorioso precisou trabalhar para equiparar os níveis de entrega e concentração do adversário ainda focado na competição.

Na primeira metade da etapa inicial, o Guarani era quem controlava a posse de bola (61%) e trocava passes no setor de meio-campo. O time paulista, contudo, encontrava dificuldades para entrar na área e criar chances de gol. O Botafogo, ao seu estilo, de velocidade, lançamentos e transições rápidas, procurava contra-atacar, mas esbarrava, novamente, na qualidade do passe para construir jogadas ofensivas. Por isso, o time era dependente do voluntarismo de Rafael Navarro, com sua luta no comando de ataque, e das faltas sofridas por Chay. Warley e Marco Antônio pareciam dispersos e não apareciam como alternativas sólidas para o contra-ataque.

Tudo isso contribuiu para um primeiro tempo de pouco futebol em que os goleiros quase não precisaram trabalhar. Das sete finalizações da etapa inicial, três do Botafogo e quatro do Guarani, seis foram de fora da área. Uma única na direção do gol. Aos 36 minutos, o volante Índio deu uma entrada forte em Warley, recebeu o segundo amarelo e foi expulso. Contra dez adversários, o Glorioso conseguiu ficar mais com a bola, forçar menos os passes diretos e equilibrar a posse. Foi para o intervalo com 45% da posse de bola, 77% de acerto nos passes e 31% de acerto nos lançamentos. Além disso, o time errou os dez cruzamentos que tentou, reflexo de um jogo que não fluiu pelas beiradas do campo.

Pensando em valorizar ainda mais a posse, qualificar o passe e acrescentar mais criatividade em campo, Enderson trocou Romildo por Matheus Frizzo no intervalo. A ideia era colocar mais peças no campo de ataque e distribuir a responsabilidade da criação entre mais jogadores. E a entrada de Frizzo teve efeito imediato. Contra o Glorioso, contudo. Em pouco mais de um minuto de bola rolando, o meia cometeu falta – bastante questionável, é verdade – no lado esquerdo da área, junto à linha lateral. Na cobrança, Frizzo não subiu com Ronaldo Alves e o zagueiro bugrino abriu o placar de cabeça.

A vantagem ofereceu o cenário perfeito para o Guarani se fechar e jogar no contra-ataque. O Botafogo não teve outra alternativa senão ocupar o campo de ataque e pressionar em busca do empate. O revés injetou ânimo e motivação no time alvinegro, que não queria aceitar a derrota. Então, Enderson mexeu no lado direito do time, substituindo Daniel Borges e Warley por Rafael e Ronald. A mudança deu sangue novo à equipe e foi justamente pela direita que as principais chances apareceram, sempre a partir dos cruzamentos que foram se sucedendo. Na esquerda, Marco Antônio, apesar de muitos erros técnicos, se esforçava bastante para participar do jogo.

E assim nasceu o gol de empate. No meio-campo, Marco Antônio recebeu na esquerda e buscou a diagonal para o centro procurando Navarro como referência. O centroavante abriu para Ronald na direita, o ponta dominou e achou Marco Antônio já dentro da área para girar e finalizar para as redes, contando com desvio da zaga. No momento do gol, aos 24 minutos, o Botafogo tinha 72% da posse de bola no segundo tempo. E uma posse propositiva, no campo ofensivo, com 92% de acerto nos passes, muita movimentação e intensidade.

Mas faltava o dele. Faltava o gol de Navarro para selar e premiar a temporada mágica do centroavante. Para também que Navarro e torcida comemorarem juntos, sem animosidade, a possível separação. Aos 34, Chay recebeu na intermediária e levantou na área buscando Navarro. O cruzamento foi alto demais e terminou nos pés de Carlinhos na esquerda. O lateral cruzou mais uma vez para encontrar o centroavante que, dentro da pequena área, testou para o gol. Virada, festa e o coro de “É campeão!” entoado a plenos pulmões nas arquibancadas do Nilton Santos.

Ainda deu tempo para o Guarani buscar o empate mais uma vez. E novamente em um lance de bola parada. Aos 39, escanteio cobrado na e Lucão do Break subiu entre os dois zagueiros alvinegros para cabecear no canto direito de Diego Loureiro. O empate, no fim, foi um resultado justo pelo jogo que as duas equipes fizeram na segunda etapa. O Guarani foi valente para superar a inferioridade numérica e finalizar oito vezes contra o gol alvinegro. O Botafogo, depois de sofrer o gol, mostrou força para encontrar foco e motivação para virar o jogo. Foi penalizado por dois erros em jogadas de bola parada.

Análise Botafogo x Guarani

O ritmo e a intensidade demonstradas pelo time no segundo tempo são o retrato da campanha alvinegra. Mostram também o potencial que esse time tem para jogar um futebol que orgulha traz a torcida para jogar junto. O momento é de dúvidas sobre permanências e possíveis contratações para a temporada de 2022. A força da dupla de zaga e o talento de Rafael e Chay devem ser a base para a construção de um grupo mais forte para a disputa da Série A. Depois do maior trabalho de sua carreira, Enderson vai ter um novo desafio para montar uma equipe ainda mais forte depois das férias.

Números do jogo: (Sofascore)

Posse de bola – BOT 54% x 46% GUA
Passes certos – BOT 332 (83%) x 267 (78%) GUA
Cruzamentos – BOT 3/23 (13%) x 6/15 (40%) GUA
Bolas longas – BOT 21/47 (45%) X 24/55 (44%) GUA
Dribles – BOT 3/10 (30%) x 3/9 (33%) GUA
Finalizações – BOT 12 (3 no gol) x 12 (4) GUA
Finalizações dentro da área – BOT 6 X 6 GUA
Chances claras – BOT 2 x 0 GUA
Duelos ganhos – BOT 42 x 38 GUA
Desarmes – BOT 15 X 10 GUA
Cortes – BOT 9 x 19 GUA
Interceptações – BOT 6 x 11 GUA
Faltas – BOT 15 x 13 GUA

Fonte: Redação FogãoNET

Comentários