A demissão de Tiago Nunes precisa ser vista não como algo isolado e motivado apenas pela falta de desempenho, pois na minha visão, ela foi a ponta de um iceberg. Obviamente, o trabalho dele e de sua comissão não conseguiu ser efetivamente bom em nenhum momento, mas será que a culpa desse insucesso é só deles? Não creio…
Já não é de hoje que venho falando sobre John Textor estar aprendendo como gerir times de futebol conforme o tempo passa, e que isso nos traz ônus e bônus. Inegavelmente, a Eagle Holdings tem um projeto interessante para o Botafogo, mas acredito estar faltando uma maior atenção no que diz respeito aos profissionais que nos lideram “in loco”, ou seja, no Brasil.
Nesse período da SAF, já vivemos crises sérias e em todas elas ficou a certeza de que o único profissional do clube que vai se colocar diante da imprensa/torcida vai ser o técnico. A partir dessa constatação, fico me perguntando se existiu uma ordem para que André Mazzuco não estivesse presente em algumas coletivas. Se houve essa proibição, estamos falando de um equívoco grave, o mesmo servindo para o caso dessa proibição jamais ter existido. Nos momentos de maior crise, tivemos uma postura omissa do nosso diretor de futebol, o que, ao meu ver, é algo inaceitável.
Outro ponto que gostaria de discutir é sobre o planejamento dos nossos inícios de temporada, pois tanto em 2023 quanto em 2024 foram cometidos erros graves que nos fizeram ter um período de treinamento subutilizado. Isso já seria ruim por si só, mas acaba sendo agravado pelo calendário apertado e irracional que temos no Brasil (culpa dos clubes desunidos, sempre bom lembrar). Em ambos os inícios de temporada, tivemos jogadores chegando tardiamente, a não utilização integral do período permitido pela Ferj para o uso de jogadores “não principais”, jogadores claramente sem muita vontade de estar em campo no Carioca, entre outros pontos negativos.
Será que o fato de o Tiago nunca ter conseguido treinar com todo o elenco montado (devido à chegada tardia de alguns jogadores e às lesões) não influenciou no desempenho geral do time? Será que o fato de o departamento de futebol ter concordado com a escalação dos titulares já no primeiro jogo não influenciou na evidente falta de evolução tática, física e técnica que estamos presenciando? Será que a liberação de Mateo Ponte para que ele jogasse pelo Uruguai era realmente necessária? Tiago cavou a sua própria cova através de decisões equivocadas (opcões táticas ruins, declarações expondo jogadores, etc), mas me parece inegável que a diretoria ofereceu a pá.
Tudo que escrevi até aqui, na minha opinião, evidencia que o Botafogo está carente de um comando firme/assertivo no dia a dia do Lonier e que também pode estar ocorrendo uma falta de cobrança interna pela excelência. A cada dia que passa, fica mais forte em mim a certeza de que o sucesso no primeiro turno do Brasileiro de 2023 só ocorreu pela presença do Luís Castro e sua comissão técnica no clube. Desde que aconteceu a saída deles, houve vários momentos em que o Botafogo pareceu estar sem comando.
Eu faço parte do grupo que enxerga a existência de um projeto sério e promissor no futebol do Botafogo, mas me parece bastante claro que existe um problema não nas ideias, mas sim na execução delas. Hoje o Botafogo precisa de um comando forte em seu dia a dia, e as altas lideranças devem cobrar esse comando para que a não realização do máximo potencial do nosso elenco seja algo que cause indignação, incômodo e medidas corretivas urgentes/assertivas.
O Botafogo precisa de um choque de gestão, e esse movimento não será completo apenas com a saída do técnico. Hoje me parece real a necessidade de substituição do Mazzuco e uma reorganização no departamento de futebol. Não adianta apostar apenas na chegada de um treinador para que tudo melhore, é mandatório o estabelecimento de uma organização que sustente o clube para além do trabalho dele.
O impacto causado pela saída de Castro precisa servir como aprendizado.