Desde a sua chegada ao Botafogo, John Textor fala sobre a ideia de uma rede global de jogadores. Montar um fluxo de talentos dentro da holding, assim podendo de alguma de forma deslocar esses “ativos” dentro dos clubes que a formam. Desde então, entre entrevistas e algumas ações, vemos o escopo desse projeto que não acredito que estará maturado em um curto prazo. Ontem à noite, John falou sobre o trabalho de “scout” na África, o que pode ser interessante, quase como o conceito do “oceano azul”: vencer seu concorrente entrando em mercados não-explorados, ao invés de tentar superá-los nos que eles já dominam.
O mercado do futebol está cada vez mais globalizado: o melhor atacante é norueguês, o melhor lateral é canadense, o ponta badalado é da Georgia, o atacante destaque do Italiano é da Nigéria, etc… Há claramente um fluxo maior de jogadores respaldados por um trabalho de identificação de talentos.
A América do Sul já está completamente mapeada pelos times europeus. Muito difícil achar um jogador que algum grande clube não tenha todos os dados. Lembro que quando negociávamos com o Daniel Ruiz perguntei a um observador português o que achava do jogador “precisa ainda se provar em uma liga como o Brasil para a Europa apertar o gatilho”. E não deu outra, “bate e volta” aqui quando veio. Claro que o contexto do Santos não ajudou, mas quem escolheu ir para lá foi o jogador e seu staff. Planos de carreira também são fundamentais.
Alguns clubes há anos conseguem grandes receitas servindo como porta de entrada para jogadores sul americanos no mercado europeu. Na última década: Benfica, Porto, Ajax e Lyon, foram os clubes europeus que mais lucraram na relação compra x venda de jogadores. Eles se colocam como “rota premium” para a chegada em alguns grandes europeus. Textor comprou o Lyon, e antes havia feito oferta pelo Benfica. É tudo sobre direcionamento de portas, não rede satélite como virou uma visão mais popular.
Nós temos um mercado local completamente mapeado. Para eles é algo parecido como quando vamos ao McDonald’s sabendo de cor o preço de cada trio/sanduíche e seus ingredientes. Além de que todos os clubes sul-americanos hoje já trabalham com a formação de atletas para revenda, ao gosto do cliente. Uma fonte de receita que o Botafogo ainda não tem. E como oferecer um diferencial para captar e vender? Direcionamento de portas. Quando é revelado que há uma ideia de escola bilíngue dentro de um futuro CT., assim caso algum jogador encerre seu ciclo dentro da formação de base sem oportunidade profissional em algum clube da rede, ele possa ser direcionado para uma universidade americana. Isso é um diferencial na captação do atleta. Por que a família do moleque de 13 anos vai querer enviar seu jogador para a nossa base ao invés do rival que muitas vezes é o time de coração do garoto?
Quando um jogador jovem se destaca aqui e vai para o Lyon, não é sobre rede satélite – é sobre ir pela porta do Lyon ao invés da porta do Ajax. O fluxo hoje está muito bem definido. E o próprio Lyon é um clube vendedor. A realidade atual no futebol é que se você não for o “Big Six” inglês, Barcelona, Real, Bayern e PSG, seu clube também está no mercado para vender.
A América do Sul estando toda mapeada, mercados paralelos passam a ser a terra não explorada. Textor já falou de descobrir talentos nos EUA e, agora, África. São mercados mais desconhecidos e menos atacados pelo fluxo atual de “scouts”. Talvez ali esteja o oceano azul da prospecção de atletas. A negociação do Rollheiser mostra que a ideia de alterar esse fluxo sul-americano sendo uma nova porta de entrada confiável para a Europa em jogadores mais prontos é mais desafiadora do que parece por essas bandas.