No dia 22 de dezembro de 1957, o Botafogo enfrentou o Fluminense na decisão do Campeonato Carioca daquele ano. Após um torneio acirrado, com troca de lideranças, os velhos rivais do futebol carioca se encontraram com o time das Laranjeiras tendo a vantagem do empate. Foi uma final histórica, apimentada pela transferência de Didi no ano anterior.
Em 1956, em um plano para atrair grandes jogadores e ganhar mais visibilidade, o presidente Paulo Azeredo aproveitou uma briga entre Didi e o Fluminense e fez o que os tricolores achavam impossível: pagou o valor pedido pelo craque das Laranjeiras. Paulo Azeredo não só pagou o valor, como fez isso em dinheiro, em espécie, fazendo o rival passar a noite contando as notas e sabendo que seu grande craque viria para o Botafogo.

No ano seguinte à contratação, a cidade respirava a grande final. Era assunto em cada esquina, e os clubes tentavam não demonstrar ansiedade perante a imprensa. Em entrevista ao Jornal dos Sports, o diretor do Botafogo, Renato Estelita, afirmou que nada mudaria na rotina do clube naquela semana.

Ninguém esperava a aparição do gigante Carlito Rocha. Em entrevista ao Diário Carioca, Carlito afirmou que “Deus havia lhe apontado o Botafogo como campeão daquele ano”.

A frase de Carlito movimentou o pré-jogo do Botafogo. Renato Estelita reapareceu afirmando que acreditava em Carlito, pois a estátua do Cristo Redentor ficava de costas para as Laranjeiras. Já Nilton Santos disse que faria suas tradicionais orações. Um torcedor foi à concentração do Botafogo na véspera da decisão, levando uma camisa de Paraguaio (primeiro camisa 7 do Botafogo) e uma de Nilton Santos usadas no título de 1948, pedindo para que Garrincha e a Enciclopédia as usassem na decisão para dar sorte. Infelizmente, por já estarem desgastadas, não foram utilizadas. João Saldanha, treinador alvinegro, garantiu o título em telefonema com o presidente do clube.
No dia do jogo, a confiança se refletiu em campo na maior goleada da história das finais do Carioca: 6 a 2 para o Botafogo, com 5 gols de Paulo Valentim, incluindo um de bicicleta, show de Garrincha e um massacre digno de uma premonição divina. A torcida alvinegra, ensandecida, cantava “6 a 2 no pó de arroz”. A repercussão nos dias posteriores foi enorme em todo o Brasil.
Festa do título pelo Brasil
Além de receber milhares de cartas vindas de todo o Brasil, o título foi comemorado pelas ruas de diversas cidades. O Jornal dos Sports destacou a comemoração em Salvador com a matéria “Vibraram os baianos”:
“Grande vibração foi observada em todo o estádio da Fonte Nova quando os alto-falantes anunciaram o placar, e depois o segundo e terceiro gols do Botafogo. Demonstrando possuir um grande número de adeptos entre a torcida baiana, o nome do Botafogo era saudado com foguetes e demonstrações de grande alegria. As comemorações prosseguiram após o jogo, com ambiente festivo em muitos bares e ruas da cidade.” (Jornal dos Sports, 23 de dezembro de 1957)
A caminhada de Didi
Didi havia prometido caminhar até sua casa nas Laranjeiras caso fosse campeão. E cumpriu a promessa. O craque foi até General Severiano para a celebração do título em um carro do corpo diplomático (Jornal a Noite, 23 de dezembro de 1957) e de lá caminhou junto com sua esposa, Dona Guiomar, e a torcida alvinegra até sua residência, passando pelo seu ex-clube, que havia perdido o título.

A promessa de Nilton Santos
Após o Botafogo fazer 4 a 1, Nilton Santos e o zagueiro Tomé começaram a rasgar suas camisas aos poucos. A enciclopédia havia feito essa promessa em caso de título. Em entrevista ao Jornal dos Sports, o zagueiro Tomé explicou a cena: “Eu havia combinado com o Santos. Se fossemos campeões, íamos rasgar as camisas. Cada gol eu rasgava um pouco”.
Esse fato gerou diversas histórias de pessoas querendo rasgar camisas de jogadores do Botafogo para guardar como lembrança e foi bastante repercutido na época:
“Hoje eu fui reconhecido por uma senhora na rua que me mostrou um pedaço da camisa do Edson.” – João Saldanha.
“O filho do Bebiano (vice-presidente do Botafogo) apareceu em casa com um escudo do Botafogo dizendo que era da camisa do Paulinho Valentim.” – Mario Filho.
A camisa rasgada por Nilton Santos está costurada e guardada hoje em General Severiano, no acervo do nosso ídolo.
Há coisas que só acontecem…
Recentemente, a frase “Há coisas que só acontecem com o Botafogo” foi associada a uma coluna do renomado alvinegro Paulo Mendes Campos em referência ao campeonato de 1957. No entanto, essa expressão já existia há muito tempo e inicialmente foi associada ao Vasco, antes de se vincular ao Botafogo. Em uma matéria de 1947, dez anos antes, já se fazia referência ao nosso clube.

Na repercussão do título de 1957, o jornalista Mario Filho, ao entrevistar Sandro Moreyra, mencionou: “Há aquela frase que há coisas que só acontecem com o Botafogo e Vasco.” A coluna de Paulo Mendes Campos provavelmente ajudou a popularizar ainda mais essa expressão já conhecida.
O Deus de Carlito – Pós-jogo
Por fim, após a partida, o jornal “A Notícia” procurou Carito Rocha para uma declaração sobre a visão que se concretizou em um acachapante 6×2:
