* O momento do Botafogo exige uma reflexão. Em um mundo acelerado, de imediatismo e ansiedade, o clube tem um caminho começando a ser construído. O que ele mais precisa não se compra: tempo. É o avançar do projeto que tornará o Glorioso forte novamente.
* John Textor é brilhante, um grande empresário, carismático, já está identificado com o Botafogo. Sabe construir projetos de sucesso, tem os cenários em sua cabeça. Nós, aqui, confiamos nele. Empolga a torcida a cada declaração, a cada sonho grande, seja de reforços, estádio ou CT. Mas acabamos por criar expectativas elevadas demais para o momento. De novo entra a questão do tempo.
* É o tempo que dará ao Botafogo a possibilidade de se estruturar, de encorpar, de ter uma base mais forte, de ter um centro de treinamentos, de poder aproveitar a rede de clubes de John Textor, de voltar a disputar títulos grandes. Não é de uma hora para outra, não é um estalar de dedos, não é tão simples. Há um caminho, o que não existia antes.
* Pense da seguinte forma: você é um jogador renomado e tem diversas propostas. Uma delas do Botafogo, um projeto para o futuro, mas ainda um clube em desenvolvimento, sem um grande time, sem CT, sem disputar competições internacionais este ano. Você pode gostar do projeto e da parte financeira, porém a tendência maior é escolher um clube já estruturado e forte no presente. Não esperar por um do futuro.
* O que o Botafogo não pode é jogar contra si próprio. Não quer dizer que a torcida não tenha que cobrar ou que o técnico não precise exigir estrutura. Só que a construção é em conjunto. Cada um tem que fazer sua parte para o Botafogo ir ganhando tempo e desenvolvendo seus projetos.
* Quando Luís Castro detona a estrutura publicamente em uma semana até então positiva, começa a gerar um ambiente negativo. Ora, o assunto é interno, resolva com André Mazzuco, com John Textor. Tem razão quem diz que a repercussão é ruim e pode ser comparada à da invasão da torcida ao CT. A imagem passada para o mundo não é boa, não ajuda em nada, pode atrapalhar. Roupa suja se lava em casa.
* O treinador vai ser cobrado pelos resultados em campo, assim é o futebol. Pareceu estar irritado por isso, mas é um cenário que já sabia, quando dizia que “resultados compram tempo”. É óbvio que terá mais carta branca e autonomia, assim como terá mais tempo que treinadores brasileiros. É preciso, ainda assim, conquistar pontos e fazer uma boa campanha no Campeonato Brasileiro.
* O tempo (olha ele aí de novo) deu vantagem ao Fluminense no clássico com o Botafogo. Não o dos treinadores, Luís Castro x Fernando Diniz. Mas o do trabalho dos clubes. O time do Fluminense joga junto há mais tempo, é mais estruturado, tem mais entrosamento e ideias coletivas. Ao Botafogo, restou tentar resistir. O que fez bem em boa parte do jogo, Gatito quase não foi ameaçado, a posse de bola do rival não gerava danos. Quando o clássico estava mais equilibrado, veio o gol decisivo, de Manoel. Que poderia ter vindo outro lado, se Saravia acertasse o cruzamento para Erison.
* Entrando especificamente nesse jogo, em que pese a inúmera quantidade de desfalques, faltou mais leitura à comissão técnica de Luís Castro. Não era para tirar Matheus Nascimento, Chay é que estava mal. Não fazia sentido ter três zagueiros afundados na área enquanto o rival controlava o jogo no meio-campo. O time não soube atuar contra o estilo Fernando Diniz.
* É para se desesperar? Não. É para ficar frustrado e irritado pela postura do Botafogo e pelo domínio territorial do Fluminense no clássico. Mas é dar tempo ao tempo, relevar os desfalques e ver como ponto positivo a solidez defensiva, novamente, da equipe. Com um meio-campo mais consistente e ataque mais perigoso, esse time pode fazer bons jogos.
* O que talvez falte ao Botafogo, até ganhar o tão desejado tempo, é subir um degrau de cada vez. O clube ainda está em baixa, tem graves problemas estruturais, começou o clássico com oito jogadores que disputaram a última Série B. Tem que olhar mais o mercado nacional (e o sul-americano) antes de mirar grandes estrelas. Sonhar é válido, é claro, faz bem para a autoestima e para a imagem do clube, mas o que James Rodríguez ou Zahavi, por exemplo, poderiam fazer se estivessem em campo ontem pelo Botafogo? A qualificação da equipe também é um processo, que leva tempo e tem que ser construída passo a passo. Para, no futuro, fazer mais sentido a contratação de um astro e ser maior a chance de receber um “sim”.