O Botafogo celebra hoje seus 130 anos através do Clube de Regatas Botafogo. Fundado inicialmente pelo esporte mais popular da época, o remo, o clube foi erguido sobre alicerces de ética contra apostas e esportividade, valores que parecem distantes nos dias de hoje.
Em 1891, remadores do Guanabarense, liderados por Luiz Caldas, se revoltaram contra o excesso de apostas esportivas envolvendo o remo que ocorriam no clube. Eles consideravam isso uma afronta, acreditando que o clube estava se transformando em um cassino, em vez de uma entidade esportiva, perdendo assim sua identidade. Luiz Caldas e outros remadores deixaram seu antigo clube e fundaram o “Grupo de Regatas Botafogo” naquele mesmo ano, estabelecendo formalmente a fundação do remo.
No Brasil, a agitação política era intensa desde a Proclamação da República, e essa tensão refletia dentro do próprio Botafogo. Vários atletas participaram da Revolta da Armada, incluindo Luiz Caldas. Ele foi preso em 1893 e faleceu no fim de junho de 1894, o que levou os remadores da estrela solitária (chamada de “estrela isolada” no primeiro hino) a se unirem para criar um clube estruturado com uma diretoria. Em 1º de julho de 1894, foi fundado o Clube de Regatas Botafogo, a data oficial de fundação do Botafogo.
Desde o início, o Botafogo ajudou a fundar ligas esportivas e foi campeão dos torneios disputados, o que nos honra com o título atual de “único campeão de três séculos”. Como o remo era o esporte mais popular, naturalmente atraía torcedores ilustres. Talvez o torcedor número um e mais fervoroso tenha sido o “Príncipe dos Poetas”, Olavo Bilac.
Olavo Bilac era um torcedor apaixonado pelo Botafogo e fazia questão de batizar pessoalmente os barcos alvinegros. Em 1901, ao batizar o barco Salamina, sentenciou: “Eu te batizo Salamina para o mar e para a glória”. Um presságio da alcunha de “O Glorioso” que ganharíamos também com o futebol.
O Príncipe dos Poetas, assim como nós, era um profundo entendedor de estrelas. Não por acaso, um de seus poemas “Via Láctea” falava em escutar as estrelas:
“Ora, direis, ouvir estrelas, certo…
…. E eu vos direi: Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”
Um clube que surgiu de uma discussão ética sobre como as apostas podem interferir na essência do esporte e que, 130 anos depois, ainda enfrenta essa questão.
130 anos de um clube destinado a ser precursor e alcançar a glória em todas as frentes.
Nós ouvimos e entendemos a estrela, Olavo!