Quando penso que estou fora… o Botafogo me puxa de volta!

Quando penso que estou fora… o Botafogo me puxa de volta!
Arthur Barreto/Botafogo

Ontem, sábado, saí para passear com minha esposa. E, talvez num impulso de afronta à expectativa dela de me ver de polo e mais alinhado, resolvi vestir a camisa com a imagem do chute de Gregore no jogador do Galo naquela final da Libertadores. Dentro do Uber, comecei a refletir sobre tudo que aconteceu desde aquele lance e até antes dele.

Uma das lembranças mais fortes de Buenos Aires é o encontro com três senhores. Você, leitor, pode até pensar: “Léo, quarentão… só mesmo gente mais velha para te aguentar!”. Mas esses três estiveram comigo em um Botafogo x Cruzeiro pela penúltima rodada do Brasileirão de 2023, no auge do nosso crepúsculo da vergonha. Aqueles que ainda tinham alma e foram ao estádio naquele dia sabiam que não se tratava apenas de resiliência, mas de cumprir uma missão: buscar a vaga na Libertadores. No meio da lama, alguns soldados seguem lutando. Nada contra quem preferiu a praia, cada um encara a dor à sua maneira. Mas, como em uma tragédia grega, um ano depois reencontrei aqueles mesmos senhores no caminho do triunfo. Nem César perseguiu tanto Pompeu quanto nós perseguimos aquela taça.

Lembrei também do 5 a 0 contra o Peñarol em 2024. Estava com o dinheiro contado para a viagem a Buenos Aires, mas, num lampejo de clareza, decidi mandar mensagem para meu amigo Jorge e usei parte do valor para um bate-volta a Bragança Paulista. Minha esposa não entendeu nada: saí sexta à noite, voltei domingo de manhã com os três pontos na mala. Sabia que, naquela catarse coletiva, era preciso também mirar o Brasileiro. No fim, fui para Buenos Aires de ônibus com o que sobrou, mas de alma lavada.

Este ano, prometi a mim mesmo pegar leve, como quem zerou o jogo após 40 anos de luta. Resolvi ficar mais em casa: haviam sido mais de 100 jogos no estádio em dois anos e meio. Não fui contra a LDU, nem quinta-feira passada. Não garanti ingresso de cara e, quando a tentação bateu, já era tarde. Acabei no sofá, com minha cerveja, como tinha prometido à família. E, apesar do meu otimismo incurável, no fundo a gente percebia o descaso com certas situações. Nelson Rodrigues dizia que há derrotas que acontecem de véspera, e o Botafogo subestimou algumas batalhas e se preparou mal para outras. O ano do Botafogo até agora foi de recusar a se manter forte e lutar. Batalhas se vencem em todas as frentes, e não lutamos.

Mas um soldado nunca pode baixar a guarda. O Batman precisa estar atento ao sinal no céu, o Superman a uma cabine telefônica. E, quando o dever chama, não há como recusar. Foi assim no fim de 2023: engolindo mágoa, mas buscando os espólios. Não sei o que esperar do jogo contra o São Paulo, nem o tamanho da minha confiança. Mas quarta estarei lá contra o Mirassol e já comecei a distribuir ingressos extras para o duelo com o Galo. Tenho certeza de que reencontrarei aqueles três senhores do fim de 2023. Porque, nas horas mais escuras, os soldados leaisaparecem.

E o ano que prometia ser mais calmo… já não é mais. Como disse Michael Corleone em “O Poderoso Chefão 3”:

“Quando pensei que estava fora… eles me puxam de volta!”

Comentários