* Entre tantos erros, o maior do Botafogo para 2025 foi permitir a saída de Artur Jorge facilmente, sem brigar pelo treinador. Tudo começa a desandar ainda no dia 7 de dezembro de 2024, quando o português dá entrevista à ESPN dizendo estar com futuro indefinido e valorizado no mercado. Com exceção do título brasileiro no dia 8, dali para a frente “foi só para trás”.
* A tal entrevista incomodou John Textor, que mandou indiretas e não pareceu se esforçar pela permanência do técnico. Soube-se depois que Artur Jorge viajou durante a temporada em avião do dono do Al-Rayyan, que negociou com o clube do Catar antes e que teve um caso pessoal, de traição, separação e novo romance. Tudo influenciou. Mas quem se deu mal foi o Botafogo, que perdeu seu grande comandante.
* Artur Jorge era o líder do projeto em 2024. Obviamente, o dono é John Textor, é quem manda e desmanda. Mas ele não está no dia a dia. O treinador português era protagonista, era psicólogo, era frasista, era motivado, era tático, era físico, era diretor, era comunicador. O Botafogo, sobretudo na SAF, precisa de um comandante assim. Não tem.
* É possível creditar a saída de Artur Jorge à questão pessoal ou à financeira, com a proposta do Al-Rayyan. O que é estranho é o Botafogo não brigar para manter o grande treinador que encontrou, que conquistou Libertadores e Campeonato Brasileiro, que tinha o grupo nas mãos, que tinha sintonia com a torcida, que entendia o clube e o projeto.
* “Ah, mas ele negociou às escondidas”. Pergunte ao Braga sobre o “Jantar de Matosinhos”, no qual o técnico se encontrou com John Textor ainda com contrato em vigor com os portugueses. Situação parecida. Se Artur Jorge agiu assim com sua equipe anterior, por que seria diferente com o Botafogo? Até na esfera pessoal foi assim.
* Abel Ferreira, tão elogiado por John Textor, já recebeu propostas de outros clubes, já ameaçou sair, já teve polêmica de assinatura de documento com outra equipe, já recebeu diversos aumentos etc. O que fez o Palmeiras? Brigou para manter. Colocou seu interesse à frente de qualquer ego. Pensou no que seria melhor para o projeto.
* Fato é que, se Artur Jorge ganhava R$ 1 milhão e pediu R$ 3 milhões, como se especula, hoje dá para ver que seria válido. O barato saiu caro, com Carlos Leiria, Renato Paiva e Davide Ancelotti. O Botafogo passou o ano inteiro sem um treinador confiável. Tentou medalhões que possivelmente queriam salários maiores do que o de Artur Jorge. Técnico bom atualmente é caro, se você encontrou um, esforce-se para mantê-lo.
* Hoje, o Botafogo tem um técnico que nunca foi técnico e que foi coadjuvante a carreira inteira. Com Davide Ancelotti, o clube passou a também ser coadjuvante. Não compete em alto nível, não ganha grandes jogos, é eliminado no mata-mata e vai caindo na tabela no Campeonato Brasileiro.
* A apatia de Ancelotti é contagiante. Ele dá entrevistas identificando erros a cada jogo, mas como age para corrigir? Passa a impressão de que está no Botafogo exatamente para aprender, para fazer um estágio, para ter experiências para um futuro como técnico. Não se coloca como protagonista, como líder, como cabeça do projeto (que tem inúmeros problemas, para os quais ele não estava preparado para lidar).
* O Botafogo de Ancelotti perdeu mais um jogo grande, mais um clássico, desta vez para o Flamengo, por 3 a 0, no Nilton Santos, pelo Campeonato Brasileiro. O italiano improvisou Marçal como zagueiro pela direita (onde saíram dois gols) e não teve qualquer solução tática para o segundo tempo. Após dez dias de treinamento. O time se acostumou a perder. A torcida já sabe que, se o Botafogo levar o primeiro gol, o jogo acabou.
* Seria diferente com Artur Jorge? O resultado real é impossível saber. Mas haveria um técnico para blindar o elenco, que já era conhecedor do futebol brasileiro, que entende a política interna do clube, que brigaria por reforços e pela manutenção de jogadores (Gregore iria para o Al-Rayyan se ele não estivesse lá?) e que seria uma espécie de escudo enquanto a SAF resolve suas confusões.
* Agora já era, não dá mais para chorar o leite derramado. O Botafogo avançou casas em 2022, 2023 e 2024, e retrocedeu em 2025. Resta saber quanto, só o futuro dirá.