Montagem de elenco e causalidade: a influência na combatividade no Botafogo

Montagem de elenco e causalidade: a influência na combatividade no Botafogo
Vitor Silva/Botafogo

É nítido que um dos fatores do tal Botafogo Way se baseia também no físico dos atletas, em que os únicos contratados abaixo de 1,75 foram estrangeiros: Matías Segovia, Damián Suárez, Di Placido e Jefferson Savarino. Nenhum meia.

Apesar disso, nem sempre o físico garante se sobressair nas divididas. Por um lado, o Botafogo, desde a segunda janela de 2022, passou a ser uma das equipes mais fortes na bola aérea no Brasil, junto ao Palmeiras. Por outro, contava com poucos atletas no meio-campo que demonstrassem um histórico de “ladrão de bolas” na carreira.

Entre os meias, Danilo Barbosa e Gabriel Pires sempre estiveram envolvidos nas partidas em que o Glorioso mais apresentou essa característica. Porém, indisponíveis por uma quantidade significativa de jogos devido a lesões.

No início de 2023, Danilo Barbosa tinha conseguido tornar-se titular. Porém sua lesão no jogo contra a LDU fez Marlon Freitas ser oportunizado. Com Pires aconteceu algo parecido: começou a ganhar a titularidade (vs Athletico-PR, Corinthians, Galo), mas se lesionou novamente. Dessa maneira que caímos quase pelo acaso na dupla mais frequente do segundo semestre, Marlon e Tchê Tchê.

E aqui temos um elemento que ilustra a leitura boa de Luís Castro: notou a característica destes volantes mais regulares fisicamente e soube encaixar naquela forma de se defender mais híbrida, bloqueando espaços e pressionando de maneira menos frequente os primeiros construtores do adversário. Com isso, os zagueiros muitas vezes tinham papel de combater junto ao Marlon em algumas transições.

Mas estamos falando de um recorte de dois meses. Será que essa dupla se manteria sólida a longo prazo? Será que o estilo não seria reajustado? Outras características não seriam importantes? A oscilação da zaga poderia influenciar nesse equilíbrio?

No Brasileirão de 2023, o Botafogo nunca chegou perto de se destacar entre as equipes que mais aplicam a pressão pós-perda, porém, liderou o índice de interceptações. Ou seja, um time que se baseava mais em negar espaços nas zonas vitais do seu campo.

Mas em determinados jogos, como Fluminense e Fortaleza no Nilton Santos, víamos um comportamento de pressionar fortíssimo.

Por qual motivo o sistema defensivo teve uma pane na reta final? Bom, uma soma de fatores.

Bolas improváveis entravam (Bruno Gomes do meio-campo, frango de Perri contra o Inter, etc), minando a confiança de um time intransponível, e os adversários entendiam cada vez mais como negar espaços para as transições da equipe. Além da questão dos volantes já citada.

Uma mudança de comportamento, passando a marcar mais alto, talvez pudesse fazer a equipe recuperar mais próximo ao gol, surpreender e condicionar o placar positivamente mais rápido. Para retornar ao seu estilo e castigar o adversário.

É aí que esbarramos na questão do elenco. A adaptação a esse novo modo de defender nem sempre potencializava as peças do meio, que tinham gatilhos diferentes, como Marlon e Tchê. Quando tínhamos Danilo ou Pires em campo, esse comportamento costumava ser mais bem aplicado. E aqui vai uma crítica a todos os treinadores da reta final: como Danilo foi tão mal aproveitado?

Portanto, víamos cada vez mais um time com incertezas no momento defensivo, vide a maneira como Cuesta muitas vezes perdia duelos em zonas altas do campo, por exemplo. Incertezas que perduram até os dias atuais.

A chegada de atletas como Gregore e Allan enriquecem justamente o perfil que citei como ausentes em muitos momentos. E tornam o Botafogo muito mais capaz de praticar ambos os estilos em bom nível, seja mais “contido” ou frequente na pressão.

Fato é que Danilo Barbosa está sobrecarregado. Não é comum uma equipe que defendeu boa parte do jogo, como o do Aurora, ter um volante com 11 ações defensivas e outro com apenas uma. Nem sempre há sistema que consiga suportar isso.

Uma hora a perna desse atleta vai pesar, uma hora ele vai sofrer um drible. E basta um detalhe para antigos pesadelos voltarem à tona.

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