Textor obviamente quer ser campeão com o Botafogo, mas do jeito dele

Textor obviamente quer ser campeão com o Botafogo, mas do jeito dele
Vitor Silva/Botafogo

Muito se fala dentro da torcida sobre quais são as reais ambições de John Textor em ganhar um título com o Botafogo, e essa conversa fica sempre mais forte durante as janelas de transferências. Ao longo desses dois anos de SAF, muitos dos pensamentos do Textor foram vocalizados por ele próprio, e outros tantos foram “desvendados” por aqueles que analisaram as ações concretas do Botafogo na busca por jogadores e nas decisões estrategicamente relativas ao funcionamento cotidiano do Departamento de Futebol.

Não é novidade para ninguém que o Botafogo faz parte de uma estrutura multiclubes, o que traz elementos positivos e negativos, como quase tudo na vida, diga-se. A Eagle Holding possui um poder de investimento consideravelmente forte, mas está longe de ter o lastro financeiro do Grupo City, por exemplo. Partindo dessa premissa, é possível identificar claramente como o Textor quer estruturar seus clubes para que consigam retorno esportivo e financeiro através da tão falada inteligência de mercado.

Obviamente, John quer ser campeão com todos os seus clubes, mas ele quer chegar aos troféus do seu jeito. Todo o sistema da Eagle Holdings está baseado na prospecção/desenvolvimento de jovens talentos que possam jogar muito e render altas cifras em suas respectivas transferências. Já repararam que nenhum clube da rede tem o perfil de ser um time “ponto final”? Botafogo, Lyon, Molenbeek e Crystal Palace são clubes que servem como ponto de passagem para esses jovens talentos chegarem aos clubes mais ricos do mundo.

O objetivo me parece ser usar o “sistema contra o sistema”, pois você usa o dinheiro deles na montagem de uma robusta rede de busca por jogadores, rede essa que possibilitará achar os melhores jovens antes dos clubes mais ricos os encontrarem. Ao mesmo tempo que os clubes da rede vão fortalecendo seus setores de scout, eles vão montando elencos com jogadores experientes cada vez mais qualificados para que os jovens talentos possam se desenvolver sem pressão e ao mesmo tempo fazer a diferença nos jogos.

Obviamente, adoraríamos ver a chegada de jogadores renomados e de qualidade técnica e física ainda mais altas, mas não adianta fecharmos os olhos para a realidade. Eu sempre falei que estamos passando por um processo complexo e lento, mas que, se for bem feito, poderá nos colocar em níveis competitivos muito altos. O Botafogo precisa acertar os erros que tem cometido na execução do seu planejamento de elenco, mas não podemos esquecer que, ao contrário de grupos multiclubes já maduros, a dupla Eagle Holdings/Textor está aprendendo sobre futebol conforme vai executando o inicialmente planejado.

Temos visto a SAF cometer erros básicos (anúncio equivocado do Manafá, falta de opção “liberada para jogo” na lateral direita, comunicação ruim com o torcedor, efetivação do Lucio Flavio, etc.) e isso tem nos irritado, mas também houve acertos em situações complexas (negociação de dívidas, incorporação de bons/excelentes jogadores sem pagamento da taxa de transferência, melhora na estrutura física do time principal, fortalecimento administrativo, etc.). Esse “mix” evidencia ainda mais o fato de estarmos vivendo o difícil período de aprendizado e amadurecimento da Eagle e do Textor.

Nosso papel é cobrar para que a SAF não cometa erros repetidos como os que cometeu nos dois últimos anos de planejamento e execução das nossas pré-temporadas. A evolução precisa ser contínua! Devemos ter a consciência de que hoje a nossa influência nas decisões do clube é quase nula, mas isso não deve nos fazer deixar de cobrar com contundência (sem nunca esquecermos de fazer isso com respeito e educação!).

Você pode concordar ou não com o modelo do Textor, mas o caminho estabelecido por ele para que o Botafogo ganhe títulos está muito claro.

Eu sigo apoiando o projeto, mas sempre acompanhando de perto e cobrando que o melhor trabalho possível seja feito no Botafogo.

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