O noticiário do Botafogo vem sendo muito agitado desde que a SAF foi criada, e todas as conquistas deixaram — justificadamente — a torcida com uma expectativa muito alta em relação ao futuro. Ao longo dos últimos anos, vimos um investimento que nunca tínhamos presenciado e, com ele, conseguimos títulos com os quais sonhamos durante décadas. Tudo isso teve um impacto altamente positivo na nossa autoestima, mas tenho reparado que, em uma parcela da torcida, todo esse cenário também trouxe um efeito colateral perigoso: nada parece bom o suficiente.
Acompanhando as especulações e chegadas de novos reforços, reparei que, para uma parte da torcida, o Botafogo é hoje um clube bilionário que só pode trazer jogadores das prateleiras mais altas. Isso é um descolamento da realidade perigoso e que se aproxima muito de um comportamento nocivo que ficou ainda mais latente em boa parte dos flamenguistas após 2019. Muitos de nós ainda não entenderam que 2024 foi um ano de exceção e que o cenário atual não é mais o mesmo. A Eagle Holdings está passando por um processo de reestruturação bastante profundo, que vem trazendo para o noticiário mais dúvidas do que certezas.
Tenho sentido uma impaciência enorme e um grau de implicância muito acima do usual por parte da torcida com relação a alguns jogadores. O Artur (ponta) vem sendo, sem a menor dúvida, um dos jogadores mais produtivos do Botafogo na temporada, mas o fato de não estar no mesmo nível do Luiz Henrique faz com que uma parte da torcida simplesmente não consiga nem mesmo reconhecer quando ele joga inquestionavelmente bem. O Arthur Cabral acabou de chegar, e já existe uma galera pegando no pé dele, com críticas absolutamente injustas, pois o tratam como um jogador lento e fora de forma. E adivinhem: o campo está mostrando exatamente o oposto! Todos os profissionais são passíveis de crítica, mas é preciso criticar com justiça e base em fatos — não em preferências ou implicâncias.
Não entrem na pilha em que os flamenguistas entraram. Fujam dessa lógica de que tudo é insuficiente se não tiver exatamente o mesmo nível de 2024. O Botafogo está sendo refeito, inclusive com um técnico que nunca havia sido treinador principal — algo que, por si só, já traz para esse momento um grau de complexidade e incerteza muito grande (não estou dizendo que ele não tem potencial, leia direitinho!).
Estamos montando novamente um time forte, mas é preciso entender o contexto atual. Deixemos 2024 e seus jogadores na memória, mas sem trazê-los para o presente a cada jogada que um jogador de 2025 não consiga dar sequência.
A hora é de dar confiança a quem entrar em campo e ter paciência. Não tem jeito.