No dia 12 de agosto de 1904, em um casarão na esquina do Largo dos Leões, local sagrado do Botafogo, Flávio, Jacques, Vicente, Arthur, Emmanuel, Álvaro, Otávio e Antônio fundaram um clube de futebol. Decidiram que a mensalidade seria de 2 mil réis e, para economizar, usaram o talão de um extinto clube de pedestrianismo, o Electro, dando origem ao primeiro nome do clube. Flávio, eleito presidente, tinha como principais atribuições cuidar das bolas e manter boa relação com a vizinhança. Ele acreditava que o clube, composto por jovens entre 15 e 18 anos, precisava de “homens”, como ele dizia, e por isso barrava a inscrição de garotos mais novos. Ele não queria “calças-curtas”, expressão para crianças que usavam bermudas de colégio.
O primeiro campo do Botafogo foi no Largo dos Leões, onde as palmeiras imperiais serviam como traves improvisadas. Para corrigir a diferença de distância entre as traves, usavam um paralelepípedo. Cercado por casas, o campo gerava muitas janelas quebradas e bolas chutadas para longe, que o bonde que passava pelo bairro frequentemente destruía. Os vidros quebrados eram ressarcidos com quase todo o valor arrecadado das mensalidades. Já as bolas, eram recuperadas por Paulinho, um calça curta, que chegava todos os dias montado em seu pônei para torcer e pronto para salvar as bolas antes que o bonde as destruísse, economizando assim bons trocados para o Electro, sendo assim nosso primeiro gandula.
Benjamin, também um calça curta, procurou Flávio. Com as mãos enfiadas nos bolsos e quase se equilibrando nas pontas dos pés para parecer mais alto, disse que queria ser sócio. Flávio, três anos mais velho, coçou o queixo e tentou explicar que no Electro não havia espaço para meninos. Benjamin, insistente, argumentou que já tinha 12 anos e pagaria a mensalidade como qualquer outro. Flávio manteve sua convicção de que o clube era para “gente grande” e recusou a filiação de Benjamin, que saiu indignado e prometendo fundar outro clube. A única exceção feita foi para Antônio, também de 12 anos, cuja família doava bolas para os jogos no Largo dos Leões, até o momento em que a governanta o buscava e a brincadeira terminava.
Flávio seguiu firme em suas convicções, e o clube prosperou. No entanto, ele cometeu um erro de julgamento: o Botafogo não é um clube de adultos, mas sim um clube fundado e construído por crianças…
Paulinho continuou apaixonado pelo Botafogo e acompanhando sua trajetória. Já mais velho, com nome de gente grande, Paulo Azeredo presidiu o clube em 1923 e, posteriormente, entre 1926 e 1936. Durante esse período, conseguiu o aforamento de General Severiano, construiu a sede social e conquistou cinco campeonatos cariocas, incluindo o tetracampeonato. Voltou a ser presidente do Botafogo F.R. entre 1954 e 1963. Montou o celebre time base da seleção brasileira com contratações de impacto, como Didi e Zagallo, conquistando mais três Cariocas, entre outras taças no futebol, construiu a sede do Mourisco e investiu nos esportes amadores, consagrando o clube em 1962 como campeão de “terra, mar e ar“, com 120 títulos conquistados.

Benjamin, por sua vez, realmente fundou seu próprio clube de futebol. Mas, com o tempo, retornou e fundiu seu time de garotos com o Botafogo, criando assim a nossa primeira divisão de base. Benjamin, conhecido como Mimi Sodré, tornou-se o primeiro grande ídolo do Glorioso, campeão carioca em 1910 e 1912, sendo artilheiro na segunda conquista. Ele foi o primeiro jogador do Botafogo a marcar um gol pela Seleção Brasileira, além de ser presidente conciliador do clube no início dos anos 1940.
Na próxima segunda-feira (12/8), o futebol do Botafogo completará 120 anos, e aqueles que moldaram essa paixão jamais serão esquecidos, muito menos pelo tempo. O tempo sempre esteve ao lado do Botafogo, assim como das crianças que cresceram junto com o clube.
Abaixo, imagens restauradas e inéditas ao grande público de um jogo do Botafogo F.C. em nossa casa: General Severiano. A partida foi uma homenagem a Mimi Sodré.
Salve o Glorioso!