O Botafogo teve uma semana bastante agitada com a contratação do atacante Luiz Henrique, a mais cara da história do futebol brasileiro. Desde a primeira notícia veiculada, a sensação era que havia começado uma “operação achincalhe” na imprensa contra a instituição. Um método usado historicamente para emplacar a narrativa que mais agrade a certos receptores.
Barriga de aluguel, clube satélite, contratação mais cara desconsiderando a inflação, empresários ocultos tumultuando, tempo de contrato etc. O arsenal de narrativas foi utilizado quase como uma operação de guerra para municiar os rivais. Porém, raras análises sobre o modelo de negócio ou, por exemplo, de como essa contratação é importante para todo o contexto da rede, além do ganho esportivo para o Botafogo. É essencial que Luiz Henrique vá bem aqui em grandes campeonatos, siga um caminho forte europeu e abra porta para os próximos virem, por exemplo. O Botafogo precisa se inserir no carrossel de futuros talentos do futebol europeu. É uma receita que todos os clubes grandes no Brasil têm. Mas esse tipo de análise não serve e nunca serviu. Só o achincalhe mesmo. E não é de hoje.
Há 75 anos, mesmo passando esquecido pela SAF e clube social, ganhávamos o primeiro título após a fusão do futebol com o remo. A imprensa reportava que quebrávamos um jejum de 16 anos, desconsiderando o tetracampeonato 1932 a 1935. Os três últimos haviam sido vencidos durante a cisão da federação, mesmo o Botafogo disputando o torneio oficial. Em matéria publicada em 23/12/1948 na revista Esporte Ilustrado, Charles Guimarães escreve de forma categórica sobre o tema:
“Há um detalhe precioso que foi esquecido pela crônica esportiva. Não decorrem absolutamente 16 anos desde que o Botafogo levantou o último título de campeão da metrópole, porque em 1935, embora estivéssemos na época da dissidência, coube ao ‘Glorioso’ levantar o título daquele ano, justamente na entidade oficial, isto é, filiada à Confederação Metropolitana de Desportos, ou seja, a Federação Metropolitana de Desportos. Com este esclarecimento queremos fazer justiça ao clube de General Severiano, pois até os títulos de 1930 e 1932 lhe tiraram, para alcunhá-lo como o campeão de 1910, ano em que obteve o pomposo título de ‘Glorioso’”.
Certas coisas não são coincidência, são método. Não somente com o Botafogo, sendo justo, outros grandes cariocas, como o rival da colina, sempre passaram por isso. Na final da Copa do Mundo de 1950, o Uruguai fez dois gols em jogadas idênticas explorando as costas do lateral esquerdo Bigode, a culpa recaiu sobre o goleiro Barbosa. Uma bala Juquinha para quem adivinhar o time em que cada um jogava. Ou o goleiro dos 7×1, mais gols em Copas que o Pelé, nunca lembrado pela mídia quando citam tal jogo. Ou os 6×0 de 1972 não ter nenhum registro em vídeo. Ou “Botafogo levanta um Estadual esvaziado” etc.
Ao longo da história, a linha de frente para a proteção da instituição sempre foi a torcida. Sempre estivemos nas trincheiras quando precisou. Com a explosão das redes sociais, narrativas circulam de forma explosiva e a defesa do Botafogo passa por nós. Devemos separar a administração do clube que sempre estará à mercê de elogios e críticas, da instituição Botafogo.
Há quase 75 anos, 12/12/1948, o primeiro Carioca disputado após a saída de Heleno de Freitas, primeiro ano de Nilton Santos como jogador do Botafogo, primeiro ano de Carlito Rocha como presidente de forma oficial do clube e o surgimento de Biriba. Porém, aproveito o espaço para lembrar de quem esteve na linha naquela data em General Severiano na imagem inicial que ilustra este texto.