* Ao terminar 2024 como campeão da Libertadores e do Campeonato Brasileiro, com sete jogadores convocados, em alta, com Recopa, Supercopa e Copa do Mundo de Clubes para jogar, o Botafogo era o time do momento. Era realmente “Tempo de Botafogo”.
* Mas esse tempo virou tempo perdido. Era hora de aproveitar, de manter os principais jogadores, ter poder de convencimento para grandes contratações e, ainda, manter a comunhão com a torcida. Os botafoguenses só queriam seguir sendo felizes ao lado do clube.
* Imagine um Campeonato Carioca com o time campeão de tudo em 2024 jogando em outros estados do Brasil e sendo aclamado. Ações de marketing com os heróis do ano passado, lançamentos de produto, sócio-torcedor crescendo, bilheteria explodindo. Jogando à vera Recopa Sul-Americana e Supercopa, para tentar ganhar. Não deixando o início de 2025 largado nas mãos de Carlos Leiria.
* A promessa era de o ano começar em abril. Começou? Enquanto isso, o Botafogo era exposto nos primeiros meses, penava, tinha problemas de pagamento de premiação, treinava com menos de dez jogadores no elenco principal, não se preparava para nada. Na hora de vir um treinador, veio Renato Paiva. E cadê o treinador?
* A escolha seguinte foi por Davide Ancelotti. Um auxiliar, não um técnico, tendo que conviver e se adaptar não apenas com um novo cargo, com mais responsabilidade, mas também como uma realidade completamente diferente que é a do futebol brasileiro. E parece cada vez mais claro que ele não está pronto para a exigência.
* O Botafogo mudou seu estilo, não é mais físico e veloz, é em tese técnico, mas na prática pouco competitivo. E sem poder de decisão. Disputou sete mata-matas no ano (Racing, Flamengo, Palmeiras, Capital-DF, Red Bull Bragantino, LDU e Vasco), ganhou apenas dois. Já perdeu Campeonato Carioca, Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana, Copa do Brasil e Libertadores. Sequer entrou na Taça Rio.
* O principal responsável é John Textor. Bateu o pé e não renovou com Artur Jorge, enfrentou crise política na França, gastou seu tempo e sua energia no país e na Eagle, optou por mudar o perfil da equipe, não achou bons treinadores. A bola não entra por acaso, o time é reflexo do que é o clube, para o bem ou para o mal. O mea-culpa após a eliminação para o Vasco na Copa do Brasil deixa claro que ele sabe disso.
* Ao mesmo tempo, é justo recordar que foi o próprio estilo arrojado de Textor que deu o melhor ano de sua história ao Botafogo. Quando todos estavam devastados por 2023, dobrou a aposta, foi para cima, contratou mais, desafiou o sistema e dobrou a aposta. Vieram os títulos.
* A torcida, de certa forma, reconhece e está paciente justamente pelo crédito de 2024. Foi o ano que todo botafoguense sempre sonhou. Há uma espécie de gratidão que mantém o clima razoável, sem grandes cobranças ou protestos. Mas, agora, é hora de cumprir a missão que falta em 2025 (pelo menos uma, a de se classificar para Libertadores e Copa do Brasil) e começar a preparar 2026.
* Sobre a eliminação para o Vasco, o Botafogo fraquejou mais uma vez. Teve o azar da data Fifa, da preparação prejudicada, de perder Montoro e Danilo, mas tem muito mais responsabilidade da comissão técnica. Jogo decisivo era hora de poupar mesmo? Diversos jogadores atuaram por suas seleções e por seus clubes pouco depois. Fora isso, Davide Ancelotti errou demais nos dois jogos.
* Um fato em comum foi que, após o time mostrar sinal de melhora e começar a dominar no segundo tempo, alterações dele bagunçaram o Botafogo e recolocaram o Vasco no jogo. O técnico não mostrou boa leitura nem fez alterações que mudassem o panorama a seu favor. Ficou devendo.
* O desafio agora é não deixar a melancolia tomar conta. Se boa parte da torcida já está com discurso de que “o ano acabou”, o elenco não pode pensar assim. A partir de agora, todo o foco tem que ser em 2025 terminar, no mínimo, com vagas na Libertadores e na Copa do Brasil para em 2026 o Botafogo poder correr atrás do tempo perdido.