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(Vale ler!) Histórias da Libertadores: o dia em que o Botafogo tentou contratar Pelé

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Por FogãoNET

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Pelé pode ser do Botafogo, diz jornal

Pelé pode ser do Botafogo, diz jornal

Agosto de 1963. Enquanto disputam o Carioca e o Paulista, Botafogo e Santos aguardam o fim do mês para se enfrentarem em dois ou três jogos na semifinal da Taça Libertadores da América daquele ano. O time carioca vinha de uma boa campanha na primeira fase e o Santos, campeão no ano anterior, se classificara automaticamente para a fase final. Dois dias antes da primeira partida, no Pacaembu, o Jornal do Brasil estampa um furo jornalístico em sua capa: o Botafogo pretendia contar com Pelé até dezembro. Hoje, mais de 50 anos depois e no dia em que o clube volta a jogar a Libertadores após 18 anos fora, o ESPN.com.br reconta a história e mostra que o craque chegou realmente perto de ser emprestado ao alvinegro.

O objetivo não era dar uma notícia sensacionalista, nem fazer os botafoguenses comprarem o jornal. As palavras eram do procurador do atleta, Pepe, apelidado de “O Gordo”, que mais tarde ficaria conhecido como responsável por grande parte da bancarrota financeira do Rei do Futebol. Segundo o jornal, tudo ficou certo entre o Botafogo e o jogador, faltando só o entendimento entre os clubes. A proposta era de empréstimo por quatro meses, com compensação financeira ao Santos e um contrato para lá de bizarro.”Pelé vê a possibilidade de jogar no Rio até o fim do ano com grande simpatia e até mesmo com entusiasmo, pois sente que, pelo menos por enquanto, estão liquidadas suas condições de continuar disputando o Campeonato Paulista, onde é injustiçado, ofendido, injuriado e vaiado a todo momento”, disse o procurador do atleta ao jornal.

Uma negociação motivada por vaias e com contrato bem complicado

O Santos era o atual tricampeão paulista, tendo vencido com Pelé em todos os anos. Em 1963, o Palmeiras de Ademir da Guia dominava o começo do campeonato e aproveitou os vacilos santistas para disparar na tabela. E Pelé, creiam, começara a ser vaiado. Vaiado pelas torcidas adversárias, vaiado pelos santistas, acostumados com os anos vitoriosos. A “crise” entre Pelé e torcida paulista durou metade de um turno do Estadual. O suficiente para que se cogitasse a ida do camisa 10 para o futebol carioca.

Reprodução

Dirigentes do Botafogo em reunião por Pelé
Renato Estrelita, dirigente do Botafogo em reunião por Pelé com Pepe

O estopim teria sido um jogo contra o São Paulo, no qual o jogador entrou e saiu do estádio debaixo de vaias. Como não queria sair do Brasil, ele passou a cogitar, em conversa com seu procurador e amigos, a peculiar ida para o Rio. O primeiro time que veio à cabeça foi o Botafogo. Tudo não se passava de algo temporário, para que Pelé reencontrasse a alegria em campo.

O objetivo de seu procurador era fazer o povo paulista ter saudade de Pelé nos fins de semana, nos jogos do Estadual que, na época, eram mais valorizados do que a própria Libertadores. Assim, a ideia era que Pelé fosse emprestado para o Botafogo apenas para jogar o Campeonato Carioca. Ele continuaria defendendo o Santos na Taça Libertadores da América, na Taça Brasil e em amistosos. Toda sexta-feira viajaria para o Rio, onde, mesmo sem treinar, jogaria pelo clube carioca. A venda de Pelé era dada como impossível. O empréstimo, neste momento, como provável.

Para o Botafogo parecia interessante. Depois de conquistar o bi do Carioca em 1961 e 1962, o time vinha mal no Estadual daquele ano e precisava de uma injeção de ânimo. Nada melhor do que o melhor jogador do mundo. Além disso, o time não conseguira convencer Didi a voltar a jogar futebol, como mostrou reportagem especial do ESPN.com.br, se viu obrigado a vender Amarildo para o Milan no meio da Libertadores e tinha um Garrincha contundido, cogitando, inclusive, suspender o contrato do craque por se recusar a operar o joelho.

