Matheus Nascimento no Botafogo e a realidade do futebol profissional: talento sozinho não basta

Matheus Nascimento no Botafogo e a realidade do futebol profissional: talento sozinho não basta
Vitor Silva/Botafogo

Matheus Nascimento está a caminho da MLS, mas sem o brilho que se esperava de uma joia da base. Sua saída do Botafogo não envolve uma venda recorde para a Europa, mas sim uma importante lição, como a que Rafael mencionou recentemente em um podcast e que deve servir de aprendizado para os próximos talentos que fizerem a transição para o profissional.

No início de janeiro, Rafael comentou sobre a dificuldade de Matheus em corresponder às expectativas no time principal. Em sua visão, o atacante foi mimado pelo clube e destacou um ponto fundamental: “Ele não é craque porque era craque na base. Ele é craque pelo que mostra dentro de campo, no profissional.”

A verdade é que o Botafogo, durante a formação de Matheus, não possuía uma base estruturada e competitiva como outros grandes clubes brasileiros. Enquanto adversários investiam em um processo de desenvolvimento de alto nível, o Alvinegro mal conseguia oferecer condições básicas aos seus jovens. No entanto, ao perceber essa deficiência, talvez o clube tenha errado na condução da carreira do jogador, compensando excessivamente suas dificuldades iniciais. Foi como um pai que, após anos de dificuldades, melhora de vida e tenta suprir o passado exagerando nos mimos ao filho adolescente. Em campo, muitas vezes Matheus transmitia a sensação de alguém tomando água de coco a beira mar esperando que o talento natural, por si só, resolvesse tudo. Mas o futebol profissional não funciona assim.

Quantos jogadores já superaram uma formação precária e alcançaram sucesso? É aí que entra a segunda reflexão de Rafael. Ser um craque na base não significa automaticamente ser um craque no profissional. A adaptação a um nível de exigência muito maior é essencial, e essa transição depende também do próprio atleta.

Hoje, enquanto Matheus se prepara para atuar nos Estados Unidos, o país vive a expectativa do Super Bowl. Na NFL, um dos maiores nomes da história é Peyton Manning, que estreou no profissional em 1998. Em sua primeira temporada, bateu o recorde de interceptações lançadas por um calouro. Ele conta que, após cada jogo, ficava inconformado, dizendo: “Eu tinha certeza de que o defensor não chegaria.” Até que, após repetir isso por semanas, um companheiro o interrompeu: “Peyton, isso aqui é futebol americano profissional. Todo mundo chega!”

A questão aqui não é comparar futebol e NFL, nem Manning e Matheus, mas sim ressaltar que a adaptação ao profissional é um desafio para qualquer atleta, independentemente do talento natural. O que funcionava na base pode não ser suficiente no alto nível. É preciso entender o novo contexto, se esforçar e se reinventar. Só então o talento pode realmente brilhar.

Torço para que Matheus encontre seu melhor futebol na MLS, se desenvolva e traga frutos tanto para sua carreira quanto para o Botafogo. Sempre apoio os jogadores formados no clube. Que sua trajetória sirva de aprendizado para o Botafogo na gestão da base e para os próximos jovens talentos. No futebol profissional de Série A, até o pior jogador chega.

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