* A entrevista coletiva de Luís Castro após a vitória de virada do Botafogo por 2 a 1 sobre o Audax, na Taça Rio, teve certo tom de desabafo. Nota-se o treinador desgastado, incomodado, com semblante pesado. Fruto da pressão de um início de ano mais complicado do que se desenhava, por conta do desempenho em um Campeonato Carioca-2023 que antes não valia nada.
* Não se trata de passar pano, mas em parte Luís Castro tem razão. O Botafogo, de fato, evoluiu. Basta comparar o elenco de hoje com o do início de 2022, a estrutura, o Estádio Nilton Santos (que ganhou gramado sintético e passou a gerar receita com grandes shows), o encaminhamento da negociação das dívidas, o nível das contratações em um ano, o aumento da folha salarial.
* O Botafogo cresce e se fortalece, muito mais rápido como SAF do que se ainda fosse apenas o clube associativo, mas talvez mais devagar do que a torcida espera. E do que algumas declarações de John Textor indicaram, quando elevou a expectativa falando em grandes reforços e grandes cifras. Para alguns, parecia que o Botafogo viraria um Real Madrid em um estalar de dedos. Mas a verdade é que o clube tem que subir degrau por degrau.
* E aí o Botafogo precisaria de um tempo que o futebol não dá. Não é de uma hora para outra que terá um CT novo (depende de conversas políticas), o elenco dos sonhos, craques e uma base forte. Todos esses processos demoram. Contratar grandes jogadores exige também que seu clube esteja bem estruturado, dispute as principais competições, pague altos salários e brigue por títulos. Do contrário, essas estrelas não vão aceitar vir.
* O maior problema – e que foge de qualquer prognóstico – é que o desempenho do time comandado por Luís Castro tem sido muito ruim, diante de adversários de divisões inferiores. Atuações fracas contra Sergipe, Portuguesa, Nova Iguaçu e Audax, por exemplo, como também o fato de que ter disputar Taça Rio, geram uma pressão maior e “escondem” o que tem sido feito de bom no clube.
* Não pode em abril, mês que o Botafogo disputará suas principais competições (Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Sul-Americana), o time ter mais de uma hora de dificuldades contra o Audax. Já os últimos 25 minutos, enfim, foram como se espera, com gols, criação de chances, pressão, recuperação de bola no ataque e poucas oportunidades ao adversário.
* Não se justificaram as apostas em Marlon Freitas, Raí e Carlos Alberto no primeiro tempo. Por outro lado, Luis Henrique, Gustavo Sauer, Gabriel Pires e Lucas Fernandes entraram bem e deram mais qualidade técnica à equipe. Luís Castro tem mexido demais na formação inicial, talvez por não conseguir encontrar uma base e um 11 ideal, mas fato é que não dá estabilidade ao time.
* Ainda parece que o que o Botafogo tem é pouco para disputar 18 jogos em dois meses, quatro competições ao mesmo tempo e medir forças contra os principais adversários do país. É mais um risco para todo o projeto. Resta torcer que o time encaixe e tenha um nível maior de jogo, de concentração e de intensidade para sobreviver à maratona que está por vir.