“Bola para frente! Júnior Santos tá brigando, ganhou. Tá indo para a linha de fundo com a bola o Júnior Santos. Tá segurando a bola na linha de fundo. Opa, passou por todo mundo. Entrou na área. É só rolar. Rolou… Matheus Martins… É gol, do Júnior Santos. GOL DO JÚNIOR SANTOS!”.
A frase acima poderia ter sido usada por qualquer profissional que estivesse narrando o lance decisivo do título da Libertadores-2024 conquistado pelo Botafogo no último sábado (30/11). No entanto, ela é muito mais que isso. É o recorte de uma linda história de amor entre dois irmãos.
Jair e Jeferson Conrado têm 29 anos, são gêmeos. Nascidos em 1995, em Brasília, tinham poucos meses de vida quando o Botafogo bateu o Santos, no Pacaembu, e conquistou o segundo título do Brasileirão. Desde então, poucos motivos para comemorar por conta do Glorioso. A falta de troféus mais expressivos na vida dos irmãos botafoguenses, porém, era mero detalhe.
É que com apenas dez anos de idade, Jeferson teve que lutar contra um tumor. Ele venceu a guerra, mas ficou com marcas da batalha: como sequela, perdeu totalmente a visão. “Meu irmão foi diagnosticado com câncer, um tumor no cérebro em 2005. Sentia dor de cabeça, visão embaçada. Achávamos quer era algo simples e fomos providenciar óculos, mas ele não melhorava. Fizemos uma vaquinha para ser atendido por um especialista e aí tudo mudou. Tirou o tumor, era benigno, graças a Deus, mas teve essa sequela”, disse Jair ao FogãoNET.
A partir do novo fato, Jeferson, sempre ao lado da família, começou uma nova vida. O início, claro, foi difícil. Uma criança de apenas dez anos e que perdeu a visão ficou também em depressão. É nesse momento que o Botafogo passa a ter um papel fundamental. Foi o clube que os uniu ainda mais e deu motivos para seguir em frente.
“O Botafogo foi extremamente importante nessa readaptação ao mundo. Ele vivia com um rádio escutando os programas, ouvindo os jogos. Sempre gostamos muito de futebol, mas depois de toda a situação foi um divisor de águas em um novo mundo sem a visão”, afirmou Jair.
Unidos também na profissão. Ambos se formaram em direito e, mesmo com a dificuldade imposta pela vida, Jeferson conta com ajuda da tecnologia para desempenhar seu trabalho. Nesse momento, Jair tem ganhado a vida como motorista de aplicativo.
Em dias de jogo do Glorioso eles se reúnem, seja em casa ou no estádio sempre que possível. Na final da Libertadores, eles saíram de Brasília com o carro de Jair (veículo de trabalho) e foram para Buenos Aires. Três dias de viagem para ir e mais três para voltar. Foram mais 6 mil quilômetros e um sonho. E deu certo. Não só viram o Botafogo conquistar um título inédito, como protagonizaram um dos momentos mais emocionantes dos últimos dias.
“Foi incrível tudo o que a gente viveu na Argentina. Cruzamos o Brasil de carro pelo Botafogo. Tudo o que já passamos pelo clube merecíamos um desfecho e fazer parte disso. Nós fomos escolhidos para estar lá, para ser botafoguense, que não é para qualquer um”, contou Jeferson.
“Ter meu irmão do meu lado, meus olhos dentro do campo. Ele descreve com perfeição tudo o que acontece. É incrível, irmão gêmeo que tenho, temos uma ligação além de Botafogo, mas muito por conta de Botafogo também. Ter vivido essa experiência num ambiente alvinegro foi inesquecível”, completou.
Acidente na volta para casa
A volta para a casa não foi como os irmãos gostariam. No meio do caminho, já no estado de São Paulo, um veículo perdeu a direção e invadiu sua pista. Jair conseguiu desviar, mas bateu no muro lateral. Ele quebrou o pé e o pulso. Jeferson está com o corpo dolorido, mas sem nenhum problema mais grave. Michel, cunhado de Jefão, sofreu uma fratura na cabeça, mas passa bem.
Eles foram levados até uma oficina e gastaram cerca de R$ 3 mil só para deixar o carro em condições de voltarem para Brasília. Agora, Jair precisa dar um jeito para que o veículo, seu ganha-pão, fique pronto para voltar às ruas.
“Tivemos essa complicação na volta. Tivemos esse acidente e ficamos com o carro destruído, ficamos um pouco machucados, mas ter acompanhado o Botafogo lá valeu muito a pena tudo. Bens materiais a gente vai dar um jeito de reconstruir, mas essas lembranças e momento vivido não tem preço, ficou para história”, concluiu Jeferson.
Quem estiver disposto a ajudar os irmãos nessa missão pode enviar Pix para 61983576570, de Jeferson Conrado dos Santos, no Banco Itaú.