O projeto para sanear as contas do Botafogo liderado pelos irmãos João e Walter Moreira Salles envolve montar um grupo de investidores, e não apenas a participação deles com aportes financeiros. Houve uma reunião deste grupo nesta quarta-feira para analisar o diagnóstico sobre a situação do clube elaborado pela consultoria EY e advogados Trengrouse. Agora, o resultado será levado ao clube.
Nos últimos anos, os irmãos Moreira Salles – que são donos de fortuna avaliada em R$ 11 bilhões segundo a Forbes – têm ajudado o clube alvinegro com empréstimos e doação de infraestrutura como o CT. Já são credores em valores em torno de R$ 50 milhões.
Mas isso está longe de resolver o caos financeiro do Botafogo. É atualmente o clube com a maior dívida entre os grandes no país: R$ 730 milhões, segundo o estudo da própria EY. Pior, o clube tem um valor em torno de R$ 200 milhões para pagar em um ano (passivo circulante), isto é, no curto prazo.
Esse é o valor aproximado da receita anual do Botafogo. Conclusão: não sobraria nada para pagar o dia a dia. No diagnóstico apresentado, portanto, a EY mostrou que seriam necessários pelo menos R$ 200 milhões de aporte para negociar a dívida mais imediata do clube, e torná-lo viável. Isso permitiria obter descontos com devedores privados para abater a dívida.
Reduzir custos é uma medida já feita pelo Botafogo. Não há como apertar mais o cinto ou se arrisca o futuro do clube. O clube alvinegro tem atualmente apenas a 5a menor folha salarial, segundo dados obtidos pelo blog. Ou seja, sob o ponto de vista financeiro, é um candidato sério ao rebaixamento. Uma queda representaria uma redução drástica da receita de TV botafoguense sem a redução da dívida.
Neste cenário, há um indicação do diagnóstico da EY de que seria necessário um investimento na operação do futebol pelo menos nos dois primeiros anos para ter um time mais forte, e portanto menos propenso a ser rebaixado.
Esse quadro foi apresentado a 20 executivos botafoguenses nesta quarta-feira, segundo informou em nota a EY. Foi mostrado: “o resultado do Diagnóstico Financeiro do BFR em conjunto com estudo complementar de avaliação de opções para recuperação financeira do clube.”
Segundo a nota, “o estudo visa identificar alternativas que permitam (i) recuperação da capacidade financeira do clube para equilíbrio do fluxo de caixa no futebol e em todas as suas demais atividades sociais e esportivas (ii) introduzir boas práticas de gestão corporativa que permitam o crescimento das fontes de receitas e otimização dos custos e (iii) como resultante, voltar a ser capaz de reinvestir no futebol e em todas as suas demais atividades, tanto esportivas quanto sociais.”
A nota informa em seguida que o estudo será apresentado aos dirigentes do Botafogo nos próximos dias para depois ser divulgado.
A ideia dos irmãos Moreira Salles é que o projeto para resgatar o Botafogo não seja centrado na personalidade deles. Mas, sim, montando com esse grupo de executivos e com gestão profissional que permita o clube, ao longo do tempo, sobreviver com as próprias receitas. Eles não devem aparecer como mecenas dando entrevistas: preferem se manter nos bastidores, organizando o plano.
Para o projeto ir para frente, os dirigentes do Botafogo terão de abrir mão em alguma medida da autonomia de gestão do clube. Não será colocado dinheiro no clube sem ter controle sobre sua aplicação. A forma jurídica que será estruturado o plano de resgate, no entanto, ainda não está fechada. Certo é que os próximos dias e meses serão decisivos para o projeto avançar ou não.