Artur Jorge: quais seus princípios e o que o Botafogo entrega para equilibrar seu modelo?

Artur Jorge, técnico do Braga
SC Braga/X

Antes de tudo, é importante termos em mente que Artur Jorge é um treinador em construção, assim como o Botafogo como equipe competitiva. Ou seja, respostas a contextos diversos ainda não possuem um certo padrão quando comparadas às de outros treinadores com carreiras mais longevas. Se isso será bom ou ruim, apenas o tempo e a capacidade do profissional nos responderão.

São quase duas temporadas como treinador efetivado do SC Braga, mas com marcas interessantes e percalços. De fato o que mais projeta Artur ao mercado é sua primeira temporada no clube português, onde atingiu números recordes (mais vitórias, mais gols marcados e mais pontos conquistados).

Princípios ofensivos: O Braga de Artur Jorge possui uma maneira de atacar mais rápida, tentando sempre gerar tabelas que encontrarão algum jogador em progressão mais próximo da lateral do campo, o movimento de buscar o centro para jogar por fora é extremamente comum. No prosseguimento, o interesse é de que a área esteja bem ocupada e com opções para o portador servir com um cruzamento (muitas vezes rasteiro e no movimento contrário da defesa), esta característica tem uma semelhança forte tanto com Castro quanto com Bruno Lage.

Vamos relembrar? Flamengo 2×3 Botafogo em 2023 em pleno Maracanã, Tchê Tchê infiltra na área e encontra em cruzamento, no movimento contrário da defesa adversária, Tiquinho Soares aguardando (com um a menos). Agora Botafogo 4×1 Coritiba: Victor Sá em duas ocasiões explora o 1×1 e cruza para trás e encontra Sauer e depois Tiquinho, gerando dois gols.

Outro princípio ofensivo de Artur Jorge é a utilização também dos passes longos para trocar de corredor quando encontra pouco espaço no setor em que a bola se encontra, por isso a importância de ter atletas posicionados na largura do campo. Um fator determinante é que, nas transições, a ligação feita com os pontas também utiliza esse recurso, explorando as costas dos laterais adversários e gerando situações de disputas em velocidade.

Partindo de estruturas complementares como 4-4-2 e 4-2-3-1, podemos imaginar de início um bom aproveitamento das características que o elenco possui. Meias com capacidade de ligar o jogo rápido de maneira rasteira ou longa, extremos de ataque ao espaço e força física, além de zagueiros com maior capacidade de auxiliar na construção, ainda que não estejam tão refinados no quesito. Fato é que com Cuesta e Adryelson esse tipo de comportamento seria mais difícil de ser executado, visto que ambos não tinham tanta característica de carregar a bola por mais metros quando o adversário permite.

Falando sobre individualidades, o bom rendimento e aproveitamento de Júnior Santos pode render um grande trunfo a Artur Jorge: a possibilidade de ter um extremo incisivo e forte ou um segundo atacante de ataque ao espaço pela direita ao lado de Tiquinho e somando com Luiz Henrique, que por mais que seja um ponta invertido, usa muito a linha de fundo para criar jogadas. Esta é só uma das diversas hipóteses que teremos pela frente.

Agora trazendo a análise para questões defensivas, é justamente onde encontram-se as maiores incógnitas sobre o trabalho do futuro treinador alvinegro. Pressionar no ataque ou reagrupar após a perda parece ser uma dúvida que paira nos atletas e que gera panes em jogos contra adversários mais qualificados ou que buscam o contra-ataque. O momento defensivo requer muita atenção pois o milésimo de dúvida ocasiona descontrole. Isso com os laterais Damián Suárez e Marçal precisa ser bem ajustado, pois são mais velhos e muitas vezes são pegos em situações de 1×1 sem a cobertura adequada.

Um ponto muito importante de ser destacado: o Braga é uma equipe de poucas faltas, nas últimas duas temporadas esteve no top 3 que menos cometem infrações, já o Botafogo foi a equipe mais faltosa do Campeonato Carioca. Mas o que quero dizer com isso? Enquanto na equipe portuguesa encontramos diversos atletas jovens, de pouca maturidade, no Glorioso a direção vai para um lado quase contrário. Ou seja, a falta (que pode ser um recurso tático do jogo), não só pode como DEVE servir para Artur Jorge como uma estratégia de evitar que a equipe sofra com transições frequentes.

Como comparação, o Red Bull Bragantino em 2023 foi a segunda equipe que mais cometia faltas por jogo no Brasileirão e uma das mais dominantes no terço final, assim como o Liverpool na Premier League está no top 5 de posse média e também é uma das equipes que mais comete infrações. Utilizando até o Botafogo como exemplo contrário, na Série A-2023 fomos o 6° time que menos cometeu faltas… quem lembra da derrocada na reta final viu quantas vezes sofremos não apenas com transições, mas trocas de passes simples em que ninguém soube fazer falta. A grande questão está na ZONA em que essas faltas serão cometidas e o MOMENTO.

Quando falamos de Alexander Barboza, Damián Suárez, Gregore, Danilo Barbosa, Allan (que chega na segunda janela), Rafael, Marçal, falamos de atletas experientes que tem uma boa noção de como esfriar o jogo utilizando este recurso. Agora, cabe ao Mister fazer essa importante leitura que pode ser extremamente benéfica ao seu modelo de jogo.

Finalizando a análise, o fator crucial para a subida de degrau no trabalho de Artur comandando o Botafogo é a experiência. Em Portugal, enfrentar os clubes do top 3 gerava incômodo, assim como atuar nas competições continentais, pois fugia do contexto de clubes médios-pequenos da Liga Portuguesa. No Brasil, encontrará um elenco capaz de fazer frente a qualquer time no país e que tem noção desse poder.

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