O contexto importa, mais ainda no Botafogo de 2025

O contexto importa, mais ainda no Botafogo de 2025
Vitor Silva/Botafogo

Ao longo dessa “aventura” de comentar sobre o Botafogo, eu venho escolhendo algumas “batalhas” especiais para lutar, mesmo que elas me causem desgaste sempre que faço uma abordagem sobre elas. Hoje, quero falar sobre uma das principais: nunca desconsiderar o contexto antes de analisar algo. Confesso que essa batalha específica tem sido muito difícil e desgastante, pois ela bate de frente com uma cultura muito enraizada no torcedor de futebol (e também em uma parcela de “especialistas”). Cultura essa que retira completamente do torcedor qualquer tipo de “obrigação” de tentar, mesmo que minimamente, equilibrar as doses de paixão e razão em seus julgamentos.

A paixão é um fator central no futebol, e obviamente eu jamais seria contra isso, mas será mesmo que devemos normalizar tão fortemente a ideia de que o futebol possa ser pensado de maneira tão impulsiva? Peguemos o trabalho do Renato Paiva como exemplo. Estamos falando de um trabalho que nem mesmo atingiu três meses e que, praticamente desde o início, já sofreu a crítica mais pesada que o trabalho de um técnico pode sofrer, ou seja, a demissão do Renato virou assunto com ele não tendo nem dez jogos no comando do Botafogo. Não estou dizendo que deveria ter sido dada a ele uma imunidade às críticas, mas sim que é preciso buscar fazer críticas justas — algo impossível de ser feito sem que o cenário no qual o trabalho está sendo desenvolvido seja levado em consideração.

Nós vimos o Botafogo jogar muito mal em vários jogos, e em vários deles o Renato Paiva performou de maneira muito abaixo do que um treinador do Botafogo precisa performar, principalmente quando insistiu em ações que claramente eram equivocadas (colocar o PK de 10, por exemplo). Acontece que, a partir do jogo contra o Fluminense, o time começou a dar sinais de que poderia estar se iniciando um período de evolução. Mas bastou a derrota diante do Bahia para que a grande maioria voltasse a pedir a saída do Paiva — sendo que, no jogo anterior, contra o Capital, ele perdeu dois titulares importantes, sendo um deles o melhor jogador do time e principal fonte de criatividade do elenco. No jogo contra o Bahia, alguns torcedores criticaram o Paiva por, mais uma vez, ter escalado o PK na função de camisa 10, sendo que o PK não passou nem perto de desempenhar tal função no jogo.

Sabe o que causa o tipo de crítica que citei acima? Conceito formado/imutável, incapacidade de leitura adequada de cenário e, em alguns casos, a tão conhecida implicância. Domingo, eu li e ouvi botafoguenses chamando o Paiva de covarde pelas escolhas feitas diante do Flamengo, mas será que essas pessoas têm a real noção do cenário atual? Será que se deram conta de que Santi, Jeffinho e Nathan ainda não têm a capacidade física de sustentar o jogo no nível que o confronto de domingo exigia? Será que não pensaram que o Paiva possivelmente tomaria decisões diferentes se Savarino e Artur estivessem disponíveis, por exemplo? Será que perceberam que as melhores oportunidades do jogo foram nossas? Será que essas pessoas pararam para pensar que o nosso elenco atual não está no mesmo nível que o do Flamengo? Será que esqueceram que o Botafogo ainda está sendo reconstruído depois que o Textor resolveu iniciar 2025 da forma que escolheu?

Nós passamos décadas sendo comandados por dirigentes que tomavam decisões como se ainda estivessem na arquibancada — e o resultado foi catastrófico. Será que não estamos diante de uma excelente oportunidade para agirmos de maneira diferente? Não é razoável pedir a cabeça de um treinador de maneira tão rápida. É preciso acreditar que os profissionais do Botafogo serão capazes de identificar quando todas as possibilidades de recalcular a rota forem esgotadas.

As críticas devem ocorrer sempre que necessárias forem, mas sem nunca serem feitas antes de uma análise cuidadosa e justa do contexto.

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