* Com acerto praticamente fechado, uma das principais missões do Botafogo com Artur Jorge será dar um “intensivão” do que é o futebol brasileiro. O técnico tem capacidade, talento e competência, mas entender o cenário e como se adaptar a ele vai ser a chave para o sucesso.
* Esse é um dos principais pontos que faltou com Bruno Lage. A impressão é que o técnico português não entendeu até hoje onde estava, como devia se portar e o que se esperava dele. Até com Luís Castro foi assim no início. Demorou, mas o Mister teve como mérito perceber que deveria se adaptar ao contexto.
* E o que é esse contexto? Artur Jorge vai ter que saber encarar adversidades, como viagens longas, gramados ruins, temperaturas variadas, arbitragens, pressão de torcida, parte da imprensa tentando atrapalhar etc.
* No estilo de jogo, por exemplo, a vitória do Braga por 5 a 3 sobre o Portimonense pareceu ser um resumo de seu trabalho: um time bem ofensivo, com capacidade de criação, soluções ofensivas e muitas finalizações, mas vulnerável e deixando espaços na defesa. No Brasil, talvez uma hora vá ter que entender que há momentos em que é necessário fechar a casa e ser mais prudente, em vez de estar sempre no jogo de “trocação”.
* Ele vai ter que conviver com a pressão da própria torcida e da adversária. Técnicos portugueses costumam se incomodar com a forma de protestar no Brasil, com xingamentos direcionados e palavras de baixo calão direcionados à pessoa física. Não são só reclamações, aqui se parte para a ofensa, o que para eles é muitas vezes visto como inadmissível ou como falta de educação. Luís Castro, por exemplo, ficou traumatizado na primeira vez que o mandaram “tomar caju”.
* Artur Jorge deverá ter jogo de cintura para lidar e liderar o elenco. Um grupo forte, cheio de jogadores de qualidade, precisa de um treinador firme, com posições claras, que seja respeitado e admirado. Se for confuso, como Bruno Lage, será mais difícil. A gestão de pessoas é fundamental.
* Alguém precisa avisar ao treinador que o Botafogo não é exatamente o queridinho das arbitragens e da imprensa. Ou seja, seu time vai sofrer com erros de árbitros e levará pancada de jornalistas. Não vai confederações, federações nem outros agentes a favor.
* Curiosamente, um bom exemplo da adaptação foi Fabio Matias. Chegou, trabalhou com o que tinha, recuperou a parte emocional, deixou o passado para trás, resgatou jogadores e retomou a confiança do Botafogo. “Ah, mas só enfrentou times pequenos”. Ele foi bem nos jogos que teve. Não dava para querer que ganhasse de Real Madrid, Manchester City e Bayern de Munique, se enfrentou Fluminense, Red Bull Bragantino e Sampaio Corrêa. Garantiu vaga na fase de grupos da Libertadores de 2024 e na Copa do Brasil de 2025, essa com a conquista da Taça Rio.
* Fabio Matias, aliás, pode ser fundamental na transição de Artur Jorge. O interino já conhece o elenco, o futebol brasileiro e o Botafogo. O clube não pode nem pensar em perder o auxiliar permanente neste momento. Se tem alguém que pode ajudar o técnico português na chegada é Fabio Matias, até porque o Alvinegro ainda está sem diretor de futebol.
