Parece que veremos mais um treinador estrangeiro comandando o Botafogo e isso me traz alguns questionamentos que podem ser resumidos em uma pergunta: torcedores e jornalistas/influencers estão verdadeiramente preparados para mais um treinador europeu?
Ao longo do período da SAF, tivemos dois treinadores portugueses que acabaram explicitando diferenças culturais muito marcantes (entre Brasil e Europa) e capazes de gerar conflitos significativos entre os envolvidos. Enquanto Castro e Lage estiveram no Brasil, foi muito comum vermos declarações deles sendo recebidas com muitas críticas. Todo treinador que nunca trabalhou no Brasil irá precisar de um tempo para assimilar como o futebol é pensado e mais do que isso, como ele é jogado (dentro e fora do campo, diga-se). Alguns vão dizer que apenas escrevi algo óbvio, mas infelizmente vivemos em um tempo no qual o óbvio precisa ser dito inúmeras vezes.
Partindo desse ponto, quero fazer algumas perguntas:
1) Será que todos aprendemos que os novos treinadores eventualmente farão testes já realizados e que não deram um resultado positivo no passado?
2) Será que já aprendemos que quando um treinador português não se mostra muito preocupado com a possibilidade de demissão, isso não tem relação nenhuma com falta de comprometimento dele com o Botafogo?
3) Será que estamos preparados para que o treinador tenha uma leitura equivocada sobre a necessidade do time em determinado jogo por não dominar o contexto?
4) Será que iremos entender quando o treinador português se incomodar com xingamentos e vaias?
5) Será que vamos tentar entender o lado do treinador caso ele insista em algo que não nos agrada?
6) Será que nós jornalistas/influenciadores vamos ter a necessária justiça ao fazermos as críticas?
7) Será que todos nós iremos ao máximo tentar entender o contexto do clube antes de colocarmos a culpa somente no treinador?
Eu sei que praticamente todos esses questionamentos também se aplicam aos treinadores brasileiros, mas o meu ponto, é que tudo acaba sendo potencializado quando o treinador em questão é estrangeiro (especialmente no caso dos europeus). Me parece possível afirmar, que o fato do torcedor brasileiro ser essencialmente resultadista, acaba tornando a relação com os treinadores europeus mais conflituosa. Para esses profissionais, é muito difícil entender como no Brasil várias críticas são feitas levando em consideração somente quantas bolas entraram nos gols.
Os europeus formam-se em um ambiente onde existe uma cultura na qual o resultado do campo é construído através de um pensamento que privilegia a excelência e a continuidade. Quando eles são expostos ao cenário brasileiro, onde frequentemente a cobrança não leva em consideração quase nada do que acontece no extracampo, eles normalmente partem para um discurso que muitas vezes é recebido pelo torcedor como se o treinador o estivesse ensinando como torcer.
A dificuldade em dosar “paixão” e “racionalidade”, é para mim o principal aspecto que precisa ser amadurecido pelo torcedor brasileiro e mais ainda pelo do Botafogo. Obviamente as inúmeras decepções que tivemos nas últimas décadas nos deixaram feridas e traumas, mas na minha visão, precisamos evoluir e entender que é preciso pensar o futebol de uma maneira que não ignore tanto o obrigatório contexto do Botafogo.
Tomara que a gente tenha aprendido alguns ensinamentos com as experiências recentes que tivemos, pois certamente precisaremos quando o novo português chegar.