* Artur Jorge, ninguém é escolhido pelo Botafogo à toa. Você saiu de Portugal pela primeira vez como treinador para, em oito meses, se consagrar no Brasil, ganhando Libertadores e Campeonato Brasileiro. Você conquistou uma torcida exigente, sofrida e apaixonada. Você entrou para a história.
* Com todo respeito, você nos parece mais ser um treinador (e uma pessoa) apaixonado pelo futebol, não apenas pelas cifras que envolvem. Seu primeiro objetivo é o jogo, é o talento, são as histórias que ficam eternizadas. O dinheiro é consequência. E o futebol recompensa financeiramente quem pensa nele, enquanto não necessariamente quem pensa no dinheiro é recompensado pelo futebol.
* Dito isso, você é muito mais que um treinador do oitavo colocado do Catar, sem querer desmerecer o Al-Rayyan. É o dinheiro que move a vida hoje de um homem já realizado, casado, com filhos e netos, com tudo estruturado? Ou são sonhos, ambições, construir um legado?
* É no Al-Rayyan que você vai conseguir chamar atenção dos principais clubes portugueses (Benfica, Porto e Sporting)? É no Catar que você atrairá olhares de gigantes europeus? É lá que você terá a oportunidade de disputar um Super Mundial?
* Artur, é no Botafogo que você tem um protagonismo que nunca teve na vida. Foi aqui que você conquistou seu maiores títulos, que deu inúmeras entrevistas, que foi capa de jornal em Portugal, que falou para o site da Fifa, que deu motivos para ser homenageado em seu país. Você está honrando seu nome e o de toda a sua nação.
* Está claro que não é para o Al-Rayyan (ou para outra oferta parecida) que você quer ir. Afinal, se fosse, simplesmente já teria ido. Se esta mesma proposta fosse de Benfica, Porto, Sporting ou de um gigante europeu, você já teria arrumado as malas. Com razão. Você quer ser mais valorizado e recompensado no Botafogo. O que é justo.
* O que não foi justo foi você trazer esse assunto à tona um dia antes do título brasileiro, colocar dúvidas no projeto, desviar o foco, prejudicar até a comemoração de conquistas e o foco na Copa Intercontinental. O que você ganhou com isso? Fez uma pressão externa na diretoria e em John Textor, que parece não gostar disso.
* John costuma ser justo com quem é fiel a ele. É só ver quantos contratos renovou, como de Marlon Freitas, Júnior Santos, Tiquinho Soares, por exemplo. Nenhum deles foi à imprensa pedir aumento ou dizer que tinha outras propostas. É realmente sobre família, é querer estar no Botafogo. E você, Artur, ainda parece querer.
* Se é esse o caso, defina-se logo. Não é o Botafogo que tem procurar você, há um contrato em vigor até o fim de 2025. A decisão é sua: viver como campeão da Libertadores e do Brasileiro, ter tempo (e pré-temporada), disputar sete títulos, ser ídolo da torcida e seguir se projetando internacionalmente; ou encher o bolso de dinheiro e se esconder. Luís Castro escolheu a segunda opção, teve um ano de aventura, foi demitido e hoje tem saudades do futebol brasileiro. Será que ele não gostaria de viver o que você viveu?
* Se você quiser ficar no Botafogo, certamente terá uma torcida de braços abertos, um elenco que o conhece, o admira e o respeita, a formação de um novo time forte e um dono que vai saber o momento certo de valorizar você. Além de continuar com bastante mercado, até pelo ótimo empresário que tem, para no futuro viver outras experiências futebolísticas e financeiras. A bola está com você. Só não demore a se decidir, porque, assim como você foi escolhido pelo Botafogo, outro pode ser. E não haverá dinheiro no mundo capaz de pagar ou de repetir tudo que vivemos juntos.