O gigantesco Botafogo de Futebol e Regatas iniciou oficialmente seu processo de reparação histórica

O gigantesco Botafogo de Futebol e Regatas iniciou oficialmente seu processo de reparação histórica
Vitor Silva/Botafogo

A final da Libertadores foi no último sábado, e eu ainda me pego pensando nela, tentando fazer a ficha cair. Jamais conseguiria descrever em palavras tudo que vivi no Monumental, mas quero deixar aqui um registro eterno dos momentos mágicos que aconteceram na Argentina.

Ao chegar no Aeroporto de Buenos Aires, já tive noção da grandeza daquele final de semana, pois a imigração estava repleta de botafoguenses. Essa percepção foi ainda mais fortalecida quando, no caminho para Puerto Madero, vi camisas do Botafogo ao longo de todo o trajeto. Não é exagero dizer que as ruas da capital argentina foram tomadas pela nossa gente. A região de Puerto Madero poderia ser tranquilamente confundida com alguma área turística do Rio de Janeiro. Havia torcedores do Atlético circulando pela cidade? Sim, e em bom número. Mas dava para ver nitidamente a diferença na quantidade de torcedores dos dois times.

Chegou o grande dia, e eu o iniciei chorando ao escrever o breve texto que publiquei neste espaço no FogãoNET. Lembrei de toda a minha vida como torcedor e das histórias que não vivi, mas que me fizeram amar o Botafogo. Aquele texto foi o modo perfeito de me colocar na vibração do jogo e da importância histórica do momento. A hora de ir para o estádio chegou, e todo o peso do jogo caiu sobre mim como um meteoro. A tranquilidade que estava me acompanhando sumiu, dando lugar à ansiedade para que o jogo começasse logo. Vi inúmeros irmãos de camisa andando e cantando pelas ruas de um país diferente do nosso. Foram alguns dos momentos mais emocionantes do dia.

Quando chegamos próximos ao estádio, vimos que haviam sido colocadas algumas barreiras até que fosse possível entrar efetivamente no Más Monumental. Creio termos ficado por volta de uns 40 minutos parados ao longo de todas as barreiras. Lembro de olhar em volta e ver pessoas de todas as idades. Mais do que isso, lembro de conseguir sentir no ar a confiança que emanava de cada um. Fiz esse caminho chorando porque vi o tamanho do amor que a torcida tem pelo Botafogo. Estávamos todos ali para torcer por um clube que, ao longo das últimas décadas, nos fez sofrer em um nível que poucos aguentariam. Parafraseando a brilhante definição criada pelo Euclides da Cunha: “O botafoguense é, antes de tudo, um forte.”

Entrei no estádio faltando um pouco mais de 50 minutos para o início do jogo, e o primeiro impacto que tive foi com a grandeza do Botafogo. As nossas arquibancadas já estavam tomadas de uma maneira impressionante e incontestável. Logicamente, eu já sabia do nosso tamanho, mas ver um gigantesco estádio estrangeiro sendo tomado pela nossa gente foi o momento em que, pela primeira vez, consegui “tocar” no mítico Botafogo das lendárias histórias. Nós, que estávamos no Monumental, só estávamos lá porque antes existiram pessoas que construíram e solidificaram o Botafogo ao longo de mais de um século.

O jogo começou, e com ele veio a certeza de que não seria trivial. A expulsão relâmpago do Gregore obrigava, desde aquele momento, que a nossa conquista fosse épica, caso viesse. Demorou um pouco para que reuníssemos forças e fizéssemos aquilo que era o motivo de estarmos lá: apoiar incondicionalmente os jogadores. Aos poucos, fomos vendo que o “bicho não estava tão feio” e que o time estava conseguindo reagir bem ao baque inicial. Até que o Luiz Henrique fez o gol, e tudo mudou. A tensão foi imediatamente transformada em euforia e na certeza de que estávamos muito vivos no jogo. Nessa altura, o roteiro já parecia bastante generoso conosco pelas circunstâncias, mas a marcação do pênalti e a posterior conversão nos colocaram em uma espécie de transe coletivo. Naquele momento, tive a certeza de que o título seria nosso. Juro por tudo que é mais sagrado.

O segundo tempo começou com mudanças importantes no lado do Atlético, e logo no início eles conseguiram o gol que, em teoria, incendiaria o jogo. Acontece que foi só teoria mesmo. Nosso time se manteve mentalmente forte, com cada jogador se doando de maneira incansável. A todo momento, eles demonstravam ao adversário que seria preciso algo sobrenatural para virar o jogo. Claro que sofremos ataques perigosos, mas em nenhum momento senti que o vento mudaria a direção do seu sopro. O campo me deu tudo que eu precisava para sentir que a Glória Eterna seria nossa.

Os momentos finais chegaram, e com eles veio a justiça, que está longe de ser uma regra no futebol. O gol do Júnior Santos o solidificou no papel de um dos maiores protagonistas da história do Botafogo na Libertadores e, mais do que isso, iniciou o processo de reparação histórica que o Botafogo viver. Sempre disse que apenas o Santos pode sentar conosco à mesa no que diz respeito ao peso histórico na construção do futebol brasileiro em nível mundial. O problema é que nos faltam títulos para que a “conta feche”, pois o Botafogo ganhou troféus em número muito inferior ao que sua grandeza deveria ter sido capaz de ganhar.

O apito final e o choro copioso de quase todos nós foram o início do processo que unirá o Botafogo lendário ao Botafogo fortemente vitorioso. A conquista da Libertadores de 2024 já é um marco definitivo em nossa história. Não tenho dúvidas de que, se continuarmos sendo profissionais e assertivos como estamos sendo desde a criação da SAF, nossa galeria de títulos será elevada ao nível que todos nós merecemos.

Esse título tão sonhado vai servir para confiarmos ainda mais no projeto e termos a certeza de que narrativa fracassada nenhuma irá nos derrubar. Estamos fazendo parte da maior reconstrução de um gigante clube brasileiro, e isso precisa ser vivido nas tristezas e nas alegrias. Estamos no caminho certo, podem ter certeza disso.

Peço perdão por me alongar, mas o momento merece uma profundidade de detalhes maior. Não quero romantizar derrotas, dores e fracassos, mas preciso dizer do fundo do coração que tudo valeu a pena e eternizou ainda mais esse momento no meu coração e na minha alma. Posso afirmar, sem dúvida alguma, que o dia 30 de novembro de 2024 foi o melhor da minha vida até o presente momento.

Agora, é focar no título brasileiro, porque o gigante precisa querer ser sempre maior do que já é!

Te amo, Botafogo!

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