No último domingo, celebramos o Dia das Mães. Embora esta coluna estivesse quase pronta, embolei com questão de mudança e não consegui finalizar a tempo (errei. Fui moleque!). Errei, assim como o Botafogo erra todo ano ao não homenagear sua matriarca: Dona Chiquitota. Reconhecida como a mãe do Botafogo pelo grande historiador Alceu de Oliveira Castro, ela desempenhou um papel crucial desde o início.
Em 12 de agosto de 1904, sete jovens liderados por Flávio Ramos fundaram um clube de futebol. Com o intuito de economizar, aceitaram para a cobrança das primeiras subscrições um talão de recibos de um antigo clube de pedestrianismo que não vingara: Electro Club, e por causa desse talão tivemos nosso primeiro nome que era feio, mas econômico. Dona Chiquitota não gostava do nome e sugeria sempre homenagear o bairro que sediava o clube, e assim, ficou decidido que quando o talão acabasse o nome seria alterado para Botafogo.
Dona Chiquitota não se limitou a dar nome ao clube. Ela cedeu a casa que seria nossa primeira sede e auxiliavafinanceiramente, sempre liderando as subscrições. Além disso, ajudava com praticamente três mensalidades durante o início desafiador para o caixa do clube. No começo, havia muitos gastos com janelas quebradas e bolas. Sim. Somos um clube de crianças que quebravam janelas jogando na praça e perdia bolas para os bondes que passavam. Até hoje não sei como aquela área do Largo dos Leões não é considerado território sagrado do Botafogo. A influência de D.Chiquitota foi vital, desde a compra da primeira bola até a mudança oficial do nome para Botafogo Football Club.
A história da primeira bola de futebol comprada para oainda Electro na Casa Clark reflete essa participação:
“Flávio Ramos entregou a Álvaro Werneck uma folha de papel almaço. No topo estava escrito: ‘subscrição para a compra de uma bola número cinco’. E na primeira linha, D. Chiquitota havia escrito o nome completo: Dona Francisca (o Dona era para impor respeito aos garotos) Teixeira de Oliveira. Cinco Mil Réis. ‘Eu’, disse D. Chiquitota a Flávio Ramos, ‘abro a subscrição com cinco mil réis para dar o exemplo. Assim, os outros não poderão contribuir com menos.'” (O Globo Sportivo, 07 de agosto de 1945)
Em 1962, em uma entrevista ao Jornal dos Sports, Flávio Ramos recordou a importância de D. Chiquitota:
“- Quando nosso clube foi fundado em 1904, éramos os fundadores – uns garotos com 14 anos de idade em média. Tivemos a ventura de contar com um anjo protetor: minha vó, Dona Chiquitota como era chamada por parentes e por meus colegas e amigos. Foi ela quem deu nome ao nosso clube: “não escolham outro nome – Botafogo é tão bonito, lembra esta praia, estas palmeiras, este corcovado”! Quando nossos ‘tiros a gol’ quebravam os vidros da janela de algum vizinho, ou quando tínhamos que comprar bola nova, abríamos uma subscrição e invariavelmente era encabeçada por ela, dando a contribuição maior. Talvez pudesse ser considerada a primeira diretora social do Botafogo: era quem organizava as festas para os sócios do nosso clube, animando os encabulados, fortalecendo amizades e irradiando alegria. Acompanhando minha irmã Cordélia, conhecida como a “torcedora número um do Botafogo”, assistia todos os jogos, vibrando com nossas vitorias. Não sei se sem ela, sem sua bondade, sem seu apoio, o Botafogo conseguiria vingar”.
Feliz do clube que teve seus primeiros dias abençoados pelo carinho materno de uma Dona Chiquitota.