Botafogo e os sete dias para fazer ‘a História’

Botafogo e os sete dias para fazer ‘a História’
Vitor Silva/Botafogo

Existe um ditado antigo que diz: “Duas coisas são certas na vida: a morte e os impostos.” Embora muitas verdades no futebol possam parecer menos sólidas, há uma que é tão inevitável quanto a gravidade: a história é para poucos!

Mauro Galvão e Wilson Gottardo conquistaram tudo no futebol brasileiro, seja pelo Botafogo ou por outros clubes. Ambos afirmam que a pressão pelo título carioca de 1989 foi a maior de suas carreiras. Em um clube grande, a pressão é constante, como a gravidade: está em todos os lugares. No restaurante onde você janta, na escola dos seus filhos ou até em um simples passeio pelo shopping. Até o vendedor de balas no sinal vai te cobrar: “Tem que ganhar, hein, chefe!” E tem mesmo. O lugar na história é reservado para poucos. No Botafogo, são raríssimos os jogadores que se tornaram ídolos sem tocar uma taça. Heleno? Mendonça? Quem mais? Ambos, crias do clube, gênios e botafoguenses de alma.

Os grandes jogadores sabem o caminho da glória. Conhecem os percalços e entendem os sacrifícios necessários. Lembro do primeiro jogo da final de 1995: a torcida saiu apreensiva após a vitória mínima sobre o Santos, enquanto os santistas comemoravam. Gonçalves veio até nós, gritando que venceríamos e pedindo para continuarmos cantando, pois o título seria nosso. Épico! Também me recordo da semifinal contra o Cruzeiro naquele ano. Enquanto celebrávamos a classificação, Gottardo, ainda em campo, estava transtornado, alertando: “Desse jeito, não vai!” O Botafogo desperdiçou inúmeras chances e, mesmo com um jogador a mais, quase deu brecha para a eliminação. Gonçalves sabia da nossa força, mesmo com a torcida cautelosa; Gottardo entendeu que, mesmo com a celebração da torcida e a classificação, era preciso muito mais. Essa é a alma dos campeões!

Nesta quarta-feira, embarco de ônibus para Buenos Aires: quatro dias de viagem, ida e volta. Como tantos outros alvinegros, levo não apenas meus sonhos, mas o espírito de quem não poderá estar presente. Esta final simboliza mais que um jogo: é o filho vivendo um momento histórico com o pai de 70 ou 80 anos. São pessoas que se sacrificaram para viver essa experiência — trabalharam horas extras, pegaram empréstimos, venderam o carro. É o amigo que leva a foto do avô, que sempre sonhou ver o Botafogo forte e vitorioso novamente.

O Botafogo entrou em nossas vidas cedo. Há uma verdade quase universal que muitos esquecem: podemos mudar de parceiro(a), mas nunca de time. Você pode até prometer que vai largar tudo, mas sempre dá aquela olhada no resultado. Um amigo — vamos chamá-lo de “FofocaEspanhola” para preservar sua identidade — brinca: “Não peço permissão à minha esposa para ir ao jogo. Pelo contrário, ligo para a sede e pergunto ao Botafogo se está tudo certo quando saio com ela. O Botafogo veio antes!”. Nosso amor é inabalável, eterno como a glória deve ser. Sempre estaremos aqui, prontos para qualquer batalha.

Este elenco tem sete dias para gravar seu nome na história. Campeonato Brasileiro e Libertadores estão ao alcance. Encontrou uma retranca? Dá um jeito! Foi provocado? Responda com gols! Poucos lembram a escalação de 1992, mas todos conhecem até o piloto do avião de 1995. A história não é para qualquer um, e o momento de se tornarem eternos é agora. A glória e a idolatria são proporcionais à pressão. Os campeões entendem o contexto e encontram um caminho.

Outra verdade absoluta: eu, você e a torcida estaremos aqui de alguma forma daqui a 10, 20, 30 anos. Cabe aos jogadores decidirem se farão parte dessa história também.

É tempo de Botafogo!

Comentários