Ver o Botafogo vencendo é algo maravilhoso por si só, mas, junto com as vitórias, recebemos os excelentes vídeos dos bastidores feitos e veiculados pela Botafogo TV. Obviamente, nesses vídeos vemos uma realidade editada, que nos mostra somente aquilo que o clube deseja que vejamos. No entanto, esse material pode ser fonte de algumas análises mais aprofundadas.
Ao cruzar o conteúdo desses vídeos de bastidores com aquilo que vemos dentro de campo, podemos confirmar alguns pontos importantes que certamente nos ajudam a entender como esse Botafogo conseguiu sair de um time desorganizado no início de temporada para um time que vem ganhando identidade a cada jogo, pelas mãos (sentiu o dedo dele aí?) e pela visão de futebol do Artur Jorge.
Hoje, quero focar no nítido surgimento de novas e positivas lideranças nesse Botafogo de 2024. Na reta final de 2023, ficou muito clara a existência de um grupo de jogadores que comandavam o vestiário e que conseguiram até mesmo convencer Textor a demitir o Bruno Lage e efetivar Lucio Flavio, que nunca havia sido técnico de futebol de maneira relevante. Não estou querendo dizer que esse grupo de jogadores é formado por profissionais que deveriam estar fora do clube, mas apenas que a liderança deles acabou se provando ineficiente no objetivo de levar o Botafogo ao título.
O ano de 2024 começa e nenhum de nós sabia como o elenco lidaria com toda a herança do ano anterior, a única coisa que todos sabiam era que um trabalho mental forte precisaria ser feito. Nesse cenário, Tiago Nunes precisava ser o grande líder nessa “troca de chip” e o que vimos foi uma incapacidade dele para assumir esse papel da maneira que precisávamos. Contudo, mesmo não fazendo um trabalho no nível necessário, o Tiago foi muito corajoso ao realizar uma ação que pode ter mudado o destino do nosso vestiário para toda a temporada: ele deu a braçadeira de capitão ao Marlon Freitas no jogo contra o Volta Redonda válido pela fase inicial do Carioca.
Todos sabemos que essa atitude não era nada fácil de ser tomada e que certamente traria críticas pesadas, como de fato acabou trazendo. Lembro bem de ter comentado no X que apoiava a escolha do Marlon como capitão e os comentários foram consideravelmente contrários, o que era natural por tudo que fazia parte do “pacote Marlon Freitas” naquela época. Acontece que só quem está dentro do dia a dia do clube pode ver, ouvir e sentir o clima, podendo assim tomar decisões que aos olhos de quem está de fora podem parecer sem sentido.
Desde aquele jogo, o Marlon Freitas assumiu um papel de protagonista e grande líder desse time. Lembro de ver uma entrevista do Jorginho (lateral do tetra e hoje treinador de futebol) no “Resenha com o TF”, onde ele fala sobre o poder de liderança que o Marlon tinha em sua passagem pelo Atlético Goianiense. Ali, me perguntei a razão pela qual ele nunca exerceu o mesmo papel no Botafogo e hoje chego à conclusão de que faltou “espaço” para que todo esse potencial fosse colocado em prática.
Durante o período do Fabio Matias, já vínhamos observando um maior protagonismo do Marlon Freitas, mas isso tem sido ainda mais marcante desde que o Artur Jorge chegou. Em campo, temos um modelo de jogo que potencializa as características do Marlon e o coloca como o centro do nosso meio-campo. Fora das quatro linhas, me parece muito claro que o Marlon Freitas não só observou o “espaço” para se colocar como líder, como sentiu o respaldo do treinador e do time para que pudesse enfim verbalizar seus sentimentos e assumir a posição para a qual tem vocação.
A liderança do Marlon parece ser tão positiva que abriu espaço para que outros jogadores também pudessem expressar seus sentimentos. Já não é incomum vermos o Barboza incentivando os companheiros, o mesmo ocorrendo com o Damián Suárez e, um pouco mais timidamente, com o Júnior Santos, por exemplo. Hoje, parece que o vestiário do Botafogo tem um ambiente mais “arejado” e com uma mistura equilibrada entre a “raiva” dos remanescentes pelo que aconteceu em 2023 e a “fome” dos que chegaram para mudar a mentalidade/astral do grupo em 2024.
O Botafogo do Artur Jorge sabe exatamente o que fazer para usar os aprendizados e frustrações como combustível para fazer de 2024 um ano de redenção, e sob a liderança maior do Marlon Freitas essa sabedoria certamente se intensificará nos momentos mais decisivos que estão por vir.
O Botafogo está sob nova direção, pois como diziam Belchior e Elis Regina, “O novo sempre vem.”