O botafoguense viveu 80 minutos de intensa agonia e desespero na noite desta quarta-feira, mas segue vivo o sonho da Libertadores.
Jair Ventura optou por escalar o time sem um homem de referência, baseando seu jogo em um futebol defensivo e compacto, apostando no contra-ataque pra conseguir um gol salvador.
No entanto, logo no início da partida, um gol contra fez crescer um desespero e uma insegurança monstruosos. Ali, naquele instante, despertamos do sonho em que vivemos desde a fantástica arrancada do Brasileirão 2016.
Ficamos sem chão. Mais pela necessidade de mudar todo o plano de jogo em que nos mostramos falhos até aqui do que propriamente por medo do Colo-Colo. Convenhamos: os caras têm um time mediano e bem arrumado, mas ganharam um gol de presente e não aproveitaram nem um pouco os nossos minutos de pane geral.
O jogo assentou, o Fogão tentou colocar a bola no chão e finalmente mostrar algum poder ofensivo – algo que não conseguimos há algum tempo. Mas um problema nítido e óbvio, até mesmo pela escalação inicial, começou a atrapalhar: sem um centroavante para segurar a bola e incomodar os zagueiros, jogávamos totalmente sem profundidade. Ou seja, as jogadas morriam ainda no meio-campo.
Todas as oportunidades perigosas da 1ª etapa foram em chutes de longe ou bolas paradas. Ainda assim, Jair insistia em não mudar a estrutura do time. Os volantes faziam uma partida ruim e Pimpão tentava se desdobrar sozinho diante de um Montillo apagado.
Eu, confesso, já pensava sobre todas as carências do elenco e erros de planejamento que precisamos ignorar até agora – afinal, ainda estava vivo o sonho da Libertadores. A preocupação ia além; já pensava se teríamos força para nova arrancada no Campeonato Brasileiro.
Nosso único atacante de área do elenco, o qual eu pedia desesperado desde o início do jogo, parecia não contar muito com a confiança de Jair. Convenhamos, ele ser a única opção do elenco é bem grave.
Embora longe de desistir – um botafoguense de verdade jamais se entrega -, eu começava a aceitar a eliminação. Pensava se o sonho estava acabando, se aquela maré boa que começou no segundo semestre do ano passado estava para terminar. Trinta e cinco minutos. Jair Ventura chama Roger. Esfrego os olhos, me ajeito na cadeira e apenas espero – de verdade, pareceu que algo dentro de mim já sabia o que estava para acontecer.
Não tardou. Na primeira bola ofensiva em que exploramos a presença de área do camisa 9, saiu o gol. O Colo-Colo sentou em cima de uma vantagem que não existia, confiou na ideia de que nosso time desistiria fácil. De fato, eles não conhecem o Botafogo. Falaram muito, jogaram pouco e permitiram que o Glorioso renascesse dentro de campo. Uma vitória que deve mexer com os brios e mudar o rumo de um time mediano, mas muito brigador. Estamos vivos.
Entre o sonho da Libertadores e a sobrevivência quando essa boa fase passar, seguimos amando e apoiando o Glorioso. A discussão sobre os erros do departamento de futebol na montagem do elenco precisa existir, mas vamos adiá-la mais um pouco. A América segue nos esperando.
Notas
Gatito: 6
Sem passar confiança, deu pequenos sustos. Felizmente, não teve chance de falhar.
Jonas: 4
Muito fraco. Perdeu várias disputas defensivas e se atrapalhou em quase todas as subidas ao ataque. Não pode ser titular.
Marcelo: 7,5
Mais uma ótima partida do nosso garoto. Marcou muito, cortou várias por cima e ainda teve muita disposição pra tentar ajudar de alguma forma nas subidas ao ataque.
Emerson Silva: 5,5
Seu gol contra quase comprometeu a classificação, mas não sentiu a falha e fez partida regular.
Victor Luis: 7,5
Excelente atuação. Seguro na defesa, sempre presente no ataque. Precisa apenas caprichar mais nas bolas paradas.
Airton: 6,5
Apesar de não ter repetido as atuações de gala de quase sempre, foi o mais lúcido do meio-campo. Não compreendi sua substituição, que abriu um buraco em nossa intermediária.
Rodrigo Lindoso: 4
Provavelmente a sua pior atuação com a camisa do Botafogo. Errou muitos passes, marcou mal e ainda perdeu boas chances no ataque.
Bruno Silva: 5,5
Muita disposição e só. Também não esteve em uma boa noite.
João Paulo: 4,5
Deslocado na esquerda, não foi bem tecnicamente. Poucas vezes vi um jogador errar tantos passes.
Montillo: 6
Sem ter com quem dialogar no meio e sem um atacante para tentar enfiadas de bola e cruzamentos, não rendeu muito.
Pimpão: 8,5
Certamente o melhor em campo. Marcou, armou, atacou e defendeu com muita intensidade. Todo o jogo do Botafogo hoje passa pelos seus pés. Foi coroado com o gol da classificação.
Guilherme: 6
Deu mais movimentação e velocidade, mas é o tipo de jogador que não consigo gostar: erra demais porque não pensa antes de executar. Ainda assim, teve estrela e participou do gol da classificação.
Roger: 7
Entrou e deu ao time o que faltava: presença de área, alguém pra disputar a bola, incomodar os zagueiros e dar profundidade ao time, fazendo com que a bola não bata e volte toda hora. Em sua primeira participação, fez o pivô, abriu o jogo na esquerda, correu pra área e desviou pro gol. No rebote, saiu a classificação. Não é um ótimo jogador, mas precisávamos de suas características.
Dudu Cearense: sem nota
Entrou pra amarrar o jogo e fechar a casinha. Sem tempo pra jogar.
Jair Ventura: 5
Hoje, deu sorte. Seu plano inicial de jogo não deu certo e foi por água abaixo com o gol sofrido no início. Demorou demais pra mexer e, quando o fez, mandou mal. Tirou Airton, abrindo um buraco em nossa intermediária, e colocou Guilherme, que não dava a profundidade necessária. Quando desistiu da teimosia, colocou Roger e, faltando 10 minutos pro fim, conseguiu o gol da vaga. Que isso sirva como aprendizado. É melhor errar quando se vence.
Torcida do Botafogo: 10
Mereceu menção honrosa a galera que compareceu ao Chile. Fez barulho, incomodou e incentivou o time à classificação mesmo fora do país. Parabéns aos nossos guerreiros. Voltem prontos pra nova batalha, dessa vez no Niltão!