* Não dá para negar os méritos de Artur Jorge no Botafogo em 2024. Construiu em pouco tempo um time forte, incisivo, ofensivo, que joga bem e bonito, é líder do Campeonato Brasileiro e está nas quartas de final da Libertadores. Mas dá para ponderar sobre determinadas escolhas do treinador.
* Uma delas é colocar Tiquinho Soares e Igor Jesus juntos no Botafogo. Normalmente, não tem funcionado os dois centroavantes ao mesmo tempo. Talvez dê certo contra um adversário muito fechado que não contra-ataque ou que tenha um jogador a menos. Mas, no geral, o time perde fluidez, velocidade e capacidade de criação. Fica preso e mais fácil de ser marcado.
* Foi o que aconteceu no segundo tempo do empate em 0 a 0 com o São Paulo, pelo jogo de ida das quartas de final da Libertadores, no Estádio Nilton Santos. O Botafogo praticamente acabou quando teve os dois centroavantes juntos. Não levou mais perigo algum. Tanto que Artur Jorge tentou corrigir com Matheus Martins no lugar de Igor Jesus posteriormente.
* Em parte, é preciso citar que o momento de Tiquinho Soares não é bom. Já não estava tão bem, está menos confiante sendo reserva e parece ter dificuldades de encontrar seu melhor nível físico. Parece entrar cansado, sem a intensidade do restante do time. Para piorar, tem atuado como um segundo atacante (ou meia) vindo de trás, tendo que se movimentar mais, construir, fica mais distante da área. E pouco acrescenta.
* Na entrevista coletiva, Artur Jorge argumentou que o Botafogo estava produzindo bastante e queria mais um atacante na área para aproveitar as chances. Só que o cobertor é curto. Quando coloca Tiquinho, tira um jogador que cria lances ofensivos, seu principal driblador, caso de Luiz Henrique.
* Aliás, por que Luiz Henrique sempre é substituído? Ele é o melhor jogador do Botafogo, desequilibra, dribla, finaliza, recebe bola no pé ou em velocidade, cria. Ainda que não tenha rendido tanto contra o São Paulo quanto em sua melhor fase recente, é sempre a peça mais perigosa. E sai na reta final do jogo, depois dos 20 minutos do segundo tempo, quando geralmente as partidas são definidas. Não faz sentido. Ainda que seja uma questão de minutagem ou controle de carga, a hora do grande jogador aparecer é no jogo grande.
* O Botafogo sem Luiz Henrique perde seu jogador mais imprevisível, o que facilita a marcação adversária. Thiago Almada, Savarino e Igor Jesus são grandes nomes, mas não têm o mesmo talento e capacidade de produção ofensiva. Somado ao cansaço natural do segundo tempo, o Botafogo fica mais “controlável”.
* Outra questão, essa um preço das constantes renovações do elenco, foi a entrada de dois novos laterais. Apesar de bons jogadores, Vitinho e Alex Telles ainda não estão 100%, ainda não entrosados, ainda não estão perfeitamente conectados ao esquema. Como estavam Mateo Ponte e Cuiabano, por exemplo, que já entendiam todos os movimentos da equipe. Mas faz parte do processo.
* Por fim, o Botafogo fez um grande primeiro tempo contra o São Paulo, merecia ter feito pelo menos dois gols e encaminhado a classificação. O que é mérito de Artur Jorge, seu esquema, bem treinado, fez o time jogar tão bem. Faltou precisão nas finalizações. Mas ficou tudo em aberto. Esse Botafogo tem força para ir buscar o resultado no Morumbis. Dá para acreditar.