Quando viajou até São Paulo para enfrentar o Santos, na primeira partida da semifinal da Libertadores, o Botafogo mandou junto o dirigente Dr. Renato Estelita e toda a intenção de trazer Pelé. As negociações, claro, eram travadas pela diretoria santista, apesar dos 50 milhões de cruzeiros oferecidos pelo Bota para o empréstimo. Padecia o temor de que a equipe tivesse que fazer a vontade do jogador, e o confronto entre os dois clubes chegou a ficar em segundo plano nos noticiários dos dois estados.

A partida, além de definir quem enfrentaria o Boca Juniors na final do torneio continental, ganhou outros ares quando o procurador de Pelé afirmou que a reação da torcida no Pacaembu seria fundamental para que o Rei do Futebol tomasse sua decisão de fazer ou não a ponte aérea.

Pelé define seu destino no último minuto

Se a ideia de assistir a Santos x Botafogo na década de 1960 empolga, o primeiro jogo daquela semifinal foi visto com descrença pela imprensa esportiva da época. Pudera: a crise no Santos, a má fase de alguns jogadores e o Botafogo cheio de desfalques, sem os maiores craques, somadas às irregulares campanhas dos times no Estaduais dava um teor que não combinava com o confronto que poderia ser o time de Pelé contra o time de Garrincha.

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Pelé selou, na bacia das almas, o seu destino no futebol
Pelé selou, na bacia das almas, o seu destino no futebol

Garrincha nem jogou na primeira partida. Pelé jogou, bem, e o público alternou vaias e aplausos ao camisa 10, responsável pelos principais ataques do time santista. Mas foi o Botafogo, com um gol do jovem Jair Bala, que abriu o placar, aos 24 minutos do segundo tempo. O alvinegro carioca tentou segurar a vitória fora de casa, que permitiria que o clube se classificasse com um empate no Maracanã. Pois foi no último minuto que Pelé selou seu destino. Em tabela rápida com Coutinho, chutou uma bola que ainda desviou no goleiro Manga e entrou calmamente no gol. Logo depois o juiz encerrou a partida. Pelé foi ovacionado.

“Nunca tive nada contra o público. Sei que público de futebol aplaude um atleta e um clube quando ele está no auge de sua forma. Quando ele começa a decair, o público abandona e esquece. No fim da carreira do Baltazar, Jair, Leônidas e todos foram assim. O torcedor esquece fácil. Mas eu já estou preparado para o futuro e disposto ao que der e vier”, disse um misterioso Pelé após o fim da partida, deixando aberta a possibilidade de negociação. No dia seguinte, a Folha de São Paulo exibiu foto do encontro entre o procurador de Pelé e o diretor do Botafogo, noticiando certo desespero da diretoria do Santos.

O fim do sonho para o Botafogo: da Libertadores e de ter Pelé

Os rumores foram se esgotando ao longo da semana de preparação para o jogo de volta no Maracanã. E se esgotaram completamente após o apito final. Se pretendia reencontrar a felicidade com o Botafogo no Maracanã, Pelé o fez contra o time alvinegro no mesmo estádio.

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Pelé comemora gols e encerra boatos de ida ao Botafogo
Pelé comemora gols e encerra boatos de ida ao Botafogo

Segundo jogo da semifinal e um baile do Santos de Pelé no Botafogo de Garrincha, que voltava de contusão. Quatro a zero, com atuação de gala e três gols de Pelé, eliminando o Botafogo na sua primeira participação na Libertadores e classificando o time da Vila para a final da Taça diante do Boca Juniors, da Argentina. O Rei estampou a capa dos jornais, paulistas e cariocas, comemorando os tentos feitos sobre o time em que cogitou, ao menos por dois dias, jogar. Ideia esquecida pela glória que veio, e que veria depois.

Antes da partida decisiva no lotado Maracanã, o Rei recebeu uma placa de apoio contra as vaias recebidas em São Paulo, oferecida por jornalistas cariocas. Durante os 90 minutos, foi aplaudido e ovacionado pelo Maracanã. De nada adiantou. Pelé seguiu sua história vitoriosa no Santos, se tornando, ainda naquele ano, artilheiro do Campeonato Paulista, campeão da Taça Libertadores e do Mundial, levando o Santos à vitória diante do Milan.

Tanta história que talvez tenha ajudado a esquecer esta pequena história: a de que Pelé quase foi parar no time de Garrincha.

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