Botafogo precisa controlar a sua própria narrativa

Botafogo precisa controlar a sua própria narrativa
Vitor Silva/Botafogo

Obviamente, este começo de 2025 está sendo muito diferente daquilo que nós, torcedores, estávamos projetando após o final de 2024 mágico que tivemos. Não concordo com aqueles que já colocam a temporada do Botafogo em risco, pois formular um pensamento como esse é algo extremamente leviano quando a temporada nem mesmo foi iniciada oficialmente. Temos vários assuntos para debater, mas hoje quero focar em um erro recorrente da SAF Botafogo: não controlar a narrativa sobre o clube.

Desde que a SAF Botafogo foi fundada, temos visto o clube conseguir reter muito mais as suas informações estratégicas do que acontecia na época dos amadores, e isso, sem dúvida nenhuma, é um acontecimento extremamente positivo. Acontece que, em vários momentos, a direção do Botafogo leva essa questão de não se comunicar com o “externo” para um lugar de silêncio extremo. Ou seja, não me parece existir um equilíbrio correto sobre o que deve ou não ser debatido com os torcedores via imprensa ou mídias sociais próprias.

Claro que o Botafogo hoje é uma empresa e, por isso, não tem obrigação de fornecer informes constantes sobre o que acontece internamente. Mas é preciso deixar claro que um clube de futebol não é uma empresa comum. Se a Coca-Cola resolver aumentar o percentual de açúcar nos seus refrigerantes em 1%, ninguém irá pichar o muro da sede com “Acabou o amor, não mexam no nosso açúcar!”. Os clientes de um clube de futebol se consideram donos dele, e isso muda tudo nessa relação. Então, é preciso, sim, externar alguns aspectos do dia a dia e até mesmo do planejamento.

O elemento “paixão” e o fato do futebol ocupar um lugar muitas vezes central na vida das pessoas me fazem defender que o clube tenha um canal de comunicação direto e o mais transparente possível com o seu torcedor. Não se trata de comunicar todo e qualquer detalhe, mas sim de informar o suficiente para deixar os corações e mentes da torcida mais tranquilos e para que exista um alinhamento constante entre a expectativa e a realidade.

Ao longo da era SAF, tivemos alguns momentos em que notícias muito ruins foram publicadas em profusão sem que o clube se posicionasse ou então o fizesse de maneira tardia. Na era das mídias digitais e do vale-tudo pelo engajamento, não controlar a sua própria narrativa é um tiro no pé extremamente significativo. Não é novidade para absolutamente ninguém que notícias ruins ou fake news são propagadas de forma massiva e rápida, ao passo que as retratações ou justificativas são espalhadas através de “pombos-correio”.

A falta de controle da narrativa por parte da SAF Botafogo assume, nesse cenário, o último elemento catastrófico em uma equação que também inclui empresários de futebol descontentes com o clube (com razão em alguns casos e sem razão em outros) e uma parcela da mídia que detesta o Textor e tudo que ele representa. Não precisa ser especialista no mundo do futebol para saber que empresários e alguns jornalistas formam uma aliança capaz de causar danos sérios à imagem de qualquer personagem. O empresário usa o jornalista para conseguir pressionar os clubes, e os jornalistas ganham migalhas em forma de furos ou informações de bastidores. Como enfraquecer essa aliança? Tirando dela a vantagem de falar sobre assuntos delicados antes que o clube o faça!

O Botafogo é hoje o clube que não pode pensar em pisar um centímetro fora do caminho correto. E, enquanto ele continuar dando razões para críticas e não sendo proativo na comunicação, cenários como o de hoje poderão se repetir no futuro.

Acorda, Botafogo!

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