O Botafogo vive um dilema, meus amigos. A cada erro de arbitragem, a cada apito contra, surge uma parte da nossa torcida que prefere baixar a cabeça, que diz: “ah, mas o time não jogou bem”, “a culpa foi do ponta que perdeu o gol feito”. É como a mãe cujo filho foi mal o ano inteiro, mas que, mesmo assim, teria passado se a prova final tivesse sido corrigida corretamente. O filho não estudou? É verdade. Mas isso dá direito à professora de errar na correção? Não. E a mãe/pai tem a obrigação moral de reclamar.
O Botafogo está nesse ponto. O clube pode ter suas falhas, suas derrotas, seus problemas de elenco ou de postura. Mas nada disso anula o direito, e o dever, de gritar contra a injustiça da arbitragem.
Historicamente, sempre fomos um clube combativo. Em 1971, o Botafogo tinha um time soberbo, capaz de atropelar adversários, mas que se perdeu em sua própria confiança. Ainda assim, chegamos ao jogo decisivo. No último minuto, o árbitro José Marçal Filho fechou os olhos diante da falta em Ubirajara. A bola entrou, o título se foi, e o nome de José Marçal Filho entrou para a infâmia. O homem foi perseguido pela nossa torcida por décadas. Quarenta anos depois, ainda era interpelado na rua por botafoguenses que não esqueceram.
Não foi diferente com Ana Paula Oliveira, na semifinal da Copa do Brasil. Erros crassos, carreira encerrada na arbitragem, fama paralela, mas jamais um esquecimento botafoguense. Até hoje, onde aparece, surge um alvinegro para cobrar.
E quem não se lembra de Marcelo de Lima Henrique, em 2008? Ou de Djalma Beltrami, que expulsou Dodô num clássico decisivo? Cada um deles recebeu de nossa gente o holofote merecido. Cada erro foi marcado a ferro e fogo na memória coletiva.
Mas hoje, não. Hoje, parte da torcida tem medo do fantasma de 2008. Do tal “chororô”. Muitos que repetem isso nem eram vivos na época. Mas o estigma virou mordaça. E a indignação morreu.
E, no entanto, a arbitragem segue impiedosa. O Botafogo é sistematicamente prejudicado, enquanto nos empurram a narrativa anestesiante: “não jogamos bem”, “foi falha individual”. Como se uma coisa anulasse a outra. Como se o roubo se justificasse pela própria fraqueza da vítima.
O Botafogo precisa reencontrar a voz. Precisa voltar a ser o vizinho barulhento que bate panela na janela quando a luz acaba na rua inteira. Precisa ser o passageiro que exige o troco errado na Van. Precisa ser a mãe que vai até a direção da escola exigir a correção justa da prova. Porque ninguém fará isso por nós.
Torcedor do Botafogo, não aceite ser o silêncio conformado. Reclame, mesmo que o time tenha errado. Reclame, mesmo que o gol tenha sido perdido. Reclame, porque a injustiça não se combate com resignação. O Botafogo pode cair por suas próprias pernas, mas jamais deve aceitar ser empurrado para o abismo pelo apito de um árbitro.