Artur Jorge será o novo “sócio” de John Textor no projeto Botafogo. O treinador do Braga, nas duas últimas temporadas, chega ao Rio de Janeiro com a missão de voltar a desenvolver um projeto que saiu dos trilhos há menos de um ano.
Desde sua chegada ao Botafogo, Textor tem buscado um estilo de futebol ofensivo semelhante ao europeu. Embora esse objetivo ainda não tenha sido alcançado, no ano passado o time mostrou características europeias no primeiro turno, com um futebol posicional e mentalmente forte. Isso pode representar um pulo do gato no futebol brasileiro. Além disso, essa mudança envolve não apenas táticas de campo, mas também uma cultura interna que inclui scout, análise, equipe técnica, diretoria, entre outros.
Em 1979, Bill Walsh, ao assumir o San Francisco 49ers, tinha a missão de reestruturar e criar uma cultura para uma franquia que estava disfuncional. Ele acreditava que uma cultura esportiva não se cria da noite para o dia, mas é um processo. Seu lema era “The Score Takes Care of Itself” (o placar toma conta de si), indicando que o resultado é um subproduto que acontecerá naturalmente ao fazer as coisas certas dentro de uma cultura.
Vemos ramificações desse modelo no próprio futebol com Ferran Soriano, ex-Barcelona e atual gestor do City. Em seu livro “A Bola Não Entra por Acaso”, fica clara a importância de uma cultura organizacional que fará os resultados chegarem de forma natural.
Quando Textor mencionou o “Botafogo Way”, ele referia não apenas à forma de jogar, mas também à cultura a ser criada no clube. No entanto, esse processo foi interrompido no ano passado, causando danos significativos, pois estava longe de estar solidificado.
Artur Jorge chega após perdermos 90 dias de pré-temporada devido a uma escolha errada do ano passado. O técnico é novo e seu currículo não é tão extenso quanto parte da torcida esperava, mas já apresenta resultados. Ele possui alguns predicados que Textor sempre destacou em sua visão: futebol ofensivo, escola europeia, experiência de base e bom gestor de grupo. Ele chega em um momento que exige proatividade, já que o tempo de treinamento será limitado. Qualquer troca na comissão técnica envolve pelo menos cinco profissionais, que tendem a apresentar oscilações em um primeiro momento.
Segundo o que foi reportado pela imprensa, o Botafogo pagará R$ 10 milhões para tirar Artur Jorge do Braga. A equipe portuguesa está na reta final do campeonato, disputando uma vaga continental, e entra em campo amanhã para se posicionar a dois pontos do Porto (Liga Europa) e se afastar do Vitória Guimarães, que também está nesse bolo por uma vaga continental. Não estamos buscando alguém cuja temporada esteja no limbo. John Textor sinaliza que ele foi o escolhido para ser o novo sócio e pagou o necessário por isso, tirando toda uma comissão técnica de uma equipe faltando sete rodadas para o fim do campeonato. É um recado claro de que o novo treinador chega com moral e terá respaldo. Trabalhos precisam de tempo para se desenvolver e, ano a ano, serem mais fortes.
O elenco do Botafogo este ano é melhor do que o do ano passado, e esperamos que seja pior do que o da próxima temporada. Artur Jorge chega com a missão de ajudar o projeto a voltar aos trilhos. O futebol brasileiro dá margem para pulos do gato em curto prazo, mas isso precisa ser um trabalho conjunto, incluindo todos os setores do clube. O que se perdeu no ano passado foi mais do que campo e bola, sim uma cultura que vinha se desenvolvendo. Que Artur consiga fazer um excelente trabalho, pois terá uma gama de peças interessantes para isso. E o Botafogo volte a desenvolver sua própria cultura.