Sim, nós teremos que recomeçar o trabalho mais uma vez. Devo confessar que me chateia muito estar vivendo essa realidade, pois sou um enorme defensor da continuidade dentro do trabalho realizado em um clube de futebol. John Textor pode ou não ter acertado na demissão de Renato Paiva — isso só o tempo vai dizer —, mas a certeza de que ele não deveria ter contratado o treinador português existe desde sempre. Dentro desse cenário, não é possível dizer se entramos ou não no rumo correto, e é sobre isso que quero falar hoje.
Muitas pessoas têm me perguntado sobre qual a minha expectativa para o trabalho do Davide Ancelotti, e a minha resposta tem sido: tudo é uma incógnita neste momento. Obviamente existem pontos positivos e negativos nessa escolha, mas os argumentos de ambos os lados estão longe de serem sólidos o suficiente para embasarem uma análise certeira. A imprensa tradicional tem focado muito na inexperiência do Ancelotti como treinador principal e no enfraquecimento do nosso time titular após as saídas recentes (principalmente Igor Jesus e Jair). Claro que esses pontos me preocupam, mas por qual motivo os aspectos positivos não estão recebendo um peso igualmente importante?
O futebol europeu de elite tem um nível de exigência gigante, e “subir” na carreira é algo que normalmente só ocorre quando o profissional tem muita qualidade. Dito isso, o Davide não cresceu dentro da hierarquia da comissão técnica do Carlo apenas por ser filho do treinador principal, ele ascendeu por ter demonstrado, na prática, qualidades importantes e resultados efetivos em momentos decisivos (como os que viveu mais recentemente no Real Madrid, por exemplo). Estamos falando de um profissional que teve papel central na elaboração e preparação de jogos com o mais alto nível de exigência do futebol mundial.
Claro que ser auxiliar e ser técnico principal são papéis que não estão na mesma prateleira, mas, para sair de um e entrar no outro, é preciso mostrar qualidade — e o Davide mostrou. A minha grande dúvida não está na capacidade dele para montar treinos, estratégias e equipe técnica, mas sim em como ele vai lidar com o “peso” que a nova função necessariamente trará para o trabalho dele. Muitas pessoas costumam ignorar o peso que o simbolismo exerce em nossas vidas, e talvez isso torne as coisas mais difíceis do que poderiam ser. Ser o ponto focal de decisões grandes traz uma responsabilidade que o Davide não teve até o presente momento, e esse é o ponto que me deixa mais alerta no trabalho dele.
Essa minha dúvida sobre como ele vai lidar com o peso da nova responsabilidade me faz não criar altas expectativas por ora. Prefiro deixar o barco navegar um pouco antes de prever qual curso ele vai seguir. Hoje em dia todo mundo cobra que o outro tenha uma opinião formada sobre tudo, mas eu definitivamente não me sinto pressionado por essa bobagem. Até que chegue o momento em que tenhamos elementos concretos para a realização de uma análise mais densa, seguirei apenas torcendo para que dê super certo mesmo.
Boa sorte para todos nós!