Os 40 mil alvinegros presentes em Buenos Aires simbolizam mais do que uma viagem; é a representação da fé inabalável de uma torcida que nunca desiste. Como o retorno de um herói após a batalha, cada torcedor carrega cicatrizes de derrotas passadas, mas também a esperança transmitida de geração em geração. Pais, mães e filhos compartilham não apenas o amor pelo Botafogo, mas o peso das provações e a glória da superação.
Eu fiz a viagem de ônibus até Buenos Aires, quase 100 horas, ida e volta. Durante o retorno, naturalmente, consumi muito conteúdo sobre o Botafogo. O relato de Jorge Iggor foi o que mais me tocou: uma declaração genuína de um pai que compartilhou sua emoção ao lembrar que o filho botafoguense estaria vivendo aquela felicidade após anos de frustrações.
Um grande amigo da coluna, alcunha “Fofoca Hespanhola”, me acompanha em todos os jogos do Botafogo, seja no Rio ou fora dele. Hoje, ele tem a alegria de viver essa jornada ao lado do filho. Com apenas 13 anos, o garoto já conheceu vários estádios pelo Brasil e frequentou o Maracanã mais vezes este ano do que muitos rivais habituados a jogar lá. No ano passado, após a dolorosa derrota contra o Grêmio, meu amigo não aguentou e pediu desculpas ao filho por fazê-lo vivenciar aquela tristeza. Esse momento me marcou profundamente. Nós suportamos as dores do Botafogo, mas como lidar com o sofrimento daqueles que prometemos proteger?
Neste sábado, no Monumental, o cenário foi diferente: lá estavam pai e filho novamente, mas dessa vez era o garoto quem agradecia por tudo o que viveram juntos. O choro de Jorge Iggor representou o sentimento de tantos pais e mães que viram a travessia concluída com glória — um sentimento compartilhado por incontáveis botafoguensesque perpetuam essa paixão através das gerações.
Os torcedores que levaram fotos de entes queridos que já partiram não fizeram apenas uma homenagem. Foi um grito de libertação, ecoando para onde quer que estejam: “Fui forte, viu? Segurei firme, e cruzamos juntos essa provação!”
Uma torcida apaixonada que nunca deixou de acreditar em superação e entende mais do ninguém a palavra redenção: passamos por tantos percalços, e mesmo assim 40 mil no Monumental, 50 mil no Niltão e milhões espalhados pelas ruas do Brasil. Nosso lugar está marcado na história do Botafogo.
Luiz Henrique, há cinco meses você era vaiado em Cariacica. Hoje, você faz parte da história do Botafogo, cara. A camisa 7 escolheu você!
Júnior Santos, você foi injustamente chamado de bagre por muito tempo. Você foi essencial para chegarmos até aqui. O gol do título tinha que ser seu. Estava escrito!
Marlon Freitas, você respondeu a tudo onde realmente importa: dentro de campo. Seu nome será lembrado e celebrado por gerações, irmão.
Há apenas uma semana, este elenco era rotulado de “pipoqueiro” por uma imprensa tendenciosa. Hoje, vocês conquistaram uma final de Libertadores encarando todo o jogo com um jogador a menos. Bem-vindos à história!
No dia 30 de novembro de 1974, o Botafogo fez seu último jogo em General Severiano. Depois disso, vivemos anos de dilapidação da nossa história e da instituição. Na mesma data, exatos 50 anos depois, o Botafogo se redime consigo mesmo. Não podia ser diferente.
Todos nós conquistamos e superamos juntos. Resgatamos o Botafogo. É nosso!
E sabe o que é melhor? Dezembro está só começando. Ainda dá para tornar 2024 ainda mais grandioso!