A Estrela x o ‘Pálido Ponto’: discussão sobre fair play financeiro vira cortina de fumaça

A Estrela x o ‘Pálido Ponto’: discussão sobre fair play financeiro vira cortina de fumaça
Arthur Barreto/Botafogo

Em setembro de 1977, a NASA lançou a sonda Voyager 1 em uma jornada sem volta para explorar o espaço. Em 1990, já a 6 bilhões de quilômetros da Terra, após atravessar o sistema solar, ela enviou sua última foto. Nomeada “Um Pálido Ponto Azul”, a imagem revela nosso planeta como um minúsculo ponto, quase imperceptível, na vastidão do espaço. Com a Terra menor que um pixel, a foto, solicitada pelo astrônomo Carl Sagan, simboliza a fragilidade e a insignificância do nosso mundo frente à imensidão do cosmos.

Às vezes, precisamos ser lembrados de qual é nosso real tamanho, mesmo em aspectos humanos como o futebol. Recentemente, um certo clube da lagoa, com sua habitual mania de grandeza — que faria inveja aos antigos que acreditavam ser o centro do universo — passou por isso. Após uma derrota contundente, a discussão sobre fair play financeiro virou uma cortina de fumaça, repleta de clubismo e sem fatos, apenas “choros”. Clubes da Libra se uniram para se proteger como clubes sociais, deixando claro que são associações contrárias a se tornarem SAFs, tentando bloquear quem busca investimento externo para se reestruturar. No entanto, o plano não funcionou, e até as grandes mídias, com exceção da UOL, não caíram nesse discurso vazio.

 Quando falamos em fair play financeiro, trata-se de uma discussão séria em ligas organizadas, o que não é o caso do Brasil. O objetivo é tornar os campeonatos mais equilibrados, prevenindo calotes e falências. A ideia de frear investimentos é uma narrativa de clubes associativos com medo. Na Europa, a maioria das ligas está se adaptando ao fair play da UEFA, que limita os gastos com salários, encargos e amortizações a 70% das receitas, permitindo um prejuízo acumulado de até € 90 milhões em três anos, desde que esteja em fase de investimento. Não há proibição de investimentos, pelo contrário, eles são permitidos e controlados para garantir a saúde financeira dos clubes. Isso é natural para uma reestruturação, onde, inicialmente, é preciso investir. Mas o clube da lagoa teme a concorrência e tenta impedir que outros clubes possam competir em igualdade.

A Premier League, por exemplo, adotará uma regra de teto salarial a partir de 2025: o máximo gasto com salários será igual a cinco vezes a menor receita de TV da liga. Se trouxermos isso para o Brasileirão de 2023, a menor receita foi a do América-MG, com R$ 40 milhões. Multiplicando por cinco, o teto salarial seria R$ 200 milhões. Qual clube seria mais afetado? É hora de falar sério sobre fair play financeiro.

Quando John Textor mencionou o teto salarial ou que o Botafogo estava nos padrões Uefa, uma parte da imprensa zombou, preferindo narrativas que agradassem seus times do coração. As maiores ligas do mundo seguem essa tendência, mas aqui, interesses clubísticos querem prevalecer.

O 4×1 foi mais do que uma derrota em campo — foi um choque de realidade. Um clube, na sua arrogância, chegou a se imaginar como o “Bayern de Munique do Brasil” (sim, pode rir!). A goleada trouxe doses amargas de medo e a percepção de que nesse nosso vasto universo, enquanto há verdadeiras estrelas, eles são apenas um “pálido ponto vermelho e preto”.

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