Para surpresa de absolutamente ninguém que acompanha o Botafogo com regularidade, já estamos vendo uma parcela da torcida pedir a demissão do treinador devido ao desempenho no Campeonato Carioca-2024. Obviamente, esse tipo de pensamento não é exclusivo de alguns torcedores, mas dentro da nossa torcida, isso assume contornos especiais, pois a expectativa gerada pela transformação do clube em SAF criou na cabeça de alguns a obrigatoriedade de o Botafogo ganhar sempre, independentemente do adversário, não importando o contexto.
A chegada do Tiago Nunes ao Botafogo se deu em um movimento inédito dentro do clube, pois foi a primeira vez na era SAF em que o treinador não foi escolhido única e exclusivamente por John Textor. Pelo que vimos no noticiário, desta vez a escolha teve a participação importante do nosso setor de scout e do diretor de futebol André Mazzuco. Tenho certeza de que toda a análise que resultou na escolha do Tiago foi feita considerando fatores como o estilo de jogo que ele preferencialmente implementa (vertical, transições rápidas, bom movimento de recomposição defensiva), as características dos jogadores que o elenco já tinha, as características que os atletas a serem contratados teriam, o tipo de gramado que nós temos, a experiência do Tiago em trabalhar dentro de uma estrutura empresarial (o Athletico-PR é um clube que, mesmo funcionando como associação, sempre manteve uma gestão muito próxima à de uma SAF no ponto de vista da gestão), entre outros aspectos.
O ano de 2024 começou, e Tiago não recebeu um elenco equilibrado desde o início, fazendo com que ele optasse por um esquema que praticamente tinha prazo de validade (até o lateral-direito ser contratado). A falha na execução do planejamento de contratação de reforços tirou do Tiago a possibilidade de aproveitar o curto tempo de preparação integral da melhor maneira. Em resumo, o treinador não recebeu até o presente momento tudo o que precisa para que o trabalho possa ser realizado em sua plenitude.
Todo esse cenário é suficiente para eximi-lo de qualquer crítica? Não, desde que os questionamentos sejam feitos dentro de um nível de racionalidade condizente com o contexto vivido até aqui. Acho mais do que justo questionar Tiago por ter escolhido de maneira extremamente equivocada os jogos nos quais os titulares entraram em campo. Creio ser justo criticar algumas substituições equivocadas que ele realizou, como mudar o perfil da zaga na parte final do jogo contra o Nova Iguaçu, por exemplo, a insistência em colocar o Victor Sá em uma posição na qual ele não consegue render bem, e o fato de ter colocado o time principal já no primeiro jogo da temporada após apenas dez dias de treinamento, entre outras coisas.
Mesmo diante de todas essas críticas, que julgo serem justas, é preciso dar tempo ao Tiago. Todos nós sabemos que novas peças serão contratadas ainda nesta janela e que essas chegadas elevarão o nível do elenco. Com essa boa expectativa em mente, é mais do que razoável esperar que o time jogue um futebol mais consistente e que algumas falhas sejam corrigidas, principalmente as defensivas.
No ano passado, passamos por uma situação bastante semelhante com Luís Castro, e isso deve estar sempre no radar da torcida. Obviamente, não podemos afirmar que o mesmo roteiro ocorrerá, mas, no mínimo, precisamos usá-lo como base para oferecer ao Tiago um nível básico de sustentação para realizar o seu difícil trabalho. Tiago não é o treinador dos sonhos da maioria (na qual me incluo), mas tem condições de nos colocar em um nível interessante e competitivo.
Mãos à obra, Tiago!