No clássico “Casablanca“ (1942), cenas icônicas marcaram a história do cinema, como “La Marseillaise” e “os suspeitos de sempre“. Porém, uma frase dita por Rick para Ilsa se tornou um marco: “Sempre teremos Paris”. No filme, ela chama as memórias dos dias felizes que o casal viveu antes da guerra, em contraste com a dura realidade que enfrentavam. A frase representa resignação e consolo, sugerindo que, mesmo que o presente não dê certo, as lembranças de Paris serão um refúgio eterno, intocável pelo tempo ou pelas adversidades.
Durante anos, o Botafogo encontrou abrigo em sua rica e única história. Foi essa memória, junto à paixão de sua torcida, que manteve o clube firme em seus momentos mais difíceis. Sempre tivemos a nossa “Paris”, e jamais deixaremos que ela seja esquecida. No entanto, a história continua, e ela é escrita com “H” maiúsculo por aqueles que têm coragem de moldá-la.
Um dos jogadores que eu mais gostava em minha infância, Valdeir “The Flash” é um exemplo dessa conexão com o passado. Jogador rápido, habilidoso e decisivo, campeão carioca de 1990 e parte do time de 1992. Se pisasse no Nilton Santos hoje, seria reconhecido pelos torcedores mais antigos, mas talvez passasse despercebido pelos mais jovens, diferentemente de Leandro Ávila, que jogou apenas quatro meses em 1995 e depois retornou no fim da carreira. Se ele pisar no estádio amanhã, será parado para fotos a cada passo. A diferença? A história só consagra aqueles que a transformam.
Hoje, o Botafogo voltou a ser o Botafogo. Não nos contentamos mais com o “bom o suficiente” das últimas décadas. Garantir uma vaga na Libertadores, que antes era tratado como o Everest, agora é apenas um passo no caminho. Estamos na final de uma competição internacional e a cinco jogos de conquistar o Campeonato Brasileiro. Mais de 40 mil alvinegros estão prontos para invadir Buenos Aires na maior demonstração de amor e lealdade por parte de uma torcida que este país já viu.
A história está sendo escrita por essa torcida apaixonada. Cabe a este elenco decidir se seus nomes serão imortalizados nela. Com goleadas em clássicos, vitórias marcantes e momentos decisivos, esses jogadores podem se tornar algo inesquecível, como Anton Chigurh em “Onde os Fracos Não Têm Vez“: uma força implacável e impossível de ser despistada ou persuadida a poupar os infelizes que cruzaram o seu caminho.
O caminho do Botafogo está traçado. Temos a nossa “Paris”, mas também o nosso futuro. A única questão é quem terá a coragem de escrever seus nomes nesta história que será contada por gerações. Não é mais “se”, mas “quando” o título virá. Como no clássico com título original “Os Suspeitos de Sempre” (1995), uma história com o fim que você não vê nem ouve, apenas pressente.