* O futebol é cheio de chavões e termos repetitivos que circulam pelo meio. Um deles é o “planejamento”. Na teoria, todo mundo se planeja e quer que as coisas deem certo. No fim, só serão reconhecidos os planejamentos de quem ganhar.
* O ponto-chave não é o planejamento em si, é a execução dele. Com todas as variáveis que envolvem o futebol, como construção de mentalidade vencedora, ter um treinador de elite, um elenco forte e resiliente, uma comissão técnica qualificada e eficiente, uma torcida presente e uma boa dose de sorte. Sim, é preciso ter sorte no futebol, sobretudo nos momentos certos.
* Pegue os últimos grandes campeões no Brasil, como o Botafogo de 2024. É claro que há investimento pesado e elenco forte. Mas sempre houve uma boa dose de sorte. O Palmeiras vinha mal, foi campeão paulista em 2020, demitiu Vanderlei Luxemburgo e trouxe Abel Ferreira, até então um desconhecido e sem grandes conquistas. O clube se tornou uma das principais forças do Brasil. Pense no Flamengo atual, tão elogiado pela mídia. O time era criticado e ia mal com Tite, efetivou Filipe Luís, técnico do sub-20, e se acertou. Foi planejado? Óbvio que não.
* Dá para falar que o Botafogo de 2025 “não tem planejamento”, como repete a imprensa? Não. Desde o início do ano, John Textor deixa clara sua intenção, seja com palavras ou com gestos. O planejamento é não gastar tempo, energia e recursos com o início da temporada, preferindo focar no que ocorre a partir do Campeonato Brasileiro.
* Se nós concordamos com esse planejamento? Não. Mas é o planejamento do Botafogo e de John Textor. Se não estava previsto focar nas competições de início de ano, como esperar conquistá-las? A lógica era exatamente não ganhá-las. Nesse ponto que discordamos. Em uma temporada atípica, com Supercopa do Brasil e Recopa Sul-Americana, valia a pena mais esforço por esses títulos inéditos.
* Valia também manter um pouco mais da estrutura vitoriosa de 2024, seja com comissão técnica, jogadores ou funcionários. A “mentalidade vencedora” fica se os processos forem mantidos, se as pessoas importantes permanecerem, se o espírito seguir o mesmo. A cada renovação ou reformulação, é um novo processo de construção de algo sólido.
* Só que, concordemos ou não, o planejamento de John Textor é assim. E foi a forma dele pensar fora da caixa que fez o Botafogo ganhar tudo em 2024. Em apostar em um treinador português, em contratar um jogador de 20 milhões de euros (Luiz Henrique) quando ninguém gastava tanto e ainda dobrar a aposta ao pagar mais caro em Thiago Almada. Pelo que conquistou no ano passado, o mínimo é ter um crédito.
* E isso não é passar pano. É entender que Textor está novamente “dobrando a aposta”, assumindo o risco e gerando mais pressão para o restante do ano ao “deixar de lado” as competições do início de 2025. Se não der certo, será mais cobrado. E com razão.
* Agora, o que o Botafogo tinha no começo da temporada deveria ser o suficiente para se classificar no Campeonato Carioca ou, no mínimo, ir para a Taça Rio. Nesse ponto, houve um grande erro de avaliação interna do departamento de futebol em colocar Carlos Leiria como interino e mantê-lo por tanto tempo. O time não era nada demais, mas nada justifica perder para Maricá, Sampaio Corrêa e Madureira. O treinador (sic) ainda conseguiu a proeza de arrebentar titulares como Bastos e Artur jogando em Moça Bonita.
* Nas entrelinhas, por mais que estejamos irritados ou frustrados, há evolução no Botafogo. A principal, é claro, é a saída de Leiria do comando. Além disso, o time começa a ganhar corpo, ter mais sustentação defensiva, melhorar a parte física e integrar os reforços. Sim, porque nem todo jogador contratado já chega voando, a maioria precisa de um processo para se adaptar, se entrosar e se encaixar. Falta ter ataque, como ficou evidente mais uma vez na derrota para o Vasco.
* E o que pode fazer o Botafogo virar o jogo a partir desta quinta é a torcida. Foi surpreendente já terem sido vendidos 30 mil ingressos para o jogo da volta da Recopa Sul-Americana, quinta, contra o Racing. A torcida quer, vai jogar junto e tentar mudar o clima. Pode ter papel determinante.
* Voltando ao planejamento de John Textor, largar o Estadual não era um problema. Mas, para virar solução, é preciso ter um treinador e aproveitar bem o tempo da nova “pré-temporada” até o Campeonato Brasileiro. Que chegue um bom técnico o quanto antes, porque tempo ainda dá de o Botafogo entrar nas principais competições como candidato aos títulos e provar que o seu “planejamento” estava certo.