O ex-presidente Jânio Quadros gostava de se mostrar com conhecimento erudito da língua portuguesa, afim de passar uma imagem de pessoa culta. Diz a lenda que, ao ser perguntado sobre os motivos de sua renúncia, em 1961, teria dito: “Fi-lo porque qui-lo”. Traduzindo na nossa linguagem popular “fiz porque estava com vontade”.
O Botafogo algumas vezes em sua história tomou essa postura e me passa a sensação que falta à SAF fazer algo desse tipo para mostrar força. Às vezes, não é sobre torrar dinheiro – sim, sobre poder. Na série House Of Cards, o personagem Frank Underwood (Kevin Spacey) faz uma distinção entre dinheiro e poder “Dinheiro é mansão no bairro errado, que começa a desmoronar após dez anos. Poder é o velho edifício de pedra, que se mantém de pé por séculos.”
Na década de 1930, o Botafogo havia contratado Leônidas da Silva em acordo do Carlito Rocha com a antiga CBD que estava formando um time para a Copa do Mundo. Após uma entrevista em que o jogador falou que torcia para o rival da Lagoa, o atleta foi dispensado na mesma hora. Não antes de pagar a penitência de ficar quase oito meses sem jogar, pois o Botafogo decidiu que ia deixá-lo mofando antes de jogar pelo rival. Fizemos porque tivemos vontade.
Na década de 1950, Didi estava em litígio com nosso rival das Laranjeiras. O Botafogo entrou na parada e fez a maior transação do futebol brasileiro até então. Pelos percalços da transação, o Botafogo pagou em uma mala de dinheiro, somente para sacanear o rival que passou a noite contando as notas. No ano seguinte contratamos o Zagallo do outro rival. Fizemos porque deu na telha.
Na década de 1960, após vender Amarildo para a Itália pegamos o dinheiro e pagamos a multa do Gerson que estava no rival da Lagoa. O jogador só foi informado que deveria se apresentar no Botafogo ao invés do rival. Fizemos porque quisemos.
Na década de 1980, Fernando Macaé se apresentou no nosso rival da Lagoa, vestiu a camisa, beijou escudo, deu entrevista e foi jantar. Porém, na correria não assinou o contrato. Descobrimos e no dia seguinte ele estava treinando no Botafogo com contrato assinado. Carlos Alberto Dias havia recebido uma oferta do mesmo rival da Lagoa, pegou o avião para assinar contrato com eles, ao desembarcar estávamos esperando por ele no saguão do aeroporto e acabou assinando com a gente. Fizemos porque estávamos vontade.
Essas e outras várias histórias podem ser contadas por torcedores de todas as gerações e estão solidificadas como pedra. O Botafogo passa por uma grande reestruturação financeira. Essa semana descobrimos que devemos até a Uber. Ninguém em sã consciência quer que coloquemos os pés pelas mãos e voltemos ao buraco de antes. Mas sinto que precisa de uma demonstração de poder. De fazer o que quer e dane-se.
Mais do qualquer presente de natal, somente um “fi-lo porque qui-lo”!