O terceiro rebaixamento nos últimos 20 anos. Dívidas incontroláveis e cada vez mais incalculáveis. Torcida anestesiada com todo o desgoverno fora de campo que se reflete dentro dele. O Botafogo caminha, a passos largos, para cair no abismo em que já pularam clubes como Portuguesa e Guarani.
Para muitos, a solução do clube é virar empresa. É importante o debate, que vai e volta surge no mercado brasileiro e recentemente ganhou mais protagonismo por termos, no Congresso, deputados a favor de criação de lei facilitando a transformação de clubes em empresas.
Mas é preciso deixar clara uma condição importantíssima na história do clube-empresa e que o futebol não está pronto para debater.
VIRAR EMPRESA NÃO VAI TIRAR O TIME DO BURACO!!!
Desculpem as letras garrafais, mas é surreal as pessoas reduzirem a solução de um clube afundado em dívidas a sua transformação em empresa. Por que virar empresa não é solução? Oras, empresa quebra todos os dias no mundo. Ter um dono não significa, necessariamente, ser bem-sucedido.
No futebol, para piorar, confundimos o sucesso ou o fracasso do modelo empresarial de clubes ao desempenho esportivo. O exemplo da vez é o Colo-Colo. Há meia década, o time chileno foi apontado como exemplo de clube que virou empresa. O motivo? O time vinha bem na Libertadores. Nesta quarta-feira, o Colo-Colo jogava para permanecer na primeira divisão chilena, posto do qual nunca saiu em sua história (NR: O Colo-Colo se salvou do rebaixamento, ao vencer a Universidad de Concepción por 1 a 0 na repescagem). Teve até faixa de torcida ameaçando de morte os jogadores caso o rebaixamento aconteça. Fico pensando em qual empresa os funcionários seriam ameaçados de morte pelos consumidores após um lançamento ruim de produto e queda vertiginosa nas vendas…
O Colo-Colo é a prova de que achar que um clube virar empresa vai resolver sua vida não é verdade. Da mesma forma, achar que um rebaixamento prova que um clube não pode ser empresa é uma tremenda bobagem.
A solução para o Botafogo e a grandessíssima maioria dos times de futebol no Brasil não é se tornar empresa, mas assumir uma mentalidade empresarial em sua gestão. Por isso, entenda-se reduzir ao máximo a influência política nas tomadas de decisão.
Seria, basicamente, viver num mundo utópico em que o presidente não queira se consagrar quando estiver no cargo, mantendo os funcionários contratados pelo clube seguindo seu trabalho sem grandes solavancos.
Essa talvez seja a principal diferença do mundo empresarial para o mundo político. Quando mudamos a gestão pública, temos o péssimo hábito de trocar praticamente todos os funcionários e, ainda, a forma de pensar e atuar. Isso serve para a política e para o futebol, em que a troca de poder acontece no mesmo modus operandi de Brasília.
Obviamente que não cogitamos privatizar a presidência da República ou qualquer cargo público, mas dentro do universo do futebol a transformação do clube em empresa é um mecanismo plenamente viável.
O problema, porém, não se resolverá se essa empresa vier a tomar as mesmas decisões atabalhoadas e irresponsáveis que os atuais dirigentes esportivos tomam. Mais ainda, corre-se o risco de, numa gestão desastrosa, o clube falir e, aí sim, desaparecer do mapa, como acontece com qualquer empresa.
A solução para o futebol não é privatizar os clubes. É fazer com que os dirigentes entendam que, acima do sucesso esportivo, está o sucesso gerencial da instituição. O mundo esportivo e o corporativo comprovam isso: quando você está com a casa arrumada, os resultados naturalmente aparecem.