A Roberto o que é de Roberto no Botafogo

Roberto Miranda, ídolo do Botafogo, em General Severiano
Reprodução/Botafogo TV

Ontem, depois da grande vitória do Botafogo contra o Vasco, na estreia do Davide Ancelotti, sentei no sofá ao lado do meu cão “Ted”, com aquele sorrisão no rosto e a alma lavada pela boa atuação. E, como bom botafoguense, lá estava eu nos grupos, debatendo e um dos assuntos foi “como vamos chamar o novo comandante”: Ancelottinho? Bambino? Júnior? Michael Ancelotti?

Enquanto a brincadeira acontecia, minha mente, como costuma acontecer nessas horas, deu um pulo inesperado no tempo.

Pensei em outro nome. Um que não precisava de complemento, apelido ou enfeite.

Roberto.

Só isso.

Lembrei dos meus tempos de arquibancada no Caio Martins, nos anos 90 e 2000, ouvindo histórias de botafoguenses mais velhos. Gente que viveu a era dourada do Glorioso, especialmente a segunda metade dos anos 60. E uma coisa sempre me chamou atenção: para muitos, o maior ídolo não era o Jairzinho. Era o Roberto.

Na Europa, chamam o Ronaldo Fenômeno de “o Ronaldo original”. E depois dele, vieram os que precisaram usar sobrenomes. Aqui, deveríamos tratar Roberto do mesmo jeito. Porque antes do Dinamite, antes do Roberto Carlos, o nosso Roberto já era ídolo — e multicampeão. Campeão do mundo com a Seleção em 1970. Referência para gerações seguintes — como o Casagrande já fez questão de lembrar.

Mas o tempo tem dessas crueldades. Vai passando, vai nos obrigando a uma constante reinvenção, e parece que, no meio dessa correria de memes, gifs, reels e novos craques toda semana, a memória vai ficando para trás. A história começa a parecer velha. E aí a gente corre o risco de esquecer não só quem brilhou, mas quem construiu.

Não estou aqui para desfazer nomes. Longe disso. Acho, inclusive, que nomes como Amarildo e Quarentinha ainda são menos celebrados do que deveriam. Mas tem algo no caso do Roberto que incomoda diferente. É como se, de repente, ele tivesse desaparecido do discurso coletivo. Como se estivesse sendo empurrado para o esquecimento — algo que nenhum campeão do mundo, herói de uma geração e ídolo de tanta gente merece.

Ontem o Botafogo venceu com garra, velocidade e postura de time grande. E como todo botafoguense apaixonado, fui para rua com Ted, estrela no peito, alma lavada. E não sei por que — talvez por esse pensamento que me atravessou feito um vendaval— fiquei com uma vontade quase infantil de lembrar algum vascaíno que passasse:

“O de vocês só se chama Dinamite, pois tivemos o original.”

Então, por favor, da próxima vez que forem falar dele, deixem o Miranda de lado.


Porque quem viveu, quem ouviu, quem sabe… chama só de Roberto. E todo mundo entende.

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