Esse texto é difícil de escrever. Primeiro, porque ele vem num momento muito complicado do Botafogo — um momento de muitas, muitas incertezas e pouquíssimas certezas. E, obviamente, fazer qualquer tipo de análise dentro de um cenário assim é extremamente complicada de ser feita.
O que eu vou falar aqui não é baseado em achismo. Tem muita coisa com base na realidade (fatos públicos, informações já veiculadas pela grande imprensa). Claro que parte do que vou escrever terá uma dose de sentimento próprio. Então, o que eu trago nesse texto é uma mistura de dados reais, vivência pessoal e, por que não?, o olhar de um torcedor.
O objetivo desse texto é simples: bater um papo sobre se ainda é melhor ter John Textor no comando do Botafogo.
Não é segredo para ninguém que o Botafogo, hoje, é um clube muito mais organizado do que era antes da SAF. Na minha opinião, não tem nem comparação. Textor tem muito mérito nisso — assim como Thairo e toda a equipe deles. Eles organizaram o Botafogo de uma forma muito profissional, e o clube evoluiu demais nesses poucos anos de SAF. Isso me parece realmente inegável.
Mas a gente precisa dar o peso correto para cada coisa. De nada adianta ter uma boa estrutura administrativa se o restante do conjunto não estiver equilibrado. Ser bom de gestão interna, mas falhar na parte financeira ou na comunicação com quem orbita o universo do Botafogo, não adianta muito. Ou melhor, até adianta, mas te impede de chegar no máximo do teu potencial. E é sobre esse equilíbrio que a gente precisa conversar.
O modelo de John Textor sempre foi baseado em ter clubes fora, usar a força da moeda europeia para potencializar o Botafogo. A ideia era clara: o Botafogo serviria para captar talentos na América do Sul, eventualmente receber jogadores com a promessa de que esses caras teriam uma vitrine pra chegar na Europa, dentro da própria rede. Foi assim com Luiz Henrique e, principalmente, com Almada.
É provável que Almada nem tivesse vindo se não houvesse essa ponte com a Europa. Ele foi crucial pra tudo o que conquistamos em 2024. E esse modelo, em teoria, faz sentido. Transferências de jogadores e dinheiro entre clubes da rede, todos se fortalecendo mutuamente.
O problema foi a falta de organização financeira. O caso do Almada é emblemático: o Botafogo contratou o cara, ele nos ajudou absurdamente a conquistar títulos, foi para o Lyon (ajudou a colocar os caras na Liga Europa) e depois foi vendido ao Atlético de Madrid. Até aí, ótimo: o jogador deu retorno esportivo e financeiro.
Mas a pergunta é: para quem foi esse dinheiro? Foi para o Botafogo? Para o Lyon? Ninguém sabe. O que a gente sabe é que, mesmo com tudo isso, o Botafogo não pagou o Atlanta United, clube que nos vendeu o Almadinha.
E aí o modelo desaba. Porque, na teoria, ele é bom: você investe, valoriza, ganha esportivamente e depois vende caro. Mas, na prática, se você não cumpre suas obrigações, o caubói cai do touro.
E não foi só o Almada. Montoro é outro exemplo. Veio do Vélez, virou peça importante, está fazendo falta agora que está machucado — e o Botafogo também não pagou o que devia ao Vélez. Eles já reclamaram oficialmente. Ou seja, não é um caso isolado. É um padrão.
Esse modelo é extremamente prejudicial. Porque hoje, por causa dessas transações mal conduzidas, o Botafogo e o Textor perderam credibilidade no mercado. E a gente não virou SAF para isso.
Então, se esse modelo continuar sendo implementado 100% do jeito que estamos vendo, eu sinceramente não acho que será bom para o Botafogo que o Textor siga no comando. A gente precisa de um projeto que faça o Botafogo ser forte de verdade, e não apenas durante um período de alto investimento externo. Eu sempre quis e defendi um projeto sólido e de médio/longo prazo, e mantenho o meu desejo.
E me dói muito achar que a saída do Textor pode ser melhor para o Botafogo. Dói porque, esportivamente, o Textor enxerga o Botafogo de uma forma que poucos investidores enxergariam. Ele pensa grande, pensa em títulos, pensa o Botafogo como protagonista. E, pessoalmente, eu gosto dele. O John é um pessoa muito agradável para estar ao lado, essa foi a minha mais sincera impressão quando estivemos juntos.
Mas gostar pessoalmente do nosso investidor não é o suficiente. A SAF do Botafogo precisa ser sustentável, transparente e respeitada. E, infelizmente, o que a gente está vendo hoje é o oposto disso.